Um dos maiores enigmas da América pré-colombiana é o das misteriosas esferas de pedra da Costa Rica. Centenas destas bolas de pedra, que variam em diâmetro desde alguns centímetros até aos dois metros e a maior pesa dezasseis toneladas, foram encontradas na região de Diquis, perto das povoações de Palmar Sur e Palmar Norte, junto à costa do Pacífico no Sul da Costa Rica. A maior parte foi feita de granodiorite, uma rocha ígnea e dura, semelhante ao granito, mas também há alguns exemplares feitos de coquina, um tipo de calcário composto maioritariamente por conchas e fragmentos de concha.
As esferas foram desvendadas pela primeira vez na década de 1930, quando a United Fruit Company estava a desbastar floresta para plantar bananeiras e outras árvores de fruto. Os trabalhadores da empresa descobriram os objectos e, lembrando-se de uma lenda local em que se dizia que as esferas tinham um núcleo de ouro, rebentaram muitas com dinamite. Em 1948, o Dr. Samuel Lothrop, do Museu Peabody da Universidade de Harvard, e a sua mulher estudaram as esferas de pedra no seu contexto original e publicaram em 1963 um relatório final do estudo. No relatório, Lothrop registou um total de cento e oitenta e seis exemplares, apesar de ter ouvido falar de um local perto de Jalaca que tinha mais quarenta e cinco bolas, antes de serem levadas para outros locais. Também houve achados na ilha de Cano, vinte quilómetros a oeste da costa do Pacífico na Costa Rica. Com estas evidências parece que existiram outrora centenas destas esculturas de pedra. Desde os anos quarenta, a maioria das esferas foi removida do seu contexto original, sendo muitas vezes levadas de comboio para o outro lado do país. Hoje em dia, apenas são conhecidas seis que ainda estão no seu local original. Algumas podem ser vistas em exposição no Museu Nacional e várias estão em parques e jardins da capital do país, San José.
A pesquisa académica sobre as esferas de pedra da Costa Rica já vem sendo feita há mais sessenta anos. Começou em 1943 com um estudo dos objectos pela arqueóloga Doris Zemurray Stone, filha de Samuel Zemurray, fundador da United Fruit Company. Ela examinou as pedras directamente após a sua descoberta pelos trabalhadores da empresa. Stone, que mais tarde veio a ser directora do Museu Nacional da Costa Rica, publicou as suas descobertas no jornal American Antiquity em 1943. O estudo contém planos de cinco locais, incluindo quarenta e quatro esferas, e a sua interpretação era de que estas podiam ter servido como imagens de culto ou lápides, ou então estavam ligadas a algum tipo de calendário. A publicação do estudo de Lothrop, em 1963, inclui mapas dos sítios onde as esferas foram encontradas e registos exaustivos de artefactos de cerâmica e metal encontrados em associação ou nas proximidades das esferas de pedra. Também estavam incluídas no estudo inúmeras fotografias e desenhos das esferas, bem como medições e notas sobre o seu alinhamento.
Escavações arqueológicas posteriores, nos anos cinquenta, revelaram uma associação entre as esferas de pedra e artefactos de cerâmica e outros materiais conhecidos de culturas pré-colombianas no Sul da Costa Rica. Desde então foram feitos muitos outros estudos, sendo o mais meticuloso o da arqueóloga Ifigênia Quintanilla, do Museu Nacional da Costa Rica, entre 1990 e 1995. Os arqueólogos há muito que se questionam sobre a origem destas estranhas esferas e se são um fenómeno natural ou feitas pelo Homem. Alguns geólogos sugeriram que as pedras se formaram naturalmente e teorizaram que quando um vulcão soltou o magma no ar ele caiu num vale quente e cheio de cinza; as bolhas de magma arrefeceram gradualmente até formarem esferas. Outra sugestão é que os blocos originais de granito foram posicionados num poço feito pelo Homem sob uma poderosa cascata e o efeito da água a cair continuamente acabou por modelar as pedras na forma de esferas quase perfeitas. Apesar destas teorias, o mais provável é que as pedras sejam feitas por mão humana, especialmente se tivermos em conta que a granodiorite de que são feitas não existe naturalmente na região. A pedreira de onde a rocha teve origem fica na cordilheira de Talamanca, a cerca de oitenta quilómetros da área onde as bolas foram encontradas. A arqueóloga Ifigênia Quintanilla levou a cabo trabalhos de campo na área onde as esferas foram descobertas entre 1990 e 1995 e descobriu a fonte da matéria-prima, bem como alguns rochedos que são provavelmente exemplos inacabados das esferas de pedra. As escavações de Quintanilla também revelaram flocos das pedras que indicam como terão sido feitas. Os seus achados sugerem que o método mais plausível teria sido começar a reduzir um rochedo vagamente circular a uma forma mais esférica, aquecendo-o e arrefecendo-o alternadamente para fracturar a rocha. Os construtores teriam depois alisado as rochas com martelos de pedra, talvez do mesmo material, e finalmente poderiam poli-las utilizando outras ferramentas de pedra.
Existe um preconceito errado em relação a estes objectos. Muitas pessoas pensam que são esferas quase perfeitas, com uma precisão de até 1,2 cm ou 0,2 por cento, como alguns sugeriram. Não é o caso, pois nenhuma das esferas medidas era tão precisa. As esferas não são de todo perfeitas, algumas chegam a diferir mais de cinco centímetros em diâmetro de uma esfera perfeita. Um problema diferente que se coloca é como as sociedades pré-colombianas levaram as pedras até àqueles locais. Uma tal tarefa aponta certamente para uma cultura avançada e organizada (apesar de as pedras poderem ter sido esculpidas numa pedreira da montanha, sendo óbvio que os objectos esféricos rolam facilmente, em particular montanha abaixo).
A questão de quem e por que razão estas esferas foram feitas é bem mais complicada de responder. De acordo com arqueólogos, as esferas terão sido esculpidas durante dois períodos culturais distintos. Apenas resta uma mão-cheia de esferas do primeiro período, conhecido como o Período Aguas Buenas, que durou entre 100 e 500 d. C. Na segunda fase, o Período Chiriquí (entre 800 e 1500 d. C.), parece ter sido manufacturado um número maior de pedras, que foram distribuídas ao longo da parte mais a sul do rio Terraba. Contudo, isto nada nos diz sobre a função das esferas. Pondo de lado a ajuda dos extraterrestres ou dos atlantes, a teoria mais estranha é que as esferas foram colocadas por uma cultura pré-histórica extremamente avançada para servirem de antenas, que fariam parte de uma rede de energia mundial. No entanto, sem provas concretas uma tal teoria é infundada e tão mítica como a lenda local segundo a qual as pessoas dessa região tinham acesso a uma poção com a qual conseguiam amaciar a rocha. No seu livro de 1988, «Atlantis in America: Navigators ofthe Ancient World», Ivar Zapp e George Erikson sugerem que as esferas foram montadas como instrumentos de navegação por uma raça marinha da antiguidade, uma raça que influenciou o filósofo grego Platão a escrever sobre o continente perdido da Atlântida. Contudo, esta teoria requer que as pedras estejam suficientemente perto da costa para serem vistas pelos navegadores, o que não é o caso. Também pressupõe uma precisão nos alinhamentos entre as esferas que não está presente nos exemplos que restam nos seus locais originais.
Não sabemos realmente porque foram feitos estes objectos, em particular porque a maioria foi retirada dos seus locais de origem. Isto é um problema significativo, pois o arranjo das pedras deveria ser de importância vital para o povo que as criou. Contudo, mediante os indícios de que dispomos, a teoria mais provável é que as esferas teriam servido como marcas de algum tipo, talvez fronteiras de propriedades ou símbolos de estatuto social. Outra ideia, tendo em conta que muitas foram originalmente encontradas em alinhamentos, é que poderiam ter representado o Sol, a Lua e todos os planetas conhecidos na época em que foram aí colocadas. Até foi sugerido que representavam um sistema solar completo. Um facto interessante referido por Lothrop nos anos quarenta é que várias das esferas que examinou pareciam ter rolado dos montes das vizinhanças, onde outrora se encontravam habitações. Talvez as esferas tivessem estado no interior destas estruturas no cimo dos montes, apesar de isso as tornar inúteis para a Astronomia e certamente ainda mais para os navegantes. É provável que as esferas tivessem diversas utilidades, talvez tenham mudado ao longo dos mais de mil anos da sua existência. Uma ideia interessante é que a laboriosa manufactura das esferas pode ter sido por si só um ritual significativo e tão importante – ou talvez mais ainda – como o produto final.
Desde a sua descoberta, as esferas de pedra da Costa Rica têm sido afectadas pela exposição às variações de temperatura, erosão pela chuva, irrigação e queimadas periódicas. Em 1997, a Landmarks Foundation foi criada para conservar os locais e paisagens sagradas em todo o mundo. Em 2001, com a cooperação de várias organizações governamentais e da fundação, o Museu Nacional da Costa Rica pôde transportar muitas das pedras de San José para a sua localização original. Estão agora a ser armazenadas e protegidas, até que possa ser construído um centro cultural que as albergue e exiba nas suas localizações originais no delta do Diquis.
Os arqueólogos ainda encontram ocasionalmente novos exemplares das esferas na lama do delta do Diquis e provavelmente haverá mais por aí. Na Costa Rica moderna as pedras podem ser encontradas em museus, a adornar os relvados no exterior de vários edifícios oficiais, hospitais e escolas. Duas delas foram transportadas para os EUA: uma está exposta no museu da National Geographic Society, na cidade de Washington, e a outra encontra-se num pátio perto do Museu Peabody de Arqueologia e Etnografia da Universidade de Harvard, em Cambridge, no Massachusetts. As esferas também podem ser encontradas decorando os jardins das casas dos ricos, onde são vistas como símbolos de estatuto social. De certa forma, apesar de muitas delas terem sido há muito deslocadas dos seus locais originais, algumas podem estar a servir o propósito para o qual foram criadas originalmente.