Não é surpreendente que tenha havido uma série de escândalos na pesquisa e prática médica por todo o país. Nos anos 1970, a Quinacrina, remédio contra a malária, foi distribuído para milhares de mulheres sem instrução, provocando-lhes a esterilização permanente. A droga tinha sido desaprovada para esse uso e muitas das mulheres disseram, posteriormente, que tinham sido ludibriadas para toma-la. Nos anos 1980, um anticoncepcional injectável — já retirado do mercado — foi testado em aldeãs que declararam que “não faziam ideia de que estavam a participar num teste”. Numa experiência com a lepra, patrocinada pelo governo em 1991–1999, voluntários disseram que não sabiam que o teste era com placebo.
No fim dos anos 1990, pesquisadores do governo realizaram um tratamento de 1100 mulheres analfabetas com lesões pré-cancerosas nas vértebras cervicais para estudar a progressão da doença. Mais tarde, descobriu-se que as pessoas não tinham sido informadas e não tinham dado consentimento. Em 2001, um pesquisador da Johns Hopkins foi apanhado testando uma droga anti-cancro experimental em pacientes com cancro no estado indiano de Kerala, antes da droga ter sido experimentada em animais. Em 2003, um remédio experimental contra o cancro foi administrado em mais de 400 mulheres que procuravam aumentar sua fertilidade. A droga era tóxica para os embriões [1].
Países ocidentais também tiveram suas próprias histórias de transgressões, e entre as mais infames delas está o estudo sobre a sífilis do Serviço de Saúde Pública norte-americano de Tuskegee. O tratamento para a sífilis foi negado a dezenas de negros pobres do Alabama rural. O estudo sobre sífilis, quando exposto, levou às primeiras protecções legais a pessoas estudadas em pesquisas nos Estados Unidos, em 1974. Nenhum dos escândalos de pesquisas na Índia, por mais que tenham sido publicitados na imprensa, levou a qualquer protecção legal para os voluntários. Esses factos não são novidade para os reguladores do FDA, que demonstram uma grande confiança na habilidade dos voluntários em se auto-proteger, oferecendo ou retirando seu próprio consentimento informado voluntário.
NOTA:
[1] Freedman, A. M. (1988). «Population bomb: two Americans export chemical sterilizations to the Third World». Wall Street Journal.