Em meados do Século XII, na Síria, uma seita secreta de xiitas muçulmanos fumadores de haxixe reclamou o seu direito ao Império Islâmico com uma violência tão calculada e cruel que o seu nome é agora sinónimo de homicídio eficiente. Esta seita estabeleceu um sistema de células secretas e criou uma pirâmide de agentes e espiões em todo o mundo muçulmano, com uma estrutura de comando que seria imitada por todas as Sociedades Secretas subsequentes, incluindo os Franco-maçons e os Templários. Chamavam-se os Assassinos.
Inicialmente, o seu nome era Nizariyah, numa tentativa de restituir o Califado do Egipto ao Príncipe Nizar al-Tayyib, que consideravam ser a reencarnação milagrosa de Ismael. Quando falharam em estabelecer um novo ciclo de imãs Nizariyah, que (convenientemente) decidiram que iria distingui-los dos imãs anteriores por quebrar as regras prescritas pelas leis da shari’ah (a lei sagrada, em oposição à jurisprudência islâmica, prescrita por Alá), como preparação para a chegada do al-Mahdi (o “escolhido” apocalíptico).
Isto significava que os imãs Nizariyah podiam conceder a eles próprios a permissão para beber vinho e consumir grandes quantidades de haxixe e até matar outros muçulmanos na busca da jihad (a guerra santa dos Muçulmanos). Não demorou muito até as autoridades ortodoxas os denunciarem como apóstatas (não Muçulmanos) e se tornarem homens marcados.
Os Nizariyah saíram do Egipto em direcção à Síria, onde ficaram conhecidos como “hashshasin” (Assassinos) — o plural árabe para fumadores de haxixe, apesar de alguns comentadores terem sugerido que “guardiães [dos segredos]” é a verdadeira origem da palavra. Sob a liderança de Hasan bin Sabah levaram a cabo uma guerrilha vingativa e montaram ataques a Bagdad a partir da sua fortaleza no vale Alamut, no Norte da Pérsia, para tentar derrubar os governantes sunitas.
Em «The History of the Assassins», Amin Maalouf descreve Hasan como “um homem de imensa cultura, um devoto da poesia, profundamente interessado nos últimos avanços da Ciência.” Ao desenvolver os seus métodos, baseou-se fortemente na organização e técnicas da Dar ul Hikmat (Casa do Conhecimento), ou Grande Loja do Cairo. Durante mais de dois séculos, os Assassinos aperfeiçoaram as suas técnicas de homicídio, armamento, envenenamento e operações secretas que os transformaram na escória do mundo oriental.
A sua fortaleza de Alamut entrou para a lenda persa como um sumptuoso paraíso na terra, descrito por Marco Polo após a sua passagem por lá em 1271:
“Num lindo vale, encerrado entre duas majestosas montanhas, ele [Hasan] criou um luxuoso jardim provido de todas as frutas deliciosas e arbustos perfumados que pudessem ser obtidos. Foram erigidos palácios de vários tamanhos e formas em diferentes partes do terreno, ornamentados com obras em ouro, pinturas e com mobílias de ricas sedas. Através de pequenas condutas dentro destes edifícios, era possível ver rios de vinho, leite, mel e alguns de água pura a correr em todas as direcções. Os habitantes destes lugares eram donzelas elegantes e bonitas, dotadas para as artes do canto, que tocavam todo o tipo de instrumentos musicais e dançavam e especialmente aquelas mais namoradeiras e sedutoras. Para que ninguém entrasse sem permissão neste local delicioso, ele construiu na boca do vale um castelo forte e inexpugnável, através do qual a entrada era feita por uma passagem secreta.”
Diz-se que Hasan recrutava jovens locais drogando-os e levando-os para o vale, onde vislumbram o paraíso. Em seguida, eram atirados de volta para a realidade que, por comparação, seria tão mundana que eles aderiam logo à sua causa e estavam preparados para morrer por uma oportunidade de voltar ao jardim de prazeres arcanos. Após o recrutamento dos novos aprendizes, estes eram persuadidos, através de artimanhas e drogas, a aceitar o seu culto único à personalidade, cujo mote era “Nada é proibido, tudo é permitido.” Uma destas ilusões, descrita na antiga «Art of Imposture», de Abdel-Rahman, envolvia enterrar um discípulo até ao pescoço, que seria então pintado com sangue; esta cabeça, aparentemente desmembrada, iria descrever as delícias do paraíso aos iniciados. Em seguida, o infeliz discípulo era secretamente decapitado e colocado à vista de todos, para completar a artimanha.
Segundo Arkon Daraul em «A History of Secret Societies», existiam três graus de seguidores: “Missionários (Dayes), Amigos (Rafiq), que eram discípulos, e Fidavis, devotos. O último grupo… eram assassinos treinados. Os Fidavis vestiam-se de branco, com um cinto, gorro ou botas vermelhos. Para além do treino cuidado sobre quando e onde colocar a adaga no peito da vítima, recebiam ensinamentos sobre línguas, as vestes e maneiras dos monges, mercadores e soldados, qualquer um dos quais podiam imitar ao levar a cabo as suas missões.”
Um assassino era instruído a cometer um homicídio com as palavras: “De onde vens?”. Ele respondia: “Do Paraíso.” Recebia, então, as suas instruções: “Vai e mata o homem que vou nomear. Quando voltares, irás de novo para o Paraíso. Não temas a morte porque os anjos de Alá vão levar-te assim mesmo para o Paraíso.”
A influência dos Assassinos fez-se sentir na Pérsia e no Iraque até meados do Século XIII, quando a seita implodiu gradualmente após Hasan ter sido assassinado pelo seu filho, Mohammed, que foi, por sua vez, liquidado pelo seu próprio filho. A fortaleza de Alamut foi capturada pelos Mongóis em 1256, marcando o início do fim dos Assassinos como uma força militar coesa até ao início do Século XVI, quando os Otomanos destruíram as suas últimas fortalezas na Síria. No entanto, a dinastia dos Imãs Ismailitas Nizariyah permaneceu em correntes modernas do Islão, através de Aga Khan, apesar dos Ismailitas modernos terem deixado o título de “Assassinos” e de, a maioria, aceitar a mensagem de tolerância de Qur’an.
Fonte: Livro: «O Manual das Sociedades Secretas» de Michael Bradley