Entre as eternas curiosidades da história das previsões figuram as chamadas Profecias de São Malaquias. Consistem numa lista de 111 epítetos que caracterizam individualmente os Papas que sucederam a Celestino II, que ocupou o trono papal de 1143 a 1144. São Malaquias, o suposto autor, foi um eclesiástico e reformista que morreu no ano de 1148. Amigo de São Bernardo de Claraval, deu a conhecer a ordem cisterciense ao povo irlandês. Contudo, São Bernardo, nos seus relatos sobre a vida de São Malaquias, não faz qualquer menção às Profecias. A primeira referência a tal facto ocorreu em 1595, numa altura em que as Profecias papais estavam em voga.
O longo desaparecimento da lista de São Malaquias atraiu inevitavelmente suspeitas e, algumas décadas depois do seu reaparecimento, não faltaram insinuações de que a lista era uma falsificação. Dizia-se ter sido criada na altura da eleição papal de 1590 para favorecer um certo cardeal Simoncelli de Orvieto. A divisa no ponto apropriado da sequência é De antiquitate urbis, «Da Cidade Antiga», e Orvieto deriva do equivalente latino de «cidade antiga». No entanto, os defensores das Profecias propunham uma explicação alternativa para tão longo desaparecimento. São Malaquias, afirmaram, apresentara a lista ao Papa Inocêncio II numa visita a Roma em 1140 e esta simplesmente perdeu-se nos arquivos do Vaticano.
Epítetos e brasões de armas
A controvérsia sobre a autenticidade do documento perdura até hoje. Algumas Profecias mais antigas contam, sendo sem dúvida, com uma adequação tal que parecem mais ser uma retrospecção. Por exemplo, ao quinto Papa da lista, Adriano IV (1154 a 1159), é-lhe atribuído o moto De rure albo, «De Um Campo Branco». Tratava-se do inglês Nicolau Breakspear, proveniente de Saint Albans. Alexandre IV (1254 a 1261), Signium Ostiense, foi cardeal de Óstia antes de ser eleito. O Papa eremita Celestino V (1294) foi considerado Ex eremo celsus, «Elevado da Solidão».
Os cépticos vêem, em tais fiéis associações, Profecias proferidas após o acontecimento. O mais interessante, talvez, são as previsões após 1590, certamente são posteriores à autoria da lista. Muitos críticos consideram que se seguiu mesmo um declínio, mas existem ainda algumas frases surpreendentemente apropriadas. A Bento XV (1914 a 1922), cujo papado coincidiu com a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa ateísta, é atribuído Religio depopulata, «A Religião Despovoada».
Outros Papas podem ser associados às divisas de São Malaquias através dos respectivos brasões. O de Clemente XIV (1769 a 1774) apresentava um urso a correr, imagem associada às palavras Ursus velox, «O Urso Veloz». No brasão de Leão XIII (1878 a 1903) lia-se Lumen in caelo, «A Estrela no Céu», ostentando um cometa, ao passo que o de Paulo VI (1963 a 1978), Flos florum («A Flor das Flores»), incluía uma flor-de-lis.
É, sem dúvida, fácil de exagerar a precisão da lista simplesmente ao citar os seus sucessos. Outras atribuições não combinavam tão bem. João Paulo II, o polaco que em 1978 foi o primeiro Papa não italiano em 450 anos, é denominado De labore solis, «Do Trabalho do Sol». As tentativas de encontrar uma relação pelo facto de ser oriundo de Cracóvia, a terra natal de Copérnico, que interpretou pela primeira vez a órbita solar da Terra, parecem forçadas.
Estranhamente, a lista de São Malaquias está agora prestes a terminar. Existe apenas mais um moto após o de João Paulo: Gloria olivae, «A Glória da Oliveira». E eis que a sequência termina com uma previsão agourenta: no papado de um novo Pedro, a Igreja sofrerá uma derradeira perseguição, após a qual Roma será destruída e o Juízo Final tornará forma.
Previsão de São Malaquias sobre o último Papa, que será eleito no decorrer do Século XXI:
«Na última perseguição à Santa Igreja romana
reinará Pedro, o Romano, que alimentará as ovelhas
entre grandes tribulações e, quando estas
terminarem, a Cidade das Sete Colinas
estará completamente destruída e o terrível juíz
julgará o povo.»
Fonte: Livro «As Profecias que Abalaram o Mundo» de Tony Allan