Alguns investigadores viram indícios da utilização de electricidade na antiguidade nalgumas inscrições em paredes no Egipto ou em textos antigos. Apesar de estas afirmações geralmente carecerem de provas físicas, existe um artefacto antigo, em particular, que alguns cientistas acreditam ser um exemplar de uma fonte de energia. Apesar da sua aparência simples, este pequeno frasco sem decorações pode mudar a visão prevalecente das descobertas científicas.
O objecto que se pensa tratar de uma pilha eléctrica com dois mil anos foi encontrado em 1936 por trabalhadores que faziam uma terraplanagem para os caminhos-de-ferro perto de Khujut Rabu, a sudeste de Bagdad. A pilha parece ter sido desenterrada de um túmulo do período partiano (247 a. C.–228 d. C.). Quando foi encontrada consistia num frasco oval com treze centímetros feito de barro amarelo-claro, e dentro deste encontravam-se uma folha de cobre enrolada, uma vara de ferro e alguns fragmentos de asfalto. O asfalto fora utilizado para selar o topo e o fundo do cilindro de cobre, bem como para segurar a barra de ferro no centro do cilindro. A utilização da calafetagem com asfalto indicava que o objecto contivera outrora algum tipo de líquido, como é sugerido pelos indícios de corrosão no tubo de cobre, que foi provavelmente provocada por um agente ácido, talvez vinagre ou vinho. Foram encontrados artefactos semelhantes nas cidades próximas de Selêucida (onde o frasco continha rolos de papiro) e Ctesifon (onde continha folhas de bronze enroladas).
Em 1938, o arqueólogo alemão Wilhelm König, que era então director do laboratório do Museu de Bagdad, encontrou o estranho objecto, ou uma série de objectos (os relatos divergem), numa caixa na cave do museu. Depois de um exame cuidadoso, percebeu que o artefacto era muito semelhante a uma célula galvânica, ou a uma pilha eléctrica moderna. König publicou de seguida um artigo em que sugeria que o objecto era uma pilha antiga, possivelmente utilizada para revestir por electrólise objectos de metais comuns com ouro ou prata. Também apresentou a teoria de que várias pilhas poderiam ter sido ligadas entre si em série para se obter uma corrente mais elevada. A data mais conservadora para a pilha aponta para entre 250 a. C. e 640 d. C., mas a primeira pilha eléctrica conhecida, a pilha voltaica, só foi inventada pelo físico italiano Alessandro Volta em 1800. Se esta era mesmo uma pilha antiga, então onde foram os antigos Partianos buscar os conhecimentos para a montarem e como funcionava? Depois de ler o artigo de König, Willard F. M. Gray, um engenheiro do Laboratório de Alta Voltagem da General Electric em Pittsfield, Massachusetts, decidiu construir e testar uma réplica da pilha antiga. Quando encheu o frasco de barro com sumo de uva, vinagre ou uma solução de sulfato de cobre, descobriu que a pilha gerava entre 1,5 e dois volts de electricidade.
Em 1978, o egiptólogo Dr. Arne Eggebrecht, à época director do Museu Roemer e Pelizaeus em Hildesheim, na Alemanha, construiu uma réplica da Pilha de Bagdad e encheu-a com sumo de uva. Esta réplica gerou uma corrente de 0,87 volts, que utilizou para revestir uma estatueta de prata com ouro; a camada de ouro depositada tinha apenas dez mil avos de milímetro de espessura. Como resultado desta experiência, Eggebrecht especulou que muitos itens antigos no seu museu, presumivelmente feitos de ouro, podiam ser na verdade objectos de prata revestidos a ouro. Foram feitas mais réplicas do artefacto de Bagdad em 1999, por estudantes sob a supervisão da Dr.a Marjorie Senechal, professora de Matemática e de História da Ciência no Smith College no estado de Massachusetts. Os estudantes encheram uma réplica com vinagre e esta produziu 1,1 volts. Podemos concluir através destas experiências que a Bateria de Bagdad era obviamente capaz de produzir uma pequena corrente, mas qual teria sido a sua utilidade?
A teoria mais popular é a que teve origem em König, que afirmara que, ao ligar várias destas células em conjunto, a corrente gerada teria sido suficiente para revestir metais por electrólise. König descobriu jarros sumérios de cobre revestidos de prata, que datavam de 2500 a. C., e especulou que estes teriam sido revestidos utilizando baterias semelhantes àquela que foi descoberta em Khujut Rabu, apesar de nunca terem sido descobertos indícios de baterias sumérias. König sublinhou o facto de que os artífices iraquianos modernos ainda utilizam uma técnica de electrólise primitiva para revestirem jóias de cobre com uma fina camada de prata. Ele pensou que seria possível que o método já fosse utilizado no período partiano e tivesse sido transmitido de geração em geração ao longo dos anos.
De uma forma ligeiramente diferente, esta técnica é ainda hoje utilizada para aplicar uma camada de ouro ou prata a uma peça de joalharia.
Outra teoria relacionada com estas pilhas é que a sua corrente eléctrica teria fins medicinais. Textos antigos gregos e romanos indicam que houve um conhecimento bastante sofisticado acerca da electricidade no mundo antigo. Os Gregos mencionaram como a dor podia ser tratada aplicando peixes eléctricos nos pés; os pacientes tinham de pisar uma enguia eléctrica até que o pé inflamado ficasse dormente. As raias eléctricas e os peixes-torpedo possuem dois órgãos eléctricos atrás dos olhos, que produzem uma descarga entre cinquenta e duzentos volts a cinquenta amperes, que usam como arma para paralisar pequenas presas que nadem por cima delas. O escritor romano Claudiano descreveu como um peixe-torpedo foi apanhado num anzol de bronze e emitiu uma descarga que se espalhou pela água e pela linha dando um choque ao pescador. Há registos de médicos romanos que amarravam um par destas raias eléctricas às têmporas dos seus pacientes para tratar várias doenças, da gota às enxaquecas. Os médicos babilónios também eram conhecidos por utilizarem peixes eléctricos como anestesia local. Os Gregos da antiguidade também descobriram um dos primeiros exemplos de electricidade estática; quando esfregaram âmbar (em grego electron) com uma pele, descobriram que o âmbar conseguia depois atrair penas, partículas de pó e pedaços de palha. Contudo, apesar de os Gregos terem reparado neste estranho efeito, não faziam ideia do que o causava e provavelmente observavam-no como uma mera curiosidade. Mas nem todos estão convencidos da eficácia do uso da pilha para o tratamento da dor.
O principal problema da teoria do uso medicinal é a baixa voltagem produzida pela pilha, que alguns duvidam que pudesse ter qualquer efeito notório em algo mais do que uma dor muito ligeira. Contudo, se uma série destas pilhas fosse ligada em conjunto poderia ser gerada corrente suficiente. Foi sugerida ainda outra utilidade medicinal para a Bateria de Bagdad por Paul T. Keyser, da Universidade de Alberta, no Canadá. Baseado na descoberta de agulhas de bronze e de ferro em conjunto com outros artefactos semelhantes em Selêucia, perto da Babilónia, esse postulou num artigo, em 1993, que essas agulhas poderiam ter sido utilizadas para uma espécie de electro-acupunctura, um tratamento que já era comum na China dessa época.
Alguns investigadores são a favor de uma utilização ritual para a Pilha de Bagdad. O Dr. Paul Craddock, um perito em história metalúrgica do Departamento de Investigação Científica do Museu Britânico, propôs que um conjunto destas células ligadas em série poderia ser escondido no interior de uma estátua metálica. Os adoradores que entrassem em contacto com o ídolo receberiam um pequeno choque eléctrico, semelhante a uma descarga estática, possivelmente quando dessem a resposta errada a uma questão colocada pelo sacerdote. Talvez este misterioso efeito de dormência pudesse ser visto pelos crentes como um indício de magia, pelo que o poder e a mística de um sacerdote ou templo em particular poderiam ser empolados. Infelizmente, a menos que tais estátuas sejam descobertas, uma utilização ritual destas células não é mais do que outra teoria fascinante.
Apesar dos vários testes efectuados com réplicas da Pilha de Bagdad, os cépticos argumentam que não existem quaisquer provas de que alguma vez tenham funcionado como pilhas eléctricas. Fazem também notar que o povo da antiguidade que foi supostamente responsável por esta Tecnologia, os Partianos, era conhecido como grande guerreiro e não pelos seus feitos científicos. Os cépticos também apontam para o facto de que, apesar de termos registos históricos exaustivos sobre esta região e este período, não existem referências ligadas à electricidade onde quer que seja. Também não existem achados arqueológicos do período partiano que se possa provar que foram revestidos por electrólise, nem indícios de fios, condutores ou exemplos mais completos de baterias antigas. Alguns investigadores também refutaram os resultados das experiências feitas com réplicas da bateria, reclamando que não foram capazes de reproduzir os resultados. As experiências do Dr. Arne Eggebrecht em particular foram duramente atacadas. De acordo com a Dr.a Bettina Schmitz, uma investigadora do Museu Roemer e Pelizaeus (a mesma instituição onde Eggebrecht fez as suas experiências em 1978), não existem fotografias ou Documentos escritos das experiências efectuadas por Eggebrecht.
Uma explicação alternativa para o artefacto, favorecida pelos cépticos em relação à teoria da pilha eléctrica, é que os frascos eram utilizados como recipientes para pergaminhos sagrados, talvez contendo rituais de algum tipo escritos num material orgânico como pergaminho ou papiro. Se esses materiais orgânicos apodrecessem, reclamam os cépticos, deixariam resíduos ligeiramente ácidos, o que explicaria a corrosão do cilindro de cobre. Acreditam também que um selo de asfalto como o da Pilha de Bagdad não seria muito prático para uma célula galvânica, mas seria perfeito como selo hermético para armazenamento de longa duração.
Não há dúvida de que as Pilhas de Bagdad seriam pouco eficientes quando comparadas com aparelhos modernos, mesmo que várias fossem ligadas em conjunto. Mas permanece a evidência de que o artefacto funciona mesmo como uma célula eléctrica. O mais provável é que, tal como os Gregos em relação ao âmbar, os inventores deste objecto não compreendessem com exactidão o princípio envolvido. Mas isso não é incomum. Muitas inovações, como a pólvora e as ervas medicinais, foram desenvolvidas e utilizadas muito antes de os seus fundamentos serem bem compreendidos. Contudo, mesmo que um dia seja provado que o artefacto de Bagdad era uma pilha eléctrica antiga, isso não provaria que alguém compreendesse o fenómeno da electricidade há dois mil anos. A questão que agora permanece é se a Pilha de Bagdad foi um achado isolado. Será que os seus fabricantes foram as únicas pessoas da antiguidade a descobrir – provavelmente por acidente – a electricidade? Obviamente que existe a necessidade de mais indícios, tanto literários como arqueológicos, porque com base nos conhecimentos actuais é provável que a bateria seja um achado único. Tragicamente, em 2003, durante a invasão do Iraque, a Pilha de Bagdad foi pilhada do Museu Nacional juntamente com milhares de outros artefactos antigos de valor inestimável. O seu paradeiro actual é desconhecido.