A visão profética nas Terras Altas Escocesas

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Monumento de Brahan Seer
Monumento de Brahan Seer

«Chegará o dia em que longas filas de carruagens sem cavalos percorrerão o caminho entre Dingwall e Inverness e, mais espantosamente ainda, entre Dingwall e a Ilha de Skye

– Uma das profecias do Vidente de Brahan, prevendo supostamente a construção de caminhos de ferro pelas Terras Altas escocesas.

Uma das mais fortes tradições proféticas é a visão documentada nas Terras Altas escocesas a partir, pelo menos, do Século XVII. Segundo uma autoridade da região no Século XIX, a existência de uma ou mais pessoas com poderes de clarividência era «um facto indiscutível em quase todas as comunidades mais rurais». O escritor Samuel Johnson investigou o fenómeno na viagem pelas ilhas ocidentais da Escócia, em 1773, e relatou que «os ilhéus de todas as hierarquias, tanto a nível de estatuto como de instrução, admitem-no unanimemente, à excepção dos padres». O próprio Johnson estava inclinado a acreditar nas histórias.

De todos os milhares de pessoas consideradas dotadas de poderes clarividentes, nenhuma é mais relembrada do que Coinneach Oddhar Fiosaiche, conhecido como o Vidente de Brahan. Nascido na ilha de Lewis nas Hébridas Exteriores, no início do Século XVII, Oddhar viveu quase toda a vida como trabalhador agrícola perto do castelo de Brahan à entrada de Cromarty Firth, a uns 15 quilómetros a nordeste de Inverness.

Coinneach Oddhar Fiosaiche
Coinneach Oddhar Fiosaiche

Reza a tradição que adquiriu os poderes com uma pedra mágica; algumas histórias narram que a pedra foi oferecida à sua mãe por um espírito, outras que o vidente a encontrou depois de dormitar um pouco no Mundo das Fadas.

Como a maioria dos habitantes da Alta Escócia com o «dom», Oddhar pouco retirava das suas capacidades e não fazia qualquer tentativa de explorar o seu talento. As visões do futuro pareciam surgir sem aviso.

A tradição das Terras Altas atribuiu dezenas de profecias ao Vidente de Brahan. Infelizmente, como nenhuma foi escrita enquanto ele era vivo, é impossível referir as que podem ter sido modificadas por boatos. A crer nas histórias, algumas previsões de Oddhar foram de uma precisão notável. A sua descrição das colinas do condado de Ross todo coberto de faixas é geralmente tida como uma visão das estradas que vieram cruzar essas mesmas colinas. Numa ocasião, ao atravessar o futuro campo de batalha de Culloden, onde os soldados remanescentes do exército das Terras Altas de Carlos III seriam massacrados pelos Ingleses em 1746, Oddhar parou e estremeceu, comentando que muitas cabeças rolariam ali um dia.

Tal como a de outros profetas que o precederam, a vida de Oddhar teve um desfecho trágico devido aos seus dons. Foi condenado à morte por ofender a condessa de Seaforth com uma das suas manifestações de clarividência. Porém, antes de ser executado, parece ter-se vingado ao prever com grande detalhe a extinção da família Seaforth (uma previsão que se cumpriu ao pormenor quase dois séculos mais tarde).

Algumas das previsões de Oddhar que ainda não se realizaram são igualmente intrigantes. Uma delas diz respeito a todo o futuro das Terras Altas da Escócia. Oddhar previu tempos em que as ovelhas substituiriam os seres humanos em grande parte da região, acabando, por sua vez, por também desaparecer. As terras passariam então das mãos dos antigos donos para «comerciantes», tornando-se, de seguida, um enorme parque de veados, tendo o povo fugido há muito para ilhas desconhecidas. Porém, também tais tempos teriam um fim; os veados e outros animais selvagens acabariam por ser exterminados por uma terrível chuva negra, marcando, assim, o regresso do povo.

Um desastre nuclear iminente?

Muito do que se diz desta previsão parece ser verdade. A desocupação das Terras Altas no Século XVIII viu uma grande parte da população ser expulsa para dar lugar a ovelhas, e muitos habitantes chegaram mesmo a emigrar. Com o tempo, a criação de ovelhas deixou de ser rentável e foram vendidas propriedades extensas para a prática da caça ao veado.

A parte final da profecia ainda não se realizou, mas uma outra previsão do vidente ainda por cumprir dá uma pista do que pode ocorrer. Oddhar falou do dia em que uma vaca castanha-escura sem cornos sairia das águas de Minch, o estreito entre as Hébridas e a Escócia, e que, com os seus mugidos, derrubaria as seis chaminés da Casa Gairloch, em Wester Ross. Em tempos recentes, submarinos nucleares pararam na costa escocesa e algumas pessoas tendem a ver nas palavras do vidente a profecia de um futuro acidente nuclear.

A pedra que se moveu

Brahan Seer
Brahan Seer

Uma previsão que muitas autoridades atribuem ao Vidente de Brahan realizou-se de forma surpreendente no final do Século XVIII. Dizia respeito à pedra de Petty, um rochedo de oito toneladas localizado perto da costa, a cerca de 10 quilómetros de Inverness. Segundo a previsão, chegaria o dia em que a pedra se moveria (na época, estava a cerca de 250 metros da costa) para uma distância parecida em pleno mar. O acontecimento previsto ocorreu a 20 de Fevereiro de 1799, durante uma noite de ventos fortes, quase ciclónicos. Ninguém viu a pedra a movimentar-se e a forma como adoptou uma nova posição permanece um mistério até hoje.

Fonte: Livro «As Profecias que Abalaram o Mundo» de Tony Allan

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