A Praia da Luz é famosa por muitos motivos. Um deles é o facto de nos últimos oito anos ter visto crescer uma das mais populares ervanárias da região. A proprietária, Meri Hanlin tem dedicado a sua vida a conhecer todos os segredos dos remédios naturais (soma mais de 30 anos de experiência).
Esta canadiana tem uma longa lista de pessoas que a procuraram “bastante doentes” e que hoje gozam “vidas novas” com a Saúde restabelecida. Graças aos remédios que descobriram com os seus conselhos. Muitas vezes, estes remédios custam apenas uma fracção das drogas que antes estavam a tomar – “os quais, muitos já não se sentiam bem em continuar a tomá-los.”
Há duas semanas atrás – na última altura possível antes de a Directiva dos Produtos Tradicionais de Medicina Herbal (THMPD) se tornar uma realidade em vigor – Meri Hanlin viajou até Londres.
Na capital britânica visitou uma feira de produtos naturais e orgânicos, no Olympia Exhibition Hall. O evento estava a promover uma série de seminários pensados para orientar as pessoas no euro-pesadelo da nova burocracia herbal. Na altura, Hanlin sentiu que nada estava a ser feito em Portugal, e que a partir de 1 de Maio, veria nascer uma nova e desesperada era.
De facto, a farmácia da Luz, paredes meias com a sua loja – e que também tem em stock remédios naturais – “desconhecia a nova directiva europeia” quando um cliente comum a ambas lançou a questão.
Mas na verdade, esta directiva foi aprovada a 31 de Março de 2004, na condição provisória de se tornar lei em 2011. O motivo oficial evocado pelas autoridades foi a necessidade de se criar “um processo de aprovação regulamentar para as principais plantas medicinais na União Europeia.”
Ou seja, praticamente todos os remédios naturais enfrentam agora um novo procedimento legal para poderem ser aceites no mercado. O problema, consideram os opositores à directiva THMPD, é que as análises e os estudos científicos agora exigidos, custam em média “pelo menos 100.000 libras por produto poliherbal”. Por outras palavras, é o tipo de expedientes que apenas as grandes companhias farmacêuticas podem pagar…
“Fiquei desesperada quando estive em Londres”, relembra Meri Hanlin. “Sinto uma enorme responsabilidade para com os meus clientes. “Ao longo destes anos ajudei tantas pessoas que estavam com problemas sérios e que hoje vivem mais saudáveis, que não posso desistir. Fiquei sem saber o que fazer”, diz.
E, no princípio, as notícias reveladas nos seminários eram tais, que ao sair de uma das palestras, sentiu-se forçada a parar. “Não conseguia ver para onde é que ia”, explica, “porque estava mesmo a chorar compulsivamente”…
Então, aconteceu algo fantástico. A sua resoluta e absoluta determinação em continuar a trabalhar com remédios naturais levaram a que entrasse em contacto com outras pessoas num estado de espírito igual ao seu. Cultivadores de plantas e fornecedores convictos em “salvar a medicina natural” tornaram-se espontaneamente “camaradas de armas” nesta batalha.
“É um corrida contra o tempo, mas estão a acontecer coisas fantásticas”.
Foi então que descobriu, para a sua “alegria total”, que Portugal não está sentado à espera do que aí vem.
Um dos seus maiores fornecedores garantiu-lhe que tudo está a ser “rotulado” de forma a estar compatível com as novas leis. Ou seja, estão a jogar com os euroburocratas segundo o seu próprio jogo. Muitos produtos medicinais estão a ser re-embalados como “suplementos alimentares”. Noutras latitudes, as empresas que têm os recursos necessários estão a registar marcas dos seus produtos herbais, o que significa que podem passar pelo campo minado da directiva THMPD.
“Fui a Inglaterra com medo, mas regressei um pessoa diferente. Tenho uma vontade renovada de continuar”, sorri. “Renovei as energias para lá do que é possível!”
Com o prazo do primeiro de Maio a aproximar-se, Meri Hanlin está ocupada com os seus fornecedores no Reino Unido, onde o direito comum dita que a directiva terá menos efeito, e que muitas centenas de remédios naturais à base de ervas poderão reclamar imunidade, sob o argumento de serem utilizados desde há séculos.
Contudo, o direito napoleónico em vigor na Europa do Sul, dita que a directiva será impossível de contornar pelos naturopatas que já tenham feito previamente toda a importação das ervas que necessitam para si próprios. Até uma ervanária licenciada – que poderá exercer no Reino Unido – ver-se-á impossibilitada de o fazer legalmente em Portugal, Espanha, Grécia, França e noutras nações europeias.
“Temos de simplesmente continuar, na esperança que nas próximas semanas algo seja feito para reverter toda esta loucura”, conclui Meri Hanlin.
É precisamente isso que a ONG «Alliance for Natural Health» (ANH) está a fazer. A sua petição on-line (disponível em www.savenaturalhealth.eu) já soma milhares de assinaturas (só numa semana, somou mais de 100 000 só na França, e ainda até ao final deste mês, espera-se que muito europeus dêem o seu nome a esta causa).
Apoiada pela «League for Natural Medicine», a aliança aponta “condenar a discriminação cultural na União Europeia, a falta de transparência e a desproporcionalidade combinada com uma restrição da liberdade” individual de cada cidadão. O apelo aos donativos já atingiu a meta das 90 000 libras para investir em custos legais.
O popular website youtube tem um video-apelo no qual este movimento mostra porque classifica a directiva como “um ataque sem precedentes ao direito de nos tratarmos a nós próprios com medicinas alternativas”.
“Milhares de anos de sabedoria valiosa está em risco de ser definitivamente perdida no continente europeu e entre os seus habitantes, se a UE continuar a insistir em impor a sua directiva”.
“Só lutando activamente pelos nossos direitos, é possível parar a força conjunta movida pelas corporações multinacionais da indústria farmacêutica e da União Europeia”, acrescentam.
“Quem cala, consente. Se você nada fizer, os burocratas europeus vão dar como certo que ninguém se importa.”
Uma ameaça à liberdade dos cidadãos?
Há muitos anos que Meri Hanlin sofre de problemas do coração. Chegou a ter que utilizar um monitor cardíaco portátil. Contudo, um simples remédio natural à base de alho, crataégus e folha de oliveira tem ajudado muito a sua Saúde.
Em princípio, directivas como a THMDP são apresentadas com o objectivo de garantir a segurança do público. Mas também é verdade que a história recente tem mostrado que na prática, as ligações entre o poder político e o económico resultam em leis péssimas para os interesses da população em geral.
Por outro lado, será que é legítimo restringir seriamente os direitos de escolha e de acesso a práticas de Saúde alternativas, que deveriam ser decisões livres de cada indivíduo?
A auto-determinação em termos de Saúde tem de ser encarada como um direito civil inerente a cada pessoa? E que tem feito a União Europeia para debater este assunto com todos os interessados?
“Uma lei destas nunca irá funcionar num país como Portugal”, considera Meri Hanlin. Para além da natureza pródiga que ainda existe, “os portugueses conhecem bem as ervas medicinais, faz parte da sua cultura popular. Ninguém conseguirá erradicar isso”, acrescenta.
“A Europa que vá dizer aos homens portugueses que a partir do final deste mês não podem mais comprar Pau de Cabinda!” (uma espécie de viagra natural, muito popular em Portugal devido à Guerra Colonial nas ex-colónias africanas). Por outro lado, os fornecedores de Meri Hanlin esperam que a directiva 2004/24/CE tenha que passar primeiro pelo parlamento português para dar origem a nova legislação nacional.
Entretanto, a ervanária vai coleccionado recortes de notícias da imprensa internacional. “Está a ver? Até o cultivo de hortelã querem controlar!”
21 de Abril de 2011
Fonte: Jornal Algarve 123
Artigo Original: http://www.algarve123.com/pt/Artigos/2-1097/Europa_censura_medicina_natural