Apesar de concordar que toda a classe política tende para a corrupção, e que todos ou praticamente todos os políticos enveredam por esse caminho, na sua sede de poder e protagonismo, graças a um complexo de inferioridade acentuado que necessita desesperadamente de compensação, não creio no entanto que, tendo havido melhor ou pior governação, mais ou menos corrupção, isso venha a ser realmente relevante no cômputo geral da crise.
Com a crise a recrudescer, e o povo a apertar o cinto, este começa a virar-se cada vez mais para a política, e a interessar-se mais pelos meios governativos para tentar obter respostas e assim descortinar como é que se chegou a esta situação. O primeiro bode expiatório é logo, claro, o governo, personificado no seu primeiro ministro, o seu principal representante.
O público geral completamente enleado na apertada teia que é a novela dos conflitos políticos, ignora por completo a questão básica que dá origem a esta crise.
Especula-se sobre se este indivíduo tem melhor ou pior carácter do que o outro, se é mais honesto ou mais desonesto, se a vertente doutrinária de direita é mais apropriada em dado momento que a da esquerda, e por aí adiante.
No entanto, indiferente a quem governa está a verdadeira causa da crise actual. Nada mais esclarecedor do que a frase do primeiro Rothschild: “Dêem-me o controlo da moeda das nações, e não me importo com quem faz as leis.”
No mundo, a dívida somada dá cerca de 700 triliões de dólares. Só existe em circulação pelo mundo cerca de 10% desse montante em dinheiro.
Como é que se pode pagar uma dívida se só há 10% do valor dessa dívida?
E como é que a situação chegou a esse ponto ?
A economia mundial está dependente do seu sistema financeiro. Quando há mais dinheiro em circulação, há mais financiamento, criam-se empresas e postos de trabalho, e diz-se que a economia está em expansão, e quando se verificam fases de contracção, como aquela que estamos agora a presenciar, há cada vez menos financiamento, menos dinheiro em circulação, menos investimento, menos postos de trabalho, e diz-se que a Economia está em contracção. Tudo isto independentemente de estarem ou não disponíveis os mesmos ou talvez até mais recursos.
O dinheiro posto em circulação é igual à dívida de correspondente valor mais os juros, criando assim uma bolha de dívida cada vez maior – não havendo forma de pagar os juros, pois nunca há assim tanto dinheiro em circulação -, o que faz com se torne inevitável que um dia ela rebente.
Esta lógica financeira talvez fizesse sentido num paradigma de expansão económica infinito, mas aparentemente está condenada ao fracasso.
Alguns admitem ser esta a grande e derradeira contracção da Economia alegando que a bolha atingiu dimensões insustentáveis.
Independentemente de um país ser bem ou mal gerido pelo seu governo, todos os países reféns deste sistema financeiro acabarão por ter o mesmo destino. Os que têm as economias mais frágeis, e talvez onde se verifica maior corrupção são os primeiros a ser sacrificados, tal como se verificou com a Irlanda, a Grécia, e agora Portugal, e num futuro breve a Espanha – que até chegou a ser tida como a grande referência para Portugal durante muito tempo -, mas todos acabarão por seguir o mesmo rumo.
Agora o governo em Portugal caiu. O seu Primeiro Ministro José Sócrates demitiu-se alegando não ter condições para continuar a governar após o seu novo pacote de medidas de austeridade ter sido chumbado na Assembleia da República. Muitos congratulam-se pela demissão de Sócrates, mas ficarão mais satisfeitos por ser outra pessoa ou outra cor partidária a tomar as mesmas medidas ou outras aparentemente diferentes, mas essencialmente iguais ?