Santiago Camacho, autor de ‘A troika e os 40 ladrões‘, e já citado no artigo «Autor espanhol considera que Portugal foi “atacado sem piedade”», diz que os fundos de investimento estão a enriquecer à custa do nosso empobrecimento.
Santiago Camacho está habituado a investigar grupos extremistas, espiões, Sociedades Secretas e teorias da conspiração. Quando o editor da Esfera dos Livros o convidou para escrever sobre a crise económica, pensou que era engano. Impressionado pelo peso que organismos sem legitimidade democrática têm nas nossas vidas, o jornalista espanhol quis identificar quem governa afinal o mundo. Em ‘A troika e os 40 ladrões’ procura desmontar o sistema económico e denunciar quem nos está a assaltar a casa.
Antes deste livro, escreveu sobre neonazis. Qual dos dois mundos o assusta mais?
Por muito que a sua ideologia nos repugne, um neonazi acha que está a lutar por um mundo melhor. Os assassinos económicos que, como Corleone, fazem “uma oferta que não pode recusar” a algum presidente de um país da América Central, sabem que não estão a fazer nada que ajude a Humanidade. Sabem que vão saquear esse país. São os dois maus, mas fazer mal a tantos seres humanos sem uma justificação moral é ir mais longe.
Nunca tinha escrito sobre economia. Porque aceitou?
Inicialmente pensei que o meu editor se tinha enganado. Mas fiquei curioso. Fui descobrindo que as nossas vidas – onde trabalhamos, quanto ganhamos, se casamos, se temos filhos, se mudamos de país – dependem de organizações que não conhecemos. E isso foi uma revelação.
A troika é um dos ladrões?
A troika pode ser um instrumento para os ladrões. A troika não rouba, mas há muita gente que beneficia de forma ilegítima do que decide a troika. Um exemplo claro são os países onde foram aplicadas as medidas do FMI. Muito poucos foram beneficiados. O PIB per capita caiu e há mais pobres e mais ricos. Os 5% que mais dinheiro têm ganharam mais dinheiro. O dinheiro flui de uns bolsos, os nossos, para outros. E isso são os ladrões. Esta crise foi criada por bancos de investimento que venderam produtos financeiros que nem eles entendiam. Quando viram que ia rebentar, eles próprios começaram a apostar contra os produtos que tinham vendido. E enriqueceram enormemente do empobrecimento de espanhóis, gregos, italianos e portugueses.
24 de Fevereiro de 2012