A Ordem Hermética da Aurora Dourada foi fundada em 1888 na Grã-Bretanha por três Franco-Maçons: William Wynn Westcott, William Robert Woodman e Samuel Liddell MacGregor Mathers. Apesar de pequena (atraiu pouco mais de 300 iniciados), incluía luminares como Aleister Crowley, Aubrey Beardsley e William Butler Yeats e brilhou, brevemente, como a ordem mais significativa a emergir do revivalismo do oculto do Século XIX, possuindo uma das melhores colecções de conhecimentos de magia ocidental, até rivalidades na liderança conduzirem ao seu encerramento em 1914.
Inicialmente, baseava-se em cinco rituais maçónicos gravados em fragmentos codificados em manuscritos que chegaram às mãos do Juiz de Instrução de Londres, William Wynn Westcott, com uma carta instruindo quem precisasse de mais informações entrasse em contacto com Sapiens Dominabitur Astris (“o sábio será governado pelas estrelas”) através da Fraulein Anna Sprengel, a Imperatriz do ramo do L. L. L. (Licht, Liebe, und Leben ou Luz, Amor e Vida) do Rosacrucianismo Alemão. Foi com base nesta origem duvidosa — muito provavelmente retirada da imaginação fértil de Westcott, apesar deste ter afirmado que a recebeu de um companheiro Maçon que a tinha encontrado numa livraria em Londres — que Die Goldene Dammerung (a Aurora Dourada) obteve a sua autoridade e a “permissão” para se reunir no Templo de Isis – Urânia, no número 17 da rua Fitzroy, em Londres.
Samuel Liddell MacGregor Mathers emergiu como a personagem mais carismática e excêntrica do trio (tinha inserido “MacGregor” no seu nome devido à sua profunda ligação romântica com os clãs escoceses). Rapidamente, tornou-se a força motriz por trás da estrutura da ordem através da sua pesquisa incansável, de modo a expandir os fragmentos rituais para um sistema metafísico coeso. Sendo um estudioso devoto de antigos textos mágicos, conseguiu transformar um corpo complexo de ensinamentos num todo praticável, servindo-se da magia do ocultista francês, Alphonse Louis Constant (Magus Eliphas Levi), da cosmologia cabalística, do Tarot, dos impenetráveis ritos alquímicos e necromânticos dos livros misteriosos medievais e do misticismo oriental e das mitologias babilónica, grega, egípcia, hindu e budista.
A inevitável estrutura hierárquica da Aurora Dourada consiste em 10 graus de conhecimentos mágicos, começando com o Neófito e progredindo até ao Ipsissimus. Estes baseavam-se nos dez graus de Sephiroth ou as Sephiras — emanações divinas da Cabala interligadas. Os membros tentavam “levar a cabo a Grande Obra que é obter o controlo da natureza e poder do seu próprio ser” e progredir nos graus, estudando e realizando rituais maçónicos em templos construídos para o efeito, com nomes das divindades egípcias. Os graus eram divididos em três ordens: a Externa (Aurora Dourada), Segunda (Rosa Vermelha e Cruz Dourada) e Terceira (Estrela de Prata). Os fundadores eram Chefes da Segunda Ordem, enquanto que a Terceira Ordem era ocupada apenas por entidades que habitam o plano astral que dirigia as suas actividades.
Infelizmente, a organização era caracterizada por violentas lutas entre os seus membros proeminentes. Woodman morreu em 1891 e não foi substituído, mantendo a disputa entre os enormes egos de Mathers e de Westcott. Mathers mudou-se para Paris para estabelecer a sua própria loja que apenas sobreviveu devido ao patrocínio de um dos seus abastados membros, Annie Horniman, apesar de ela ter retirado os fundos em 1896, depois de ser expulsa da Ordem por contestar a afirmação de Mathers de que os Mestres Secretos do plano astral o tinham convidado para a Terceira Ordem. Mathers também afirmava que a sua esposa, Mina, recebia conselhos da Terceira Ordem através da clarividência e da audição sobrenatural. No ano seguinte, Westcott demitiu-se devido a alegações de que tinha falsificado os manuscritos fundadores.
Mathers dedicou-se então à tradução do misterioso livro hebreu «Livro da Magia Sagrada de Abramelin», o “Mago” que publicou em 1898, afirmando que este era habitado por uma entidade metafísica.
Nesse ano, Aleister Crowley, recentemente licenciado pela Universidade de Cambridge, que era já um perito em ciências ocultas, tendo rejeitado o determinismo da sua rígida educação na Irmandade de Plymouth, juntou-se à sociedade e colocou-se ao lado de Mathers. No entanto, ele alienou a maioria dos outros membros com o seu comportamento chocante e criminoso, indiscrições sexuais e uma força de vontade quase sobre-humana. Ele tomou o mote Perdurabo (“Eu perdurarei até ao fim”) e era, por isso, conhecido como Frater Perdurabo.
Passados seis meses, Mathers tinha elevado o seu novo aliado ao nível de Adeptus Minor da Segunda Ordem, mas a Loja de Londres, liderada então por Florence Farr, recusou-se a reconhecer o seu avanço. Eventualmente, até Crowley e Mathers entraram em divergência e foram expulsos da ordem após terem tentado agredir-se um ao outro num confronto mágico, alegadamente envolvendo vampiros astrais e exércitos de demónios liderados por Belzebu.
W. B. Yeats assumiu o controlo da Segunda Ordem e Crowley vingou-se ao publicar os segredos da Aurora Dourada em 10 edições da sua revista, The Equinox.
Nos primeiros anos do Século XX, a Aurora Dourada dividiu-se em diversos grupos que permaneceram até aos anos 30, incluindo a Alpha et Omega (Mathers), a Stella Matutina (“Estrela Dalva”— Yeats), a Astrum Argenteum (Crowley), a Ordem Sagrada da Aurora Dourada e a Fraternidade da Luz Interior. Em 1937, um membro da Stella Matutina, Israel Regardie, publicou um extenso relato em quatro volumes dos rituais, gerando outro florescimento de sub-seitas e mágicos misantropos, de modo que encarnações da Aurora Dourada existem até hoje.
O Centro de Pesquisa da Aurora Dourada (www.golden-dawn.org) “é um recurso para estudantes sérios que desejam ter um conhecimento mais aprofundado dos ensinamentos e práticas da Aurora Dourada Clássica.” Descreve correctamente a ordem como “a força mais influente para o renascimento moderno da Tradição Esotérica Ocidental”, e na sua página de FAQ aborda a questão do secretismo:
“O secretismo é necessário pois os direitos individuais e a privacidade devem ser sempre mantidos, especialmente, porque os membros podem trabalhar em ambientes sensíveis onde o conhecimento público da sua associação poderia causar problemas. Há, no entanto, outra importante razão para o secretismo, que tem a ver com o princípio hermético no qual o processo alquímico exige um contentor fechado, para ser “Hermeticamente Selado.’”
Fonte: Livro: «O Manual das Sociedades Secretas» de Michael Bradley