A Animação dos Membros Artificiais pelos Membros Fantasma

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Membros Artificiais
Membros Artificiais

Os fantasmas que surgem quando se cortam ou anestesiam os nervos, da mesma maneira que podem separar-se de um membro de carne e osso e a seguir voltar a fundir-se com ele, também se podem fundir com membros artificiais. Com efeito, desempenham um papel muito importante na adaptação das pessoas aos dispositivos mecânicos de substituição de partes perdidas (na terminologia médica chama-se-lhes “próteses”). Como disse um investigador: “O fantasma funciona no comando e avaliação dos movimentos do membro artificial. A princípio independentes, os dois juntam-se, alcançam a coincidência espacial e o apêndice inerte é animado pelo fantasma vivo.” Ou como diz outro, mais lacónico: “normalmente, o fantasma encaixa na prótese como uma mão encaixa numa luva”.

Em amputados que não usam membros artificiais, existe a tendência para o encolhimento do fantasma. Mas o uso de próteses contraria esse encolhimento, podendo mesmo levar um fantasma encolhido a voltar a crescer. O exemplo que se segue é de Weir Mitchell, o cirurgião da Guerra Civil Americana, que foi o primeiro a introduzir o termo “fantasma” na bibliografia médica:

“Em cerca de um terço dos casos de amputação de pernas, e em metade dos casos de amputação de braços, o paciente afirma que sente o pé ou a mão, conforme o caso, mais próximo do tronco do que a extremidade do outro membro… Por vezes continua a aproximar-se do tronco até tocar no coto, ou dá a sensação de estar dentro dele – o espectro dentro da substância… Pois bem, podemos imaginar que se, por razões motoras, substituirmos o membro perdido por um artificial que não tem sensibilidade, depressa o sentido da visão passará a referir, na nossa consciência, a mão ou o pé na sua antiga posição. É exactamente isto que descrevem como tendo acontecido duas pessoas observadoras e perspicazes que perderam pernas. Uma delas, que por razões profissionais vê, por ano, centenas de amputados, garante-me que esta experiência é frequente. Perdeu a perna quando tinha onze anos, e lembra-se de que o pé se foi aproximando gradualmente, até chegar ao joelho. Quando começou a usar uma perna artificial, o pé voltou, com o tempo, à sua antiga posição, e hoje nunca tem a sensação de que a perna esteja mais curta, a não ser quando, por qualquer razão, fala e pensa no coto e na perna perdida.

As pessoas que usam membros artificiais costumam tirá-los quando vão para a cama, e nessa altura o fantasma pode doer muito. William Warner, veterano americano que em 1944, em Itália, perdeu a perna direita logo cima do joelho, faz a seguinte descrição:

“Há alturas em que me dói tanto que não consigo dormir. Já fui a vários médicos, mas eles pouco podem fazer. Às vezes, durante a noite, levanto-me, ponho a perna e dou uns passos, o que ajuda alguma coisa. Mal a tiro, volta tudo ao mesmo.”

Oliver Sacks descreveu um caso idêntico em que o amputado pensava explicitamente no fantasma, de duas maneiras diferentes: o fantasma bom que lhe animava a prótese e lhe permitia andar, e o fantasma mau que lhe causava dores quando ele, de noite, não tinha a prótese posta. Sacks comenta. “Com este paciente, com todos os pacientes, o mais importante não será o hábito, para expulsar um fantasma ‘mau’ (ou passivo, ou patológico), se ele existe; e para manter o fantasma ‘bom’… vivo, activo e em boa forma?”

Fonte: LIVRO: «7 Experiências que podem mudar o Mundo» de Rupert Sheldrake

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