«Isto é algo de novo na Humanidade. Uma mulher ser o maior profeta que este mundo alguma vez viu nascer.»
– Joanna Southcott, descrevendo a sua própria missão.
O ano de 1792 foi difícil para a Grã-Bretanha: do outro lado do Canal da Mancha, a Revolução Francesa não trouxera a esperada Idade da Razão; ao invés, estava a mergulhar nos horrores da época do Terror. Todas as formas de vidas aceites pareciam ameaçadas e reinava uma crescente sensação de que a guerra com a França era inevitável.
Nesse ano, na cidade inglesa de Exeter, uma empregada doméstica de 42 anos começou a ter visões. Filha solteira de um camponês pobre, Joanna Southcott tivera pouca instrução e levara, até então, uma vida em nada notável. Contudo, os seus sonhos passaram a ser ominosos e repletos de sentido. «Certa noite, sonhei que vi uns homens no ar que se lançaram nos cavalos sobre a terra», escreveu. «Os cavalos lutavam com fúria e os homens lutavam com fúria e assustaram-me de tal forma que acordei e achei que os Franceses chegariam.»
Durante os anos que se seguiram, Joanna teve muitas mais visões e, a pouco e pouco, ganhou fama local de vidente; consta-se que augurou más colheitas para os anos de 1799 e 1800 e que previu correctamente o afastamento de um bispo de Exeter. Na sua própria perspectiva, era uma nova profeta bíblica, recebendo mensagens de uma luz que apelidava simplesmente de «o Espírito». Ao ler a Bíblia, identificou-se com a «Mulher vestida de Sol» descrita no Livro do Apocalipse, capítulo 12, a inimiga de Satanás cujo aparecimento anunciou a guerra no céu.
Os seguidores de Joanna
Em 1801, Joanna Southcott publicou um folheto das suas profecias por conta própria. Os relatos depressa começaram a atrair seguidores por todo o país. Recebeu apoio de pessoas ricas que a levaram a Londres no ano seguinte e alugaram uma capela onde poderia espalhar a sua mensagem. Os que compareciam recebiam papéis próprios que lhes garantiam estar entre os eleitos. Quando se espalhou o boato de que os «marcados» – nome pelo qual os possuidores das cartas ficaram conhecidos – teriam uma maior hipótese de sobrevivência caso as forças militares revolucionárias de Napoleão invadissem a Inglaterra, como era iminentemente temido, estabeleceu-se um mercado negro de venda das cartas.
Joanna Southcott viu o número de seguidores aumentar durante o período das guerras napoleónicas, sobretudo entre as classes mais pobres, embora também atraísse alguns financiadores abastados e instruídos. Em pouco tempo, havia grupos defensores de Joanna espalhados por toda a Inglaterra, devorando os mais de 60 livros e folhetos por ela escritos, aparentemente sob a inspiração d’«o Espírito». Estes proclamavam com insistência a chegada iminente de uma nova era: «Cremos que haverá um novo céu, como dito pelo Espírito, e uma nova Terra, onde prevalecerá a retidão.»
Contudo, por volta de 1814, os exércitos de Napoleão tinham sido quase derrotados e o apoio a Joanna Southcott começava a escassear. Foi, então, que desferiu o seu golpe mais audacioso. Aos 64 anos, tal como a «Mulher vestida de Sol», ficou grávida. O filho, que se chamaria Shiloh, seria um novo messias, governando todas as nações com mão de ferro.
A notícia de uma gravidez imaculada conquistou a imaginação popular e, com a aproximação da data prevista do nascimento, passaram a aglomerar-se autênticas multidões todas as noites em frente à casa onde estava Joanna. Ela apresentava todos os sinais de gravidez e consta que dezassete dos vinte e um médicos consultados confirmaram que estava, de facto, à esperar de um filho. Porém, não nasceu qualquer bebé; ao invés, a própria saúde de Joanna começou a deteriorar-se. Dois meses após a data prevista para o parto, acabou por exalar o último fôlego. Uma autópsia posterior não revelou quaisquer indícios óbvios de doença. Talvez Joanna tenha perdido simplesmente a fé na sua própria missão e, com isso, a vontade de viver.
O interesse popular nas revelações de Joanna Southcott desvaneceu rapidamente depois da sua morte, mas os seguidores incondicionais mantiveram a fé. Em meados do Século XIX, o número de grupos escoceses activos ascendia às dezenas. Mesmo no Século XX, algumas pessoas recusavam-se a acreditar que Joanna tivesse, de facto, morrido; insistiam, pelo contrário, que fora levada como que por encanto para um lugar deserto para a sua própria segurança, tal como a «Mulher vestida de Sol» no Livro do Apocalipse, «onde ia ser alimentada durante três anos e meio, longe da Serpente».
Um legado decepcionante
O principal legado de Joanna Southcott foi uma caixa fechada, supostamente contendo profecias de importância vital para o futuro da Inglaterra, que apenas deveria ser aberta na presença de 24 bispos. Estes, porém, recusaram-se a cumprir o pedido e a suposta caixa genuína acabou nas mãos de Harry Price, o mais conhecido caçador de fantasmas da Grã-Bretanha, para ser aberta em Westminster Hall, Londres, em Junho de 1927. A caixa continha somente alguns folhetos sobre Profecia, moedas e outros objetos de pouco valor e, ainda, um romance intitulado «The Surprises of Love», de John Cleland, autor de Fanny Hill.
Fonte: Livro «As Profecias que Abalaram o Mundo» de Tony Allan