Sexta-feira passada, 27 de Janeiro, o US Bureau of Economic Analysis anunciou sua estimativa antecipada de que no último trimestre de 2011 a economia cresceu a uma taxa anualizada de 2,8% em termos ajustados à inflação real, um aumento em relação à taxa de crescimento anualizada do terceiro trimestre.
Boa notícia, não é?
Errado. Se quiser saber o que realmente está a acontecer deve voltar-se para John Williams em www.shadowstats.com.
O que a imprensa prostituída não nos conta é que quase todo o ganho no crescimento do PIB foi devido à “acumulação involuntária de stocks“, ou seja, foram produzidos mais bens do que vendidos.
Descontados os bens não vendidos, a taxa anualizada de crescimento real foi oito décimos de um por cento.
E mesmo essa minúscula taxa de crescimento é um exagero, porque está deflacionada com um padrão de medida da inflação que a subestima. A medição da inflação do governo estado-unidense já não mede um padrão de vida constante. Ao invés disso, a medida de inflação do governo repousa sobre a substituição dos bens mais baratos por aqueles que aumentam de preço. Por outras palavras, o governo mantém baixa a medida através da mensuração de um padrão de vida em declínio. Isto permite aos governantes divergirem ajustamentos do custo de vida que deveriam ser pagos a beneficiários da Segurança Social para guerras de agressão, estado policial e salvamentos de banqueiros.
Quando a metodologia que mede um padrão de vida constante é utilizada para deflacionar o PIB nominal, o resultado é uma contracção da economia norte-americana. Isso torna claro que a economia dos EUA não teve recuperação e tem estado em recessão profunda durante quatro anos apesar da proclamação do National Bureau of Economic Research de uma recuperação baseada nos números oficiais manipulados.
Um governo pode sempre produzir a ilusão de crescimento económico através da subestimação da taxa de inflação. Não há dúvida de que uma medida de inflação com base nessa substituição subestima a inflação que o povo experiência. Mais provas de que não tem havido recuperação económica estão disponíveis naquela série de dados não afectados pela inflação. Se a economia estivesse de facto a recuperar, estas séries de dados estariam a subir. Ao invés disso, elas estão estáveis ou em declínio, como demonstra John Williams.
Por exemplo: segundo os próprios dados do governo, os empregados em folha de pagamento no mês de Dezembro de 2011 são menos do que em 2011. Entretanto, houve uma década de crescimento populacional. A imprensa chama à alegada recuperação económica uma “recuperação sem emprego”, o que é uma contradição em termos. Não pode haver recuperação sem um crescimento no emprego e no rendimento do consumidor.
Os ganhos reais médios por semana (deflacionados pelo CPI-W do governo) nunca se recuperaram desde o seu pico em 1973. A média do rendimento familiar real (deflacionada pelo CPI-U do governo) nunca recuperou o seu pico de 2001 e está abaixo do nível de 1969. Se os rendimentos fossem deflacionados pela sua metodologia original ao invés da nova metodologia baseada na substituição, o quadro seria muito mais negro.
A confiança do consumidor não mostra recuperação e está muito abaixo do nível de uma década atrás. Como é que uma economia se recupera sem uma recuperação da confiança do consumidor?
O arranque na construção de casas tem permanecido estagnado desde 2009 e está abaixo do seu pico anterior.
As vendas a retalho estão abaixo do nível de Janeiro de 2000.
A produção industrial permanece abaixo do nível de Janeiro de 2000.
Para repetir: o único indicador de recuperação económica é o PIB deflacionado com uma medida de inflação subestimada.
A economia dos EUA não pode recuperar, porque depende das despesas de consumidor para mais de 70% da sua actividade. A deslocalização de empregos da classe média travou a subida do seu rendimento e provocou uma queda no poder de gastos do consumidor.
A Reserva Federal sob Alan Greenspan compensava a falta de crescimento do rendimento do consumidor norte-americano por uma política de crédito fácil e uma política de elevação dos preços das casas com baixas taxas de juros. Esta política permitiu ao povo refinanciar seus lares e gastar a situação líquida inflacionada que a política de Greenspan havia criado.
Por outras palavras, um aumento no endividamento do consumidor e des-poupanças conduziu a economia ao invés de colmatar a falha de crescimento dos rendimentos dos consumidores.
Hoje, os consumidores estão demasiado endividados para contrair empréstimos e os bancos demasiado insolventes para emprestar. Portanto, não há possibilidade de nova expansão da dívida como substitutivo do crescimento do rendimento real. Uma economia deslocalizada é uma economia morta e exaurida.
As consequências de uma economia morta quando o governo está a desperdiçar milhões de milhões de dólares em guerras de agressão descarada e em salvamentos de instituições financeiras fraudulentas é um orçamento de governo que só pode ser financiado através da impressão de dinheiro.
A consequência de imprimir dinheiro quando os empregos foram deslocalizados é uma depressão inflacionária. Esta catástrofe pode começar a desdobrar-se este ano ou em 2013. Se os problemas da Europa piorarem, a fuga para o dólar poderia adiar subidas na inflação norte-americana até 2014.
O imperador não tem roupas. Mais cedo ou mais tarde isto será reconhecido.
Por: Paul Craig Roberts, Director do Institute for Political Economy, http://www.paulcraigroberts.org/
31 de Janeiro de 2012
Artigo Original: http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=29000