Existem mais coisas a navegar pelos mares do que Horácio jamais poderia ter imaginado. Vejamos, por exemplo, a história do predestinado navio Palatine, imortalizado no poema homónimo de John Greenleaf Whittier. Em 1752, segundo a história, o Palatine zarpou da Holanda com um grupo de imigrantes, em direção a Philadelphia.
De acordo com o poema de Whittier, a tripulação amotinou-se nas proximidades da ilha Block, na Nova Inglaterra, depois do navio ter encalhado na costa. Ali queimaram-no, indiferentes aos gritos de uma pobre passageira, que ficara para trás.
Conforme a lenda, o navio fatídico reaparece, periodicamente, como uma bola de fogo incandescente no mar. Whittier descreve-o com as seguintes palavras:
“Vejam! Outra vez, com uma luz trémula e brilhante, sobre as rochas e no mar revolto, os destroços incandescentes do Palatine“.
Infelizmente, nenhum registo apresenta o Palatine partindo da Holanda, nem de qualquer outro porto de escala. Mas nesse exemplo, pelo menos, os fatos são tão constrangedores quanto a lenda poética. Os registos mostram que o navio denominado Princess Augusta “levantou ferros” em Rotterdam em 1738, com destino a Philadelphia, com um contingente de 350 passageiros alemães dos distritos do Palatinado do Norte e do Sul. Desde o início, a viagem estava predestinada a um trágico desfecho.
A entrada de água contaminada matou metade dos tripulantes e um terço dos passageiros nos camarotes, inclusive o capitão George Long, que morreu após ingerir um único gole fatal. Além disso, o Princess Augusta enfrentou condições climáticas adversas e mares bravios, que o tiraram do seu rumo. Os tripulantes aumentaram ainda mais o caos da embarcação, quando passaram a extorquir dinheiro e bens materiais dos sobreviventes.
Quase que misericordiosamente o navio encalhou, no dia 27 de Dezembro, no litoral norte da ilha Block. Os ilhéus salvaram muitos passageiros, porém não puderam resgatar-lhes as bagagens devido às actividades dos tripulantes. Eles conseguiram desencalhar o Princess Augusta, mas deixaram que fosse de encontro às pedras e naufragasse. Mary Van der Line, que desmaiara na confusão, afundou com o navio, guardando até ao fim os seus baús com vários utensilios de prata. Dos 364 passageiros e tripulantes que embarcaram em Rotterdam, somente 227 sobreviveram.
Mas, e o fogo, “a luz trémula e brilhante”, sobre o qual Whittier escreveu?
Pouco depois do naufrágio do Princess Augusta, outro capitão, que passava pela ilha, informou ter visto um navio em chamas em alto-mar. Ele anotou no seu diário de bordo: “Fiquei tão angustiado com aquela visão que seguimos o navio em chamas até à sua sepultura marítima, mas não conseguimos encontrar nem sobreviventes nem fragmentos de naufrágio”.
No entanto, o que os observadores viram desde então passou a ser conhecido como a “luz do Palatine“, um brilho fantasmagórico que, às vezes, surge nas águas, nas proximidades da ilha Block. O médico local, Dr. Aaron C. Willey, escreveu em 1811:
“Umas vezes, ela é pequena, parecendo uma luz vista através de uma janela distante. Outras vezes, ela alcança a altura de um navio com todas as velas enfunadas. A luminescência, na verdade, emite raios luminosos”. A causa desse “brilho errante é um curioso assunto aberto à especulação filosófica. É assunto aberto, também, para aqueles que acreditam que a vida imita a arte, em todas as suas ramificações”, acrescentou Willey.
Fonte: Livro «O Livro dos Fenómenos Estranhos» de Charles Berlitz