Se considerarmos o continente atlante como uma realidade e não como uma região mítica ou ficcional, e entendermos que o relato que Platão nos deixou dela guarda uma antiga memória popular de eventos que ocorreram de facto, somos confrontados com a necessidade de provar não apenas através dos factos da geologia que esse continente existiu em tempos, mas também que era habitado por homens que tinham alcançado um tipo de civilização bastante avançado. Em vista de todas as circunstâncias, e num caso onde não existem Documentos escritos concretos, não é tarefa de pouca dificuldade ou complexidade, mas espero conseguir demonstrar que o relato de Platão encaixa tão perfeitamente com as descobertas comprovadas da Arqueologia e da etnologia modernas que seria um risco considerável negá-lo.
Platão diz-nos que, numa data que podemos estabelecer aproximadamente como 9.640 anos a. C., um grande número de invasores “avançou com injustificada insolência sobre toda a Europa e a Ásia, partindo do oceano Atlântico“. Ora, terá esta invasão ocorrido de facto por volta do período mencionado? E será que a Ciência Antropológica lança alguma luz sobre este êxodo ou movimento popular?
Dois bem conhecidos geólogos alemães, Penck e Bruckner, encontraram evidências de uma série de variações climáticas menores, subsequentes às quatro principais glaciações da grande Idade do Gelo, que conduziram gradualmente às condições modernas. A estas, chamaram “estádios”, e deram-lhe os nomes de Buhl, Gsnitch e Dorn, de acordo com as condições topográficas que parecem ter criado. Penck coloca o fim do estádio Dorn aproximadamente por volta de 7.000 a. C., do Buhl por volta de 20.000 a. C., e do Gsnitch entre os outros dois, ou seja, por volta de 10.000 a. C. Esta última é a data geralmente aceite para a chegada a Espanha e ao Sul de França de uma raça conhecida como o homem azilense-tardenoisense. Este povo, segundo crê o Abbé Breuil, a maior autoridade viva sobre a matéria da pré-história em França e Espanha, terá vindo de “origens circum-mediterrânicas” há cerca de dez mil anos.
A raça azilense deve o seu nome a uma gruta ou túnel, conhecido como Le Mas d’Azil, na região de Ariège, nos Pirenéus, onde os seus depósitos foram descobertos por Edouard Piette[1]. Ele encontrou os seus restos depositados em nove estratos, em ambas as margens do rio Arise, que passa pelo túnel Mas d’Azil, e as suas características, conforme os detritos recolhidos ilustram, são as seguintes: o povo cujos restos ele descobriu neste local devia ser marcadamente vegetariano e frutívoro, pois Piette descobriu os caroços ou cascas de bolotas de carvalho, pilritos, abrunhos, avelãs, castanhas, cerejas, ameixas e nozes. Encontrou também um punhado de sementes de cevada, sugerindo que cultivavam esse cereal.
Os arpões eram uma característica da cultura azilense, e isto parece indicar que os seus utilizadores eram um povo de hábitos marítimos. Estas armas eram feitas de chifres de veado e tinham formato achatado. Foram encontrados mais de mil destes arpões em Mas d’Azil. Juntamente com estes foram também encontrados muitos colares de conchas, do género que se pode encontrar nas costas francesas do Mediterrâneo e do Atlântico, e isto parece também apontar para uma associação marítima no caso deste povo.
Mas o detalhe mais espantoso exibido pela arte azilense era uma vasta colecção de seixos com certas marcas pintadas, a vermelho, com peróxido de ferro misturado com alguma substância resinosa. Estas marcas consistem de traços verticais, círculos, cruzes, ziguezagues e padrões semelhantes a escadas. Vários caracteres assemelham-se à letra “E“, enquanto outros parecem ser compostos por linhas aleatórias.
A primeira suposição do seu descobridor foi que estes caracteres eram alfabéticos, e chegou a fazer-se a sugestão de que eram os restos de uma escola paleolítica. Outras autoridades acreditavam que se tratava de peças usadas num jogo de perícia. Pareciam também revelar uma forte semelhança com os churíngas dos aborígenes australianos, lajes mágicas ou sagradas, gravadas com símbolos fetichistas ou totémicos. Mas, enquanto os churíngas australianos eram invariavelmente preservados em grutas sagradas, os seixos azilenses pareciam ter sido objectos de uso geral. Abbé Breuil e o Senor Obermeier, o bem conhecido arqueólogo espanhol, deixaram contudo claro, através de um estudo comparativo, que os caracteres representados nos seixos têm uma forte semelhança com os que se encontram pintados em certas grutas de Espanha. São, na verdade, figuras humanas altamente estilizadas que, devido ao uso prolongado, perderam toda a semelhança com a forma humana, tal como as letras do nosso alfabeto moderno não se parecem com as formas originais a partir das quais se desenvolveram. O mais provável é, segundo o Professor Macalister, que sejam representações dos mortos, ou casas dos espíritos, “domicílio para os espíritos dos membros da comunidade falecidos, e que estavam associados com o culto dos mortos[2].”
A cultura azilense foi descoberta em Espanha, especialmente no norte, em Castello e Valli, e em França, na região de Landes, de Haute Pyrenees e de Ariège. A raça penetrou até à Grã-Bretanha, e os seus restos foram encontrados em Yorkshire e Durham, e também na Escócia, na famosa gruta de Oban, explorada em 1894, onde foram encontrados arpões e outros artefactos típicos azilenses. Também na ilha de Oronsay foram desenterrados, num túmulo de conchas, arpões azilenses achatados, e o facto de o homem azilense nesta região ter alguns conhecimentos de navegação é revelado pela presença no solo de conchas de variedades de caranguejos do mar alto.
Outra característica da cultura azilense são os objectos geralmente descritos como sílex pigmeu ou “tardenoisense”, que deve o seu nome à localidade de Fère-en-Tardenois, na região de Aisne, em França. São pequenas lascas de sílex, geralmente com cerca de dois centímetros de comprimento, semelhantes a pontas de flecha. A maioria foi encontrada próximo do mar, e destinavam-se provavelmente a servir como anzóis. Não são necessariamente azilenses, embora sejam frequentemente associadas a essa cultura, e o nome “tardenoisense” aplica-se-lhes portanto separadamente. Parecem, de facto, estar mais especificamente relacionadas com a cultura actualmente conhecida como “capsense” (geralmente atribuída ao norte de África, e assim chamada a partir de Capsa ou Gapsa, em Tunes) que floresceu nessa região muito antes do aparecimento dos azilenses na Europa, e que invadiu a península espanhola. “Com a cultura capsense” observa Macalister, “devem indubitavelmente ser associadas as pinturas rupestres de Alfera, Cogul, e outros lados…] Daí se conclui que estes são dois fortes laços a unir a cultura capsense com a cultura azilense. A arte capsense é o progenitor, a partir da qual derivaram os seixos pintados de Le Mas d’Azil, e a indústria de sílex capsense deu origem à azilense-tardenoisense.” O arco, segundo ele, foi também introduzido na Europa pelo povo capsense.
De onde vieram então os azilenses e os seus antepassados, os capsenses? “A indústria dos arpões de osso dos azilenses” diz o Professor Osborn, “bem como a indústria microlítica do sílex tardenoisense, eram em grande medida exploradas por um povo de pescadores.” Breuil crê que os azilenses têm origem mediterrânica, e entende que a gradual introdução da cultura azilense nesta área se fundiu com formas mais antigas. A cultura azilense, na sua fase mais antiga, pode ser encontrada no norte de África e no sudoeste da Europa.
A questão para nós, aqui, é: ter-se-á desenvolvido nestas regiões, ou terá sido introduzida nelas? O povo azilense foi sem dúvida o percursor da raça neolítica, o povo da Nova Idade da Pedra, e trouxe consigo, para a Europa, um modo de vida inteiramente novo, uma nova arte, novas crenças religiosas. Invadiram a Europa num período que, genericamente falando, pode ser equiparado com a data que nos é dada por Platão. Devem ter invadido a Europa aos milhares, desalojando os antigos habitantes aurignacenses, ou Cro-Magnon, e destruindo a sua cultura relativamente elevada.
E quem eram estes “primeiros habitantes”? Teriam eles um carácter tão civilizado, possuiriam uma arte que os identificasse de alguma forma com os “atenienses” de que fala o sacerdote egípcio de Platão? A resposta é sim. “Este povo” diz o Professor Osborn, referindo-se aos aurignacenses, “eram os gregos paleolíticos; a observação e a representação artística, bem como um verdadeiro sentido de proporção e de beleza, eram para eles instintivos desde o princípio. A sua indústria da pedra e do osso pode mostrar vicissitudes, bem como a influência da invasão e do comércio e a chegada de novas invenções, mas a sua arte mostra uma evolução e um desenvolvimento contínuos desde o início, animada por um único motivo, nomeadamente a apreciação da beleza da forma e a sua representação realista[3].” Noutro lado, ele diz ainda: “A arte decorativa tornou-se agora uma paixão (para os aurignacenses) e são numerosas as ferramentas de esculpir de várias formas, curvas, direitas, convexas ou côncavas — diversificadas tanto em tamanho como em estilo de técnica. Podemos imaginar que os longos períodos de tempo frio e rigoroso eram passados nestas ocupações[…] Eram também necessárias ferramentas fortes e muito afiadas para esculpir figuras humanas em marfim e em pedra-sabão, como as estatuetas encontradas nas grutas de Grimaldi e Willendorf, e ferramentas ainda mais poderosas para trabalhos como os grandes baixos-relevos em Laussel […] À medida que esta evolução industrial se alarga, torna-se evidente que testemunhamos, não apenas a evolução local de um único povo, mas sim a influência e colaboração de inúmeras colónias, com maior ou menor influência umas sobre as outras, e que espalham as suas invenções e descobertas[4].”
Esta raça dotada, os Cro-Magnon, a cuja arte se chama geralmente “aurignacense”, a partir das descobertas feitas na gruta de Aurignac, em França, foi originalmente localizada por M. E. Lartet perto da pequena aldeia de Cro-Magnon, junto de Les Eyzies, em Vezère.
A descoberta dos restos desta raça, os percursores dos azilenses, despertou de imediato um grande interesse no mundo científico, pois a altura e capacidade cerebral observada nos esqueletos recuperados era tão extraordinária que forçou os antropólogos a tirar a conclusão de que, em tempos, deve ter residido na Europa uma espécie de homem muito mais alta. A altura média do homem de Cro-Magnon era de um metro e oitenta e cinco, tinham braços relativamente curtos, um sinal de elevado desenvolvimento racial, e uma caixa craniana de capacidade extraordinariamente grande. Esta raça chegou à Europa no final da Idade do Gelo, aproximadamente há vinte e cinco mil anos, e parece ter praticamente eliminado o tipo humano baixo e subdesenvolvido, conhecido como Neandertal, que encontrou já bastante disperso.
Os túmulos Cro-Magnon apresentam um novo aspecto na arqueologia do Paleolítico ou Velha Idade da Pedra. São amplamente fornecidos de instrumentos de sílex, seixos, conchas perfuradas, dentes e outros amuletos. Grandes mantos ou adornos de conchas parecem ter-lhes coberto todo o corpo ou parte dele, e estão presentes todos os sinais de que a raça acreditava piamente num estado futuro, e enterrava as suas posses com o indivíduo para uso nesse outro mundo. Além disso, alguns dos hábitos fúnebres dos Cro-Magnon indicam indubitavelmente as primeiras tendências, ainda que grosseiras, para o sistema de preservação dos corpos que, mais tarde, viria a desenvolver-se na mumificação. A carne era retirada dos ossos dos esqueletos Cro-Magnon e estes eram pintados de vermelho, a cor da vida. “O homem morto viveria de novo no seu próprio corpo, do qual os ossos eram a estrutura” diz Macalister. “Pintá-los com a cor da vida era a coisa mais próxima da mumificação que os povos do Paleolítico conheciam; era uma tentativa de fazer com que o corpo fosse novamente aproveitável para ser utilizado pelo seu possuidor.”
A arte e as indústrias deste povo admirável, cujos centros principais eram na costa da Biscaia e na região de Dordogne e dos Pirenéus, estavam muito mais avançadas do que as de qualquer outra civilização paleolítica, e ainda podem ser observadas nas grutas que eles habitaram nas localidades mencionadas. A sua produção artística é maioritariamente composta de maravilhosos desenhos, pinturas e esculturas de animais, cavalos, veados, ursos, bisontes e mamutes, e também algumas estatuetas da figura humana, que seriam provavelmente ídolos ou deuses. Esta arte aurignacense floresceu ao longo de um período de quinze mil anos, ou seja, entre vinte e cinco e dez mil anos atrás, altura em que os capsenses e os azilenses surgiram e os substituíram. O seu maior período ficou conhecido como o magdalenense. Qualquer livro que fale da arte aurignacense, por exemplo o «Text-book of European Archeology» de Macalister, ou «Men of the Old Stone Age» de Osbom, consegue convencer rapidamente o leitor da sua grande superioridade e do seu carácter “moderno”, e garantir que a raça que a produziu não pode ser classificada como meramente selvagem. Pelo menos em termos de fluência e de originalidade a arte aurignacense é, na verdade, vastamente superior à do Egipto ou da Babilónia e, para alcançar um tal padrão de excelência, deve ter-se desenvolvido noutro local que não a área onde vigorou durante muitos milhares de anos. Mas onde? Esta raça altamente desenvolvida, de pintores e escultores, que concebia e executava obras tão admiráveis e de uma genialidade tão incomparável, possuidora de um gosto tão cultivado e de um toque tão seguro, deve ter uma longa História em alguma outra região.
Talvez nenhum outro arqueólogo vivo possa pronunciar-se com tanta autoridade sobre o problema do mundo do Paleolítico Superior como Abbé Breuil. Na sua opinião, ocorreram sucessivas invasões de cultura, provenientes da região do Mediterrâneo ou da parte da costa da Biscaia, de França e Espanha, a que ele chama “Atlântica“. “O testemunho arqueológico” diz-nos Osborn, “apoia fortemente esta hipótese de uma invasão de cultura, e ela parece também ser reforçada em certa medida pelo estudo dos tipos humanos.” “Dificilmente podemos considerar a hipótese de a origem se encontrar a leste”, diz Breuil, “porque ainda não foram encontrados vestígios destas primeiras fases da indústria aurignacense na Europa Central ou de Leste.” “Uma origem sulista” diz Osborn, “parece mais provável, porque as colónias aurignacenses parecem rodear toda a periferia do Mediterrâneo, sendo encontradas no norte de África, na Sicília, e nas penínsulas italiana e ibérica, a partir de onde se espalharam para grande parte do sul de França. Em Tunes encontramos um aurignacense muito primitivo, como o de Abri Audit em Dordogne, com utensílios sem dúvida semelhantes aos de Chantelperron, em França. Mesmo mais a Oriente, na gruta de Antelias, na Síria, bem como em certos locais da Fenícia, encontram-se depósitos de cultura que são caracteristicamente aurignacenses”; mas “a pura indústria aurignacense original encontra-se nas regiões de Dordogne e dos Pirenéus“.
“O povo Cro-Magnon” diz Macalister, “independentemente de onde e como tenha tido origem, desenvolveu e estabeleceu as suas características especiais em algum centro extra-europeu, antes de ter invadido o nosso continente.”
Cremos que o homem de Cro-Magnon chegou ao sudoeste da Europa num período em que estavam a ter lugar grandes afundamentos de terras, tanto na Europa como na área atlântica. É significativo, na verdade, que estes locais aurignacenses descobertos em Espanha e França estejam, sem excepção, situados na região da Biscaia, e não nas costas mais a sul da península. É também digno de nota, como já demonstrei noutra obra[5], que a cultura do povo guanche, nas Ilhas Canárias, seja indubitavelmente aurignacense. Esta relação é defendida por Osborn, René Verneau e pelo falecido Lorde Abercromby, e prova que a raça Cro-Magnon era indígena das Ilhas Canárias, elas próprias fragmentos da Atlântida, e não que as alcançou a partir da Europa. Tal como muitos dos animais e plantas destas ilhas vestigiais, o homem de Cro-Magnon ficou nelas isolado devido a algum grande cataclismo natural. No período em que viveu, a navegação marítima ainda não tinha sido sequer pensada. Ele deve ter invadido a Europa no final da Idade do Gelo, ou seja há cerca de vinte e cinco mil anos, através de uma ponte terrestre ainda existente. É óbvio que não partiu da Europa para as Canárias, uma vez que é como invasor da Europa, recém-chegado a esta, que primeiro foi descoberto.
Existem outras evidências de que o homem de Cro-Magnon era de origem extra-europeia. No seu «Races of Europe», o Dr. Ripley avança com a teoria de que os bascos do Norte da Espanha e do sul da França falam uma língua herdada dos Cro-Magnon. “Vale a pena considerar esta hipótese” diz Osborn, “pois não é de todo inconcebível que os antepassados dos bascos tenham conquistado os Cro-Magnon e subsequentemente adquirido a sua língua.” A falta de afinidade entre a língua basca e as outras línguas europeias é bem conhecida, no entanto ela tem fortes semelhanças com algumas formas de discurso americanas. “É indisputável”, diz o Dr. Farrer na sua obra «Families of Speech» (p. 132), “e eminentemente digno de nota, que, apesar de as afinidades das raízes bascas nunca terem sido conclusivamente elucidadas, nunca houve dúvida de que esta língua isolada, que preservou a sua identidade num canto ocidental da Europa, entre dois reinos poderosos, se assemelha na sua estrutura gramatical às línguas aborígenes do grande continente americano, e apenas a estas.” Diz o Professor J. L. Myres, em «Cambridge Ancient History» {p. 48): “A semelhança entre os crânios aurignacenses na Europa e os crânios pré-históricos em Lagoa Santa, no Brasil, e em outras localidades remotas nas orlas da América do Sul, sugere que este tipo de homem esteve em tempos tão amplamente disseminado como os mais antigos tipos de utensílios.” A língua basca pode, assim, ser o único vestígio que resta da língua da Atlântida.
Os Cro-Magnon eram uma raça de pescadores e, tal como os atlantes, tinham uma reverência especial pelo touro, que surge frequentemente representado nas paredes das suas cavernas.
Ora, de onde vieram estas raças da antiguidade pré-histórica, o Cro-Magnon, o capsense e o azilense? Se examinarmos um mapa arqueológico, vemos que o maior número de centros Cro-Magnon, tal como sucede também com o homem azilense, está situado na região da Biscaia e de Dordogne. Aqui temos uma arte completamente desenvolvida que tem por trás, obviamente, muitos séculos de evolução, e que surge subitamente numa localidade onde não existem sinais das suas fases anteriores. As melhores e mais fiáveis autoridades chamam-lhe “atlântica” ou “circum-mediterrânica”, e é certo que não parece ser proveniente de Leste. Nem estou totalmente convencido de que, como Macalister pensa, tenha tido origem na África Central. Não foram descobertos quaisquer vestígios seus nessa área e isso é o suficiente para pôr em causa toda a hipótese (na verdade, o Professor Macalister admite que é apenas uma hipótese experimental da sua parte).
Eu creio que a chegada do homem de Cro-Magnon foi a primeira das várias ondas de imigrantes que inundaram a Europa num período em que o continente da Atlântida estava a passar por Cataclismo atrás de Cataclismo, desmembramento parcial, ou uma violenta erupção vulcânica. Erupções sucessivas e a impossibilidade de continuar no seu habitat original forçaram-nos a atravessar a ponte de terra que existia então entre a Atlântida e a Europa, penetrando assim em França, Espanha, e no Norte de África. O mesmo fenómeno ocorreu no caso do homem azilense. “Parece ser” diz Osborn, falando da cultura aurignacense, “uma invasão técnica na História da Europa Ocidental, e não uma parte inerente da linha principal de desenvolvimento cultural”. Breuil observa que “é como se os elementos fundamentais da superior cultura aurignacense tivessem sido trazidos por algum caminho desconhecido para formar o núcleo da civilização”. “A única explicação possível” diz Macalister, “é que a civilização do Paleolítico Superior tenha sido introduzida na Europa por uma nova população que entrou no continente vinda do exterior.”
Os azilenses, mais recentes, aparecem precisamente na mesma região europeia. É provável que tenham vindo por mar e não pela ponte terrestre que, no período da sua chegada, já teria muito provavelmente desaparecido. Já vimos que era um povo de pescadores de mar alto, como o demonstram as descobertas na gruta de Oban. Osborn diz que os seus centros se encontram geralmente em enseadas de mar ou junto do curso de rios, e chama-lhes “uma população de pescadores”. Devem pois ter possuído embarcações marítimas de carácter bastante fiável. Mas uma cadeia insular, formada por ilhas relativamente próximas umas das outras, entre a Atlântida que se afundava lentamente e a Europa, pode tê-los auxiliado na passagem.
Uma vez que já apresentei provas mais extensivas da origem atlante destas raças no meu livro «The Problem of Atlantis», é desnecessário voltar a sublinhá-la nestas páginas e, no meu livro «Atlantis in America», esforcei-me por provar que a raça Cro-Magnon também se espalhou para a América.
NOTAS:
[1] Ver o seu trabalho Hiatus et lacune; «Bulletin de la Société d’Anthropologie de Paris», série IV, vol. VI, p. 235.
[2] Text-book of European Archeology, p. 531.
[3] Men of the old Stone Age, pp. 315, 316.
[4] Idem, pp. 311, 312.
[5] Ver Problem of Atlantis.