A Teoria do Cisne Preto foi concebida por Nassim Nicholas Taleb para explicar:
- 1.) Um acontecimento de impacto desproporcionado ou um evento raro aparentemente inverosímil, para lá das expectativas normais históricas, científicas, financeiras ou tecnológicas.
- 2.) A impossibilidade de calcular a probabilidade de eventos raros, porém consequentes, através de métodos científicos (dada a ínfima probabilidade da sua natureza).
- 3.) O viés psicológico que leva uma pessoa individualmente ou colectivamente a não ver ou não querer ver a importância decisiva de determinado evento raro no desenrolar da História.
Ao contrário do conceito filosófico inicial de “problema do Cisne Preto” no qual se afirmava que todos os cisnes são brancos, algo que mais tarde se provou falso com a descoberta no Século XVIII de uma raça de cisnes pretos, a Teoria do Cisne Preto refere-se apenas a eventos inesperados de grande magnitude e consequências no contexto da sua influência histórica. Tais eventos, considerados extremos atípicos, colectivamente representam um papel mais importante do que os acontecimentos normais.
Numa entrevista, Nassim Nicholas Taleb – o autor do livro “O cisne preto: o impacto do altamente improvável” (“Black swan: the impact of the highly improbable“), o livro onde é apresentada a Teoria do Cisne Preto -, explica os pontos principais da teoria:
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1.) Antes da Austrália ser descoberta, todos os cisnes do mundo eram brancos. A Austrália, onde existe o cisne preto (“cygnues atratus“), mostrou a possibilidade de uma excepção escondida de nós, da qual não tínhamos a menor ideia.
- 2.) O meu cisne preto não é um pássaro, mas um evento com três características: 1ª) altamente inesperado; 2ª) tem grande impacto; e 3ª) depois de acontecer, procuramos dar uma explicação para fazê-lo parecer o menos aleatório e o mais previsível.
- 3.) O cisne preto explica quase tudo no mundo, como a Primeira Grande Guerra. Era imprevisível, mas, depois da sua ocorrência, as suas causas pareceram óbvias às pessoas. O mesmo aconteceu com a Segunda Grande Guerra. Esses factos provam a incapacidade da humanidade prever grandes eventos.
- 4.) Mais recentemente, a internet é um cisne preto. Surgida como ferramenta de comunicação militar, ela transformou o mundo de maneira muito rápida. Ninguém imaginava essa possibilidade.
- 5.) As descobertas causadoras de forte impacto na humanidade foram acidentes de percurso, ou seja, os cientistas estavam a procurar algo de diferente, como no caso do ´laser´, criado para ser um tipo de radar e não para ser usado em cirurgia ocular.
- 6.) Ninguém poderá saber quando um cisne preto irá surgir, mas o fundamental é a pessoa não levar tão a sério o seu planeamento de vida. As coisas podem mudar quando a pessoa menos espera. O ´stress test´, um dos modelos de gestão de risco, avalia o impacto já ocorrido e não o impacto a ocorrer. As variáveis utilizadas são tiradas do passado.
- 7.) O grau de aleatoriedade depende do observador. A aleatoriedade é a compreensão ou a informação incompleta. Eventos como o 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, não são aleatórios. Na verdade, os terroristas (será? [1]) planearam e tinham conhecimento do 11 de Setembro.
- 8.) A previsão de eventos sócio-económicos é muito difícil. O histórico das previsões é lixo. O “risk management” (gestão de risco) é lixo. A tentativa de determinar causa e efeito dos factos é continuamente obstruída por Fenómenos imprevisíveis. As pessoas do mundo das finanças têm a ilusão de poder prever os fatos, porém não conseguem justificar as suas previsões.
- 9.) A indicação de acções para compra é postura de charlatães. Não são charlatães aqueles a recomendar o que não fazer no mercado, ao invés de dizer o que fazer. As pessoas podem fazer muitas coisas se souberem o que não fazer. Se as pessoas evitarem as técnicas mirabolantes, não vão depender das previsões do mercado.
- 10.) As pessoas não devem depender dos “measures of risk“, indicadores destinados a medir o risco. O importante é garantir um portfólio estruturado de maneira a não ter “downside risk” (potencial de perdas) ou “upside exposure” (potencial de ganho), porquanto assim as pessoas poderão ganhar muito dinheiro se encontrarem um cisne preto.
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11.) As pessoas não devem sair à caça do cisne preto, mas, uma vez que este apareça, devem maximizar a sua abertura a ele. Devem acreditar na possibilidade do mais inusitado acontecer. Tanto do lado positivo quanto do lado negativo.
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12.) O cisne preto é o risco dos grandes eventos, positivos ou negativos. Algumas coisas podem ser voláteis, mas não são necessariamente um cisne preto.
NOTAS:
[1] Nota do autor: Em relação ao tema dos ataques de 11 de Setembro de 2001, consulte https://paradigmas.online/?p=226