Quando uma mulher de pele clara permanece deitada numa praia ensolarada por qualquer período de tempo, a sua pele fica mais bronzeada em resposta aos raios ultravioleta do Sol. Quanto mais tempo ficar na praia, mais escuro será o seu bronze. Mas independentemente de quanto tempo ela fique deitada na praia, os seus filhos nunca irão nascer com o seu bronzeado.
Esta experiência simples do dia-a-dia está no cerne da abordagem da evolução Darwinista. Embora aparentemente simples, encapsula um corpo de raciocínio e observações naturais extremamente sofisticado e detalhado. Mas também incorpora uma crença fundamental que vai contra a intuição e que se revelou impossível de confirmar experimentalmente. Algo acerca do qual os darwinistas e os seus opositores lutaram unhas e dentes durante mais de 150 anos.
Os darwinistas acreditam que a razão pela qual é impossível que uma criança herde as características que os pais adquiriram durante a vida (como o bronzeado da mãe) é que a evolução não é supervisionada por nenhuma força ou design directivos, mas por mero acaso na mutação genética, agindo em conjunto com a selecção natural. No exemplo dado, isso significa que as pessoas negras e mulatas do mundo não adquiriram pigmentação escura porque vivem em regiões ensolaradas ou porque seria útil para eles terem pele escura para se protegerem dos raios do Sol. Em vez disso, foi apenas o acaso que forneceu a um ou alguns ancestrais uma pele mais escura e depois, a selecção natural favoreceu a sobrevivência dessas pessoas porque vivem em regiões ensolaradas.
Provavelmente, nasceu amiúde, alguém de pele mais escura nasceu em latitudes mais a norte, mas a sua pele não lhe forneceu nenhuma vantagem especial de sobrevivência, o que não favoreceu necessariamente a prole e então o tom de pele predominante acabou por permanecer branco.
Os darwinistas modernos conduziram esta ideia um passo adiante e adicionaram uma pequena adenda à teoria do campo da biologia molecular. A razão pela qual as características adquiridas não podem ser herdadas, acreditam muitos, é porque o mecanismo de herança – os genes contidos nas células do nosso sistema sexual – não podem ser afectadas construtivamente pelo meio ambiente. O código genético é um sistema unilateral. As informações podem ser lidas quando uma nova vida é gerada, mas a informação não pode ser escrita para alterar as características dessa nova vida. [1] Se a prole difere radicalmente de seus ancestrais, a acreditar nos darwinistas, é por causa do acaso e nada mais. O mecanismo fundamental de evolução é, segunda a memorável frase do professor Jacques Monod, “acaso e necessidade”. [2] No mundo darwinista é possível olhar ao espelho da genética e até ler o que lá está escrito, mas, ao contrário de Alice, nunca podemos passar pelo espelho.
A ideia darwinista é bela e poderosa. Sustentou a teoria da evolução durante um século e meio. E muitas descobertas após a morte de Darwin tenderam a confirmar a ideia. Muitas novas ideias foram desenvolvidas sobre, por exemplo, a origem da vida a partir matérias inertes utilizando os conceitos darwinistas, ficando acima de qualquer teoria concorrente.
E no entanto, muitas pessoas, tanto cientistas quanto leigos, têm entretido dúvidas persistentes. Acreditamos realmente que os negros são negros por acidente? Que tipo de acidente foi esse? Porque não acontecem desses acidentes actualmente? Porque é que o registo fóssil não nos revela tais acidentes do passado? Depois começarem as perguntas, é difícil saber onde parar.
Por exemplo, se não observamos mutações genéticas – os “acidentes” hereditários – a acontecer, porque são muito raros, então como podem ter havido em número suficiente para produzir algo tão complexo quanto os seres humanos? Os darwinistas dizem que tal acontece porque se passaram muitos biliões de anos desde a Terra arrefeceu. Os estratos geológicos que cobrem a superfície da Terra demoraram milhões de anos a assentar e as criaturas fósseis que neles viveram, fizeram-no há milhões de anos atrás. Mas se essas rochas levam milhões de anos a formar-se, por que é que encontramos árvores de doze metros de altura na posição de crescimento vertical nas camadas de carvão? [3] E se a natureza pode produzir uma diversidade tão rica como os actuais reinos animal e vegetal por puro acaso, porque é que milhares de anos de uma forte selecção artificial criada pelo homem não levou a mais do variações sub-específicas triviais de plantas e animais domésticos e não à criação de novas espécies? Estas e centenas de perguntas semelhantes começam a clamar por respostas. Mas antes que possa ser avaliada a resposta darwinista a estas questões, é necessário primeiro obter uma compreensão firme sobre o que acreditam exactamente os darwinistas e através de que processos passaram a acreditar.
A história começa apropriadamente num jardim – não o do Éden, mas sim, do Jardim Botânico de Ghent, onde, em 1898, um jovem de 27 anos, o botânico austríaco Erich Tschermak começou a se interessar por criação de ervilhas de jardim. Depois de apenas dois anos de trabalho, ao tentar criar características distintas, descobriu, para seu espanto, que os híbridos mostravam uma proporção matematicamente precisa de ervilhas com sementes amarelas e ervilhas com sementes verdes. Ao ler a literatura sobre ervilhas, encontrou uma referência cruzada que parecia interessante e em 1900 enviou uma requisição pelos papers para a biblioteca da Universidade de Viena.
Na Universidade de Amsterdão, o professor de botânica, Hugo de Vries, fez uma descoberta igualmente excitante em 1886. Encontrou certas variedades selvagens da “Prímula da Noite” que diferia marcadamente da variedade cultivada. Cunhando o termo “mutação” para descrever o fenómeno, de Vries iniciou uma longa série de experiências de “melhoria” das plantas para ver se conseguia poderia produzir mutações. Em 1900, uma súbita descoberta levou-o a pesquisar na literatura universitária sobre o melhoramento de ervilhas.
Em 1892, o instrutor de botânica da Universidade de Tubingen, Alemanha, Carl Erich Correns conduziu algumas pesquisas que exigiram que ele procurasse ervilhas, e em 1900, encontrou o mesmo padrão matemático que os seus dois contemporâneos. Também procurou na literatura na biblioteca da universidade e tal como os seus colegas ficou surpreendido ao descobrir que o assunto já tinha sido pesquisado e publicado em grande detalhe uma geração antes por um monge agostiniano desconhecido: Gregor Mendel.
As descobertas simultâneas e independentes feitas pelos três homens – os quais mais tarde viriam a construir carreiras distintas em Biologia – vieram num momento em que a teoria de Darwin tinha sido quase relegada à sucata da História. A teoria tinha cambaleado por alguns anos após a morte de Darwin, mas caiu em desuso, porque lhe faltava um mecanismo confiável que causasse as alterações que ocorrem nas espécies que povoam o mundo. Darwin sugeriu flutuações naturais na forma, conduzindo suavemente uma espécie numa determinada direcção: como o exemplo da girafa cujo pescoço se iria imperceptivelmente tornando mais longo a cada geração. Mas este fenómeno não podia ser observado em qualquer lugar na natureza. A estabilidade é a norma, não a mudança – ainda que lenta – e a ideia de Darwin de “caracteres hereditários” constituía um obstáculo.
Quando Hugo de Vries descobriu as suas marcadamente diferentes “Prímulas da Noite” na natureza, supôs imediatamente que tinha encontrado tal mecanismo: não as “flutuações” triviais de Darwin, mas “mutações” substanciais que contabilizaram mudanças maiores e repentinas na forma. Essas mutações devem ser causadas por mudanças radicais no programa básico de hereditariedade – o que mais tarde foi chamado de genes. O que de Vries e os seus co-descobridores observaram nas ervilhas foi a tendência de certas características genéticas de dominar na maioria dos descendentes – para, por exemplo, a maioria ser comprida quando uma ervilha curta era cruzada com uma comprida. E foi essa propriedade, hoje apelidada de Primeira Lei da Genética, que Gregor Mendel descobriu com os seus esforços pioneiros no jardim do mosteiro na década de 1860.
Foi estranho que a grande conquista de Mendel nunca tenha sido reconhecido em vida. O trabalho dele circulou em todas as grandes bibliotecas da Europa e foi recebido por muitos eminentes biólogos, incluindo Darwin. Nenhum lobrigou a importância das suas descobertas. Mas se a mente europeia não era receptiva na década de 1860, tornou-se altamente receptiva quatro décadas depois, resgatando a teoria darwinista da sucata com um único golpe. Combinada com a Genética Mendeliana e o conceito de mutação, o Darwinismo ressurgiu com uma base experimental sólida como o neo-darwinismo ou a teoria sintética da evolução.
Na teoria neo-darwinista, as espécies evoluem para outras formas por meio de selecção natural como Darwin sugeriu. Mas fazem-no não por causa da variação trivial que ocorre entre todos os indivíduos, mas por causa de mutações casuais na sua composição genética, a maioria das quais são neutras ou letais, mas algumas das quais favorecem uma mudança para algo mais vantajoso ou melhor adaptado. Assim, o acaso cego combina-se com a necessidade de moldar os reinos animal e vegetal.
Desde a redescoberta de Mendel até hoje, a teoria sintética tem permanecido proeminentemente, como a única teoria científica a explicar a origem das espécies e a evolução de todas as criaturas, incluindo a humanidade. Nenhuma outra teoria é ensinada nas escolas secundárias (com a possível excepção das poucas escolas religiosas que permanecem fora do sistema estatal) ou em universidades e faculdades.
No Reino Unido, por exemplo, o currículo nacional para as escolas estabelece as seguintes instruções para os professores de Biologia: “Os alunos devem desenvolver conhecimentos e compreensão da variação e das suas causas genéticas e ambientais e os mecanismos básicos da hereditariedade, selecção e evolução”. A meta de realização do currículo nacional em ‘Genética e Evolução‘ especifica o objectivo dos alunos como ‘Entendendo a relação entre variação, selecção natural e sucesso reprodutivo em organismos e a importância do seu relacionamento para a evolução.’ O modelo darwinista ficou tão forte que substituiu e fez desaparecer de uma vez por todas, todos os seus persistentes rivais: Lamarckismo (herança de características adquiridas), várias versões do Vitalismo (a ideia de que a evolução é supervisionada por alguma força natural – não física) e claro, os relatos religiosos da criação por uma mão todo-poderosa. Não é surpreendente que os principais oponentes da teoria da evolução, tanto na sua forma original como foi concebida por Darwin, como na sua forma sintética moderna, foram indivíduos que aceitavam o relato religioso e considerando o Darwinismo como um ataque às suas crenças religiosas, lutando para que fosse dada muito menos proeminência à teoria, sobretudo na Educação.
O movimento esteve activo durante a maior parte deste século, especialmente nos Estados Unidos. Do julgamento de Scopes no Tennessee em 1925 aos grupos de pressão criacionistas dos anos 90, os fundamentalistas religiosos norte-americanos desafiaram repetidamente os evolucionistas, independentemente do tom utilizado, umas vezes com sucesso, outras não.
Alguns criacionistas também são cientistas – alguns com uma posição considerável a nível académico – e ofereceram críticas científicas substanciais em relação ao neodarwinismo.
Um factor importante que conduziu o Darwinismo ao domínio e aceitação universal, tem sido o de que virtualmente todos os cientistas eminentes nomeados para cargos nas ciências da vida nos últimos 40 ou 50 anos, no mundo de língua inglesa, têm sido darwinistas convictos. Os nomes eminentes incluem homens como Gavin de Beer (professor de Embriologia na University College of London 1945–50 e director do Museu Britânico de História Natural 1950–60), Julian Huxley (professor de Zoologia no King’s College, Universidade de Londres e secretário do London Zoological Society), J. B. S. Haldane, (professor de Genética na Universidade de Londres 1933–37 e professor de Biometria na University College 1937–57), e C. H. Waddington (professor de Biologia na Universidade de Edimburgo). Nos Estados Unidos, os principais evolucionistas sintéticos incluíram Ernst Mayr (professor de Zoologia da Universidade de Harvard 1953–61 e director do Museu de Zoologia Comparada 1961–70), Theodosius Dobzhansky (professor de Zoologia na Universidade de Columbia 1942–60) e George Simpson (professor de Paleontologia na Universidade de Columbia, professor de Paleontologia no Museu de Zoologia Comparada de Harvard 1958–68, professor de Geociências na Universidade do Arizona).
dos mais entusiastas entre os campeões de Darwin do mundo não anglófono foi o biólogo molecular francês vencedor do Prémio Nobel e director do Instituto Pasteur, Jacques Monod, cujo livro de 1970 «Chance and Necessity» [2] causou uma espécie de onda de choque em ambos os lados do Atlântico pelo seu retrato inflexível da vida como não mais do que química e estatística.
Esses homens, além de ocuparem posições de poder e liderança no ensino académico, também eram escritores prolíficos e importantes, cuja influência se generalizou na formação do consenso. Na Grã-Bretanha, a teoria de Darwin tem sido quase uma empresa familiar para os Huxleys: Thomas Huxley actuando como campeão de Darwin e o neto Julian tornando-se num igualmente eminente biólogo. «Evolution, the Modern Synthesis» de Julian Huxley, revisto em 1963, é provavelmente o trabalho publicado mais próximo de um livro abrangente sobre a evolução sintética (e constitui um valioso ponto de partida para qualquer inquiridor sobre o assunto).
Discordar da ideia científica dominante das ciências da vida no Século XX e XXI pode parecer um acto temerário e desnecessário. Afinal, como é que tantos cientistas importantes poderiam estar errados? Certamente, apenas fanáticos religiosos poderiam questionar a evolução.
Mas as principais descobertas que minaram a teoria darwinista vieram de uma nova geração de cientistas, pouco preocupados com teorias autoritárias e mais preocupados em desvelar segredos.
há muito considerado estabelecido em linhas gerais. No entanto, essas novas descobertas foram ignoradas pela ideologia dominante da ciência, principalmente por causa do enorme investimento de tempo, dinheiro, recursos e reputações científicas que o neo-darwinismo representa.
As suas descobertas surgiram de investigações em cada uma das complexas interligações entre disciplinas que compõem a teoria darwinista: Geologia, Estratigrafia, Petrologia, Datação Radioactiva, Paleontologia, Anatomia Comparativa, Biologia, Zoologia, Genética, Biologia Molecular e Química Orgânica. Essas descobertas atormentam e desafiam muitos dos princípios fundamentais sobre os quais a teoria foi erigida. Princípios tão elementares como a idade da Terra, a formação das rochas sedimentares e a formação das características principais da crosta terrestre, os limites específicos das variações, as causas das extinções e até mesmo as possíveis origens da vida – algo há muito considerado perfeitamente estabelecido, nos seus traços gerais. No entanto, estas novas descobertas foram ignoradas pela ideologia dominante da Ciência, principalmente por causa do enorme investimento de tempo, dinheiro, recursos e reputações científicas que o neodarwinismo representa.
Mas, claro, há muito mais no compromisso da ciência com o neodarwinismo do que o carreirismo. É um conjunto de ideias perfeitamente interligadas, elegante, abrangente e racional que fornecem uma base importante para a compreensão de uma das áreas mais misteriosas do estudo científico: a origem e o desenvolvimento da vida.
Fontes:
[1] Francis Crick (1970). Central Dogma of Molecular Biology. Nature volume 227, páginas 561–563.
[2] Jacques Monod (1972). Chanche and Necessity. Vintage Books: New York.
[4] Livro «Shattering the Myths of Darwinism» de Richard Milton