Exótica e misteriosa, a rainha de Sabá é famosa pela história bíblica do seu célebre encontro com o rei Salomão. Ela é também celebrada no mundo islâmico como uma poderosa rainha chamada Balqis ou Bilqis, ou então Makeda na tradição etíope.
Nos anais da História antiga, talvez apenas Cleópatra tenha atingido maior fama como uma poderosa governante feminina, no entanto ainda tão pouco se sabe sobre a enigmática rainha de Sabá que os arqueólogos e os historiadores nem têm a certeza se ela chegou a existir. Contudo, descobertas arqueológicas recentes estão a começar a lançar um pouco de luz sobre a possível identidade desta intrigante figura. A rainha de Sabá é mencionada na Bíblia, no Livro dos Reis, simplesmente como «Rainha do Oriente». Não são fornecidos quaisquer outros pormenores sobre a sua origem. O texto descreve como a rainha, tendo ouvido a fama de Salomão, viajou do seu país à frente de uma caravana carregada de especiarias, grandes quantidades de ouro e pedras preciosas para visitar o grande rei em Jerusalém. De acordo com o relato bíblico, a sua intenção era testar a célebre sabedoria de Salomão com perguntas difíceis. Depois de se encontrar com o grande rei, ela fica impressionada com a sua sabedoria e com a grandeza da sua corte real, presenteando-o com ricas oferendas. Por sua vez, Salomão oferece-lhe grandes tesouros e «tudo o que ela desejou», após o que ela regressou ao seu país. Esta é, em essência, a história de Salomão e da rainha de Sabá.
Apesar de não voltarmos a ouvir falar da grande rainha na Bíblia, em tempos pós-bíblicos as lendas judaicas e muçulmanas elaboradas sobre a narrativa básica também lhe adicionaram novos elementos, muitas vezes fantásticos. De acordo com o historiador judeu Josefo, que escreveu no Século I d. C., Sabá era a rainha do Egipto e da Etiópia. O folclore árabe e o Corão fornecem mais histórias imaginárias que envolvem a rainha de Sabá. A narrativa do Corão fala de Salomão ouvindo notícias de um pássaro sobre um reino abastado governado por uma rainha, cujos súbditos adoram o Sol. Salomão envia à rainha uma mensagem através do pássaro, para que ela o visite e lhe preste homenagem, ameaçando aniquilar o seu reino se ela recusar. Sabá concorda em visitá-lo e é convertida por Salomão à adoração do único verdadeiro Deus.
A questão que intrigou os investigadores durante séculos é se existe alguma verdade histórica por trás destas lendas. O problema principal é o pouco que se sabe sobre a rainha de Sabá. Não parece existir provas independentes para a sua existência fora da Bíblia e os registos históricos nada dizem sobre a grande rainha. Contudo, ela tornou-se numa figura tão marcante para tantas culturas que é difícil imaginar que a sua lenda seja pura fantasia. A Arqueologia moderna conjecturou que, se Sabá existiu como figura histórica, então o antigo território de Sabá que ela governou teria de se situar no reino de Axum, na Abissínia (a actual Etiópia), ou no território de Sabá (no Iémen). Talvez até em ambos, pois entre eles apenas se encontra um estreito do mar Vermelho com vinte e cinco quilómetros. A base para este pressuposto é que, quando ela visitou Salomão, os presentes que transportava incluíam incenso, que apenas cresce nestas duas regiões, e em Omã. Uma data à volta de 950 a. C. para o seu reinado é alvo de um consenso generalizado.
Mas existe alguma prova de que Sabá e Axum possam ter sido o abastado reino governado por uma rainha exótica descrito na Bíblia? Existem indícios de um mercado de perfumes e incenso no Médio Oriente e no Egipto, que remonta pelo menos até ao terceiro milénio antes de Cristo. O reino de Sabá era uma próspera nação comercial, que controlava as rotas das caravanas que transportavam incenso e especiarias através do deserto para perfumarem os templos do Mediterrâneo e mais além. A cidade capital de Sabá chamava-se Marib e fora construída no extremo do deserto do Sul da Arábia, no delta seco de Wadi Adana. Nesta zona árida, os habitantes de Sabá precisavam de água. Em consequência, algures entre 750 a. C. e 600 a. C. começaram a construção de uma barragem para armazenar as monções periódicas que caíam nas montanhas próximas, para irrigarem o solo ressequido à volta da cidade e tornar possível o cultivo.
Em 2002, um realizador de Documentários sedeado em Los Angeles chamado Nicholas Clapp, que também é fotógrafo e arqueólogo amador, publicou «Atravessando o Deserto em Busca da Lendária Rainha de Sabá». Clapp propôs que a rainha de Sabá era a famosa rainha iemenita Bilqis, a governante do reino de Sabá, provavelmente o mais próspero e influente dos cinco antigos Estados do Sul da Arábia. Clapp também sugeriu que, em contraste com a descrição bíblica, Sabá era de facto uma governante muito mais poderosa do que Salomão, que ele vê mais como um chefe local do que como um rei poderoso. De acordo com Clapp, a razão que levou à longa jornada de Bilqis e da sua comitiva até Jerusalém foi a participação em importantes negociações comerciais, que se centravam especialmente no acordo sobre rotas que passavam por territórios controlados por Salomão e que facilitariam o comércio de especiarias e incenso a longas distâncias. De facto, a embaixada de Sabá em Israel (tal como descrita na Bíblia) pode ter sido uma memória distorcida de uma das primeiras grandes missões comerciais de sempre.
Bilqis é também o nome dado a um templo recentemente escavado, que se situa a quinze quilómetros das ruínas da capital de Sabá, Marib. O Mahran Bilqis, ou Templo do Deus da Lua, foi, de acordo com o director do projecto, o Dr. Bill Glanzman, professor de Arqueologia na Universidade de Calgary, um local sagrado para peregrinos de toda a Arábia entre 1200 a. C. e 500 d. C. Este enorme templo oval tem uma circunferência com cerca de duzentos e setenta e cinco metros, apesar de grande parte do antigo monumento estar enterrado sob a areia do deserto. Entre os achados provenientes deste sítio encontram-se estátuas de bronze e de alabastro, bem como grandes quantidades de ossos de animais, que indicam que o templo era utilizado para o sacrifício de animais. Com efeito, existem provas escritas em textos assírios dos Séculos VII e VIII a. C. em que reis com os nomes de Itamru e Karibilu foram governantes do reino de Sabá. Estes reis são mencionados em associação com tributos ou presentes de Sabá, entre os quais incenso e pedras preciosas, reminiscentes dos presentes da rainha de Sabá para o rei Salomão. Contudo, estas referências são acerca de reis e não rainhas; não há qualquer menção específica a uma rainha de Sabá nestes textos. Também não se encontrou qualquer alusão a uma rainha nas muitas inscrições encontradas em Sabá, como as do templo de Mahram Bilqis. Outra dificuldade que surge em colocar a origem da rainha bíblica em Sabá no Século X a. C. é que o reino de Sabá aparentemente não estava completamente desenvolvido nesta época. Enquanto Salomão é sem dúvida um governante historicamente notável e influente, só conhecemos a rainha de Sabá em ligação a ele. Como tal, o relato bíblico é visto por alguns investigadores como um episódio não histórico escrito centenas de anos depois do reinado de Salomão, para dar ênfase à glória e à sabedoria lendária do grande rei.
Entre os cristãos da Etiópia, situados ao longo de uma faixa entre o mar Vermelho e Sabá, existe uma história (incluída na sua épica história dos reis, o Kebra Negast), em que se diz que são os descendentes de Menelik I, o filho de Sabá e de Salomão, e o início da dinastia real etíope. De acordo com a lenda, Menelik viajou até Jerusalém para ver Salomão, o seu envelhecido pai, que lhe implorou que ficasse e fosse rei após a sua morte. Mas Menelik rejeitou a proposta e regressou a casa à noite, em segredo, levando com ele a relíquia mais valiosa do reino, a Arca da Aliança. Aparentemente, Menelik levou a arca consigo para Aksum, no Norte da Etiópia, onde ainda hoje permanece, escondida no pátio da Igreja da Nossa Senhora Maria de Zion. No Kebra Negast, Makeda (o nome de Sabá) nasceu em 1020 a. C., em Ophir, um porto mencionado na Bíblia e que se pensa ter-se situado algures no Iémen. Makeda foi educada na Etiópia e quando o seu pai morreu, em 1005 a. C., ela tornou-se rainha aos quinze anos, tendo governado durante quarenta, apesar de outros relatos falarem apenas de um reinado de seis anos.
Em Maio de 1999, uma equipa de arqueólogos nigerianos e britânicos descobriu enormes muralhas escondidas na floresta nigeriana, que pensaram tratar-se de vestígios do centro de um dos reinos mais famosos de África e possivelmente o local onde se encontra enterrada a rainha de Sabá. O monumento de Eredo é o maior de África e consiste numa vala exterior e uma muralha com catorze metros de altura, que se estende ao longo de uns incríveis cento e sessenta quilómetros. Os habitantes locais dizem que Bilikisu Sungbo, outro nome para a rainha de Sabá, mandou supostamente construir a vasta fronteira do reino de Eredo, existindo uma peregrinação anual ao que se acredita ser o local da sua sepultura. Apesar de esta área ter uma longa história relacionada com o comércio de ouro e de marfim, que pode estar associada às actividades comerciais de Sabá, não existem provas directas, arqueológicas ou escritas, que liguem Sabá a Aksum. Apesar das lendas locais, o monumento em si parece ter sido erigido pelo menos mil anos depois do suposto reinado da rainha de Sabá, no Século X a. C.
Apesar da incerteza das provas arqueológicas e históricas que suportam a existência de facto da rainha de Sabá, a imagem de uma mulher cujo poder estava combinado com sabedoria e beleza tem vindo a servir de inspiração para artistas, contadores de histórias e realizadores de filmes durante centenas de anos. Desde a arte do período renascentista até aos brilhantes épicos de Hollywood, a influência de Sabá tem sido considerável. Com efeito, a rainha tem sido um dos temas preferidos do cinema. Algumas das mais bem conhecidas versões e variações da sua história estão, por exemplo, no filme mudo realizado por J. Gordon Edwards em 1921, «A Rainha de Sabá», protagonizado por Betty Blythe, que conta a história de um romance malfadado entre Salomão, rei de Israel, e a rainha de Sabá; em «Salomão e Sabá», de 1959, com Yul Brynner e Gina Lollobrigida; em «A Rainha de Sabá e o Homem Atómico», de 1963; e «Salomão e Sabá», de 1995, em que Halle Berry foi a primeira negra a desempenhar o papel de Sabá.
Apesar de faltarem ainda provas concretas, continua a ser inteiramente possível que tenha existido uma rainha de Sabá histórica, como foi retratada na história bíblica e em lendas posteriores. Existiram certamente poderosas governantes femininas na Arábia antiga e talvez novas investigações e escavações na zona do antigo reino de Sabá um dia revelem a verdadeira mulher por trás da história da rainha de Sabá. Mesmo sem provas arqueológicas e históricas, em certas partes de África e da Arábia a sua história ainda é contada, tal como o tem sido há talvez dois ou três mil anos.