A primeira mulher a ser criada foi Lilith e não Eva

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Adão e Eva e... Lilith
Adão e Eva e... Lilith

Talvez passe despercebido a muitos, mas no livro de Génesis, o primeiro livro da bíblia, logo na sua parte inicial, se a analisarmos com atenção, apercebemo-nos de que Deus criou não uma, mas duas mulheres.

Com efeito, em Génesis 1:26-27 está escrito:

“… Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.’ […] E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher.”

Como podemos constatar neste trecho bíblico, Quando Deus criou Adão, ele fê-lo com os dois sexos, ou seja, foi criado com a plenitude dos sexos, feminino e masculino, sendo que estes depois foram separados, criando a necessidade de união entre os dois para se completarem. Homem e mulher foram criados concomitantemente.

Depois, a história prossegue, e no segundo capítulo, Deus plantou um jardim no Éden no Oriente, onde colocou o homem, impondo-lhe a condição única para sua existência: não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Deste modo, para que o homem vivesse em harmonia e em paz, deveria subordinar-se a Deus e obedecer a esta condição. Em seguida, Deus disse: “Não é bom que o homem esteja sozinho. Vou fazer para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante.” (Génesis 2:18).

“Então Javé Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou então uma costela do homem e no lugar fez crescer carne. Depois, da costela que tinha tirado do homem, modelou uma mulher e mostrou-a para o homem.” (Génesis 2:21-22). Deus cria a mulher a partir da costela, criada do lado, para ser sua companheira. Quando o homem a viu, exclamou: “Essa sim é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque foi tirada do homem!” (Génesis 2:23).

Consuma-se então a criação da segunda mulher, que é baptizada com o nome de Eva.

A Bíblia sofreu várias alterações, cortes e adendas, conforme a necessidade de confirmar o dogma vigente ou o que se pretendesse autorizar, mas através de escritos hebraicos antigos conseguimos saber que o nome da primeira mulher era Lilith, e não Eva, como comummente se pensa. A segunda mulher, aquela que supostamente foi criada através de uma costela de Adão, essa sim, chamou-se Eva.

Lilith
Lilith

Lilith é referida na Cabala como a primeira mulher do bíblico Adão, sendo que numa passagem (Patai81:455f) ela é acusada de ser a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido. No folclore popular hebreu medieval, ela é tida como a primeira esposa de Adão, que o abandonou, partindo do Jardim do Éden por causa de uma disputa sobre igualdade dos sexos, chegando depois a ser descrita como um demônio.

Segundo o Zohar, o “Livro do Esplendor“, uma obra cabalística do Séc.XIII, que constitui o mais influente texto hassídico e segundo o Talmud, o livro dos hebreus, Eva não foi a primeira mulher de Adão. Quando Deus criou Adão, ele fe-lo com dois sexos, depois dividiu-o ao meio, e baptizou a metade feminina como Lilith e deu-a como companheira a Adão. Mas Lilith revoltou-se, não queria ser sujeita a Adão. Lilith queria liberdade de agir, de escolher e decidir, queria os mesmos direitos do homem mas quando constatou que não poderia obter um estatuto igual, revoltou-se e não se submeteu a Adão.

Terá sido Lilith a precursora dos movimentos feministas?

Na modernidade, tornou-se popular a noção de que Lilith foi a primeira mulher a revoltar-se contra o sistema patriarcal.

Assim dizia Lilith: “Por que devo deitar-me em baixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.” Quando reclamou de sua condição a Deus, ele retrucou que essa era a ordem natural, o domínio do homem sobre a mulher, sendo que dessa forma, ela abandonou o Éden.

E o que é certo é que ela foi constituída anátema pela generalidade das obras religiosas, que são praticamente todas machistas, sendo conotada como demónio, afirmando-se que foi ela, em forma de serpente, que induziu Adão e Eva ao pecado, por comer o fruto da árvore do conhecimento, entre outras coisas, tais como ser a responsável ou a mãe dos tão propalados demónios da idade média: os Incubus e os Sucubus.

O povo hebraico esteve em cativeiro na Babilônia durante muito tempo, onde Lilith era a personificação de um demónio feminino da noite, pelo que pode ter sido essa a influência que motivou a sua aparição na Bíblia com conotações pouco abonatórias.

No entanto, após os hebreus terem deixado a Babilônia, Lilith perdeu aos poucos a sua representatividade e foi eliminada do velho testamento.

É estranho que esta incongruência, este aspecto anacrónico que figura logo na parte inicial da Bíblia, que é o facto de aparecer a descrição da criação de duas mulheres ligadas a Adão, uma algum (aparentemente não muito) tempo após a outra, não ser algo muito notado, não muito evidenciado em alguns (ou muitos) circulos religiosos.

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