Autoridades estão a reger-se por entidade controversa ao declarar 5G inofensivo

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Autoridades: Logotipo da ICNIRP - International Comission on Non-Ionizing Radiation Protection
Logotipo da ICNIRP - International Comission on Non-Ionizing Radiation Protection

Muitos cientistas estão a soar o alarme acerca dos potenciais danos para a Saúde causados pela radiação da tecnologia móvel. Algo completamente infundado, asseguram algumas autoridades que recebem o aval de um pequeno círculo de informantes que têm estabelecido os limites de segurança e que rejeitam a investigação que tem soado o alarme.

No site da fonte para este artigo, é apresentado um mapa com todos esses informantes, e as suas ligações estreitas que convergem todas para o mesmo sítio, sendo sinal claro de conflito de interesses que impede a sua isenção na matéria.

Mapa de Confluências e Conflitos de Interesse
Mapa de Confluências e Conflitos de Interesse

Investigação

Será perigosa a radiação da tecnologia móvel? À medida que o mundo está a preparar-se para entrar na Era do 5G, engenheiros, físicos, biólogos e médicos ligados a problemas oncológicos podem agora olhar para milhares de estudos e projecções de cálculos sobre os efeitos para a Saúde de campos electromagnéticos de frequência rádio nas anteriores tecnologias 2G e 3G. Mas há um grande desacordo em como interpretar essas descobertas – e as suas implicações para o 5G, para o qual há escassez de estudos.

Curiosamente, um grupo de cientistas domina as entidades que assumiram o papel de fornecer conselhos profissionais sobre o risco das radiações. Isso significa que a investigação de todos acaba por cair no radar dos políticos que precisam usar a Ciência para criar leis e regulamentos.

Isto constitui um monopólio de opinião, afirma Einar Flydal. O antigo cientista social de Telenor na Noruega foi o autor o livro «Smart meters, the law and health». Ele crítica a base científica para os limites considerados seguros de radiação que são aplicados na maioria dos países.

“A maior parte dos investigadores são definidos como dissidentes e são pura e simplesmente silenciados através de um processo que não é eticamente justificável. Isto não pode ser entendido a partir de resultados científicos. Tem de ser entendido politicamente, como o resultado de uma batalha de interesses onde a autoridades de protecção contra a radiação tornam-se frequentemente peões com falta de recursos”, alega Flydal.

A sua perspectiva é contestada por Gunnhild Oftedal, professora associada na Unversidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, especializada em efeitos de campos electromagnéticos em humanos. Ela faz parte de uma pequena rede que determina em que Ciência podemos confiar. Oftedal não gosta do campo de investigação descrito como consistindo em dois campos competitivos.

“Questões que podem ter consequências de longo alcance para indivíduos e para a Sociedade, tornam-se facilmente polarizados, tal como aconteceu com o Debate Climático. No nosso campo é fácil colocar as pessoas em dois lados opostos, mas a paisagem é muito mais cheia de nuances”, refere Oftedal.

As autoridades não fazem investigação

Na Noruega, todos seguem a Direcção de Protecção Radiológica e Segurança Nuclear (NRPA) para obter orientação acerca da radiação. Esta é a autoridade máxima sobre os perigos da radiação para a Saúde.

A NRPA não conduz investigação em radiacção através de campos electromagnéticos (EMF) por si própria, de acordo com o físico e director Tone-Mette Sjømoen. “Dependemos das revisões feitas pelos grupos internacionais de especialistas. Têm em consideração toda a Ciência disponível, avalia-la e tirar conclusões baseadas no quadro geral científico”.

Este estado de coisas é muito típico entre as autoridades de segurança em relação à radiação na Europa, a maioria das quais aceita ou tem recebido aconselhamento de alguns ou de todos estes orgãos científicos:

  • International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection (ICNIRP);
  • EU Scientific Committee on Health, Environment and Emerging Risk (SCENIHR) / (SCHEER);
  • Organização Mundial de Saúde (OMS’s EMF Group);
  • OMS Cancer Unit (IARC) e International Agency for Research on Cancer;
  • Swedish Radiation Safety Authority’s Scientific concelho em campos electromagnéticos;
  • Advisory Group on Non-Ionising Radiation (AGNIR), um comité público do Reino Unido que existiu até 2017.

O Criador de Padrões

Estes grupos devem garantir uma ampla gama de opiniões científicas. No entanto, não é isso que se verifica.

O ICNIRP é um grupo particularmente influente, não só por avaliar a investigação existente em relação à radiação no risco para a Saúde, como também por fornecer as linhas pelas quais se regem os limites de segurança que a maior parte dos países adopta. Trata-se de uma organização privada, registada na Alemanha, nos subúrbios de Munique, por trás de um portão amarelo nas instalações do escritório federal alemão para a protecção contra a radiação. O ICNIRP reserva-se aos direitos de admissão.

Página Principal de um número da Microwave News
Página Principal de um número da Microwave News

“O ICNIRP não possui um processo aberto de eleições para os seus membros. É um grupo auto-perpetuado onde não é permitida nenhuma dissenção. Porque é que tal é problemático?” pergunta Louis Slesin, editor da publicação Microwave News em Nova Iorque. Ele tem seguido atentamente o debate científico sobre a radiação e a Saúde há décadas.

Não há cientistas altamente classificados em número suficiente, explica Mike Repachioli, um pioneiro no estudo dos EMF, que fundou o ICNIRP em 1992, à Investigate Europe. As investigações excluídas normalmente não cumprem critérios elevados, acrescenta Eric van Rongen, líder do ICNIRP. “Não somos contra a inclusão de cientistas que pensem de forma diferente. Mas eles precisam preencher o perfil requerido pela posição deixada em aberto e não apenas pelas suas visões antagonistas”, afirma van Rongen.

Grande sobreposição de cientistas

O ICNIRP é o produtor das normas acerca dos limites de segurança na maior parte da Europa. No entanto, é apenas um de muitos grupos científicos. Os vários grupos são, no entanto, constituídos maioritariamente pelos mesmos especialistas.

Dos 13 cientistas do ICNIRP, 6 são membros de, pelo menos, mais outro comité. No grupo da OMS, são 6 em 7. Um terço de cada investigador que ofereceu aconselhamento acerca das radiações na Comissão Europeia estavam representados noutros grupos.

Gunnhild Oftedal
Gunnhild Oftedal

Não se trata de algo assim tão estranho, de acordo com Gunnhild Oftedal. Ela é membro tanto do ICNIRP como do grupo de pesquisa da OMS. “As pessoas que demonstrarem que têm competências são convidadas a participar. Reparem quem se senta nos quadros e concelhos em geral. É assim em toda a Sociedade“, afirmou.

Os comités concordaram numa premissa básica entre eles: o único risco de Saúde documentado pela radiação móvel é o aquecimento dos tecidos corporais. Os limites de segurança da radiação foram estabelecidos para prevenir que isso aconteça. Desde que haja aderência a estes limites, não há riscos para a Saúde, de acordo com todos à excepção de um dos comités.

Para a maior parte dos utilizadores de serviços móveis é fácil manterem-se a salvo em relação a estes limites: são alcançados ou excedidos apenas estando directamente em frente a uma estação base a uma distância menor do que 10 metros.

E não são quase cinco biliões de utilizadores de serviços móveis em todo o mundo a prova de que isso funciona bem?

Muitos estudos encontraram risco

Não funciona, argumenta um grande número de cientistas que acredita que as pessoas podem ser prejudicadas ao serem expostas a radiação móvel muito abaixo destes limites, especialmente se isso acontecer ao longo de muitos anos. A Oceania Radiofrequency Scientific Advisory Organisation, uma organização australiana examinou 2266 estudos realizados e descobriu “efeitos biológicos significativos ou na saúde” em 68% deles. Por outro lado, o Bioinitiative Group referiu até 1800 estudos ao concluírem que provavelmente muitos desses efeitos biológicos causam danos na Saúde se as pessoas forem expostas durante um período longo. Tal se deve ao facto da radiação interferir com os processos normais do corpo, impedindo-os de reparar o ADN danificado e criando um desequilíbrio no sistema imunitário, afirmam estes cientistas.

De acordo com o relatório produzido pelo Bioinitiative Group, a lista de possíveis danos é assustadora: pobre qualidade do esperma, autismo, Alzheimer, cancro cerebral e leucemia infantil.

O padrão definido serve a Indústria

O ICNIRP está no centro do embate de opiniões entre cientistas. o biólogo holandês Eric van Rongen não descarta que a radiação móvel tem efeitos abaixo dos limites estabelecidos pelas linhas orientadoras de segurança . “Mas não estamos convencidos que esses efeitos são prejudiciais para a Saúde“, confidenciou à Investigate Europe.

O ICNIRP está no processo de publicar uma actualização aos limites de radiação EMF. Os mais antigos são de 1998. Há poucos indicadores de que os cientistas que soaram o alarme tenham tido influência nas novas directrizes.

Os conflitos na investigação dos EMF têm raízes antigas. Historicamente, a Ciência neste campo foi associada ao sector das telecomunicações e dos militares. Os limites de segurança da ICNIRP tiveram inicialmente em consideração as necessidades da indústria de telecomunicações, afirma Dariusz Leszcynski, antigo investigador de longa data na Agência de Protecção contra Radiações Finlandesa. Em 2011, sentou-se no comité da IARC, o orgão ligado à investigação do Cancro da OMS, onde se decidiu que os EMF são “possivelmente cancerígenos” para humanos. Leszczynski não representa o ICNIRP ou qualquer outro grupo de especialistas.

“Os objectivos do ICNIRP são estabelecer limites que não matem pessoas, enquanto a Tecnologia opera – portanto, algo no meio disso”, afirma Leszczynski.

Louis Slesin, o editor da Microwave News repete as mesmas afirmações. “Há muita Política ao decidir o que irá ser feito num estudo e o que é deixado de fora. Por exemplo, excluir pessoas acima dos 60 anos de um estudo em relação à formação de tumores cerebrais na Austrália que foi recentemente publicado, não faz qualquer sentido”, afirma Slesin, apontado para o facto de que os tumores no cérebro acontecem sobretudo nas faixas etárias mais idosas.

Este estudo em particular, em que houve co-autoria de dois cientistas também representados no ICNIRP, concluiu que não há ligação entre os telemóveis e tumores cerebrais porque a incidência de cancro na generalidade das populações tem-se mantido constante durante anos. Este estudo entra num contraste gritante com outro publicado no ano passado em que se descobriu um aumento para mais do dobro de glioblastoma, o tipo mais agressivo de cancro cerebral, entre 1995 e 2015.

A fonte de financiamento pode afectar os resultados (conflito de interesses)

Pelo menos três estudos ao longo do tempo, documentaram que há frequentemente uma ligação entre as conclusões a que os estudos chegam e a fonte do dinheiro que pagou por essa investigação. A Ciência financiada pela indústria tem menos probabilidades de encontrar riscos para a Saúde do que os estudos pagos por outras instituições ou autoridades.

O dinheiro para pesquisa vai frequentemente para universidades onde há barreiras de protecção entre o cientista e o dinheiro, afirma Lennart Hardell, médico oncológico e cientista no Hospital Universitário de Örebro na Suécia. “O problema acontece, no entanto, porque começa a haver dependência em relação a esse dinheiro. A maior parte das pessoas não morde na mão que os alimenta”, acredita o investigador sueco.

Lennart Hardell
Lennart Hardell

Hardell estuda as conexões entre os utilizadores de serviços móveis a longo prazo e o cancro cerebral e concluiu que o primeiro pode causar o segundo. Ele sentou-se no comité IARC em 2011, mas não está representado nos outros comités. De acordo com Hardell, a sua investigação é financiada através do seu salário do hospital e também por fundações de cancro locais e organizações nacionais. “Claro que também tenho trabalhado em muito do meu tempo livre”, afirma.

Martin Röösli foi co-autor de um dos estudos que documentou uma ligação entre a fonte de financiamento e os resultados. O professor associado do Swiss Tropical and Public Health Institute e membro do ICNIRP e outros orgãos consultivos. “Os estudos que são somente financiados pela indústria têm altas probabilidades de serem enviesados”, confirmou Röösli à Investigative Europe. Mas no seu estudo, modelos mistos de financiamento providenciam barreiras protectoras e não resultaram em resultados enviesados – têm também uma qualidade mais elevada. Também poderão haver resultados preferidos em qualquer campo, avisa Röösli: “os investigadores podem criar incertezas de forma a angariar fundos para as suas pesquisas”.

Alguns estudos podem arrastar-se por 15 ou 20 anos. Esses projectos são o pão e a manteiga para os investigadores, argumenta Slesin. Alguns estudos são financiados pela indústria. “Será que isto constitui um conflito de interesse para os cientistas envolvidos?” pergunta Slesin – e responde: “É claro que sim”.

Gunnhild Oftedal não descarta que a fonte de financiamento possa afectar as conclusões – assim como “uma crença forte em algo, fará com que se encontre esse algo”. Tais mecanismos não eram muito considerados anteriormente. “Mas hoje preocupamo-nos com eles. Tenho a impressão de que os cientistas são muito mais cautelosos acerca de receber financiamento da indústria – pelo menos de forma directa”, diz Oftedal.

“A Indústria deveria pagar”

Nem toda a gente deseja denunciar o dinheiro do negócio. A indústria deve definitivamente pagar pela investigação acerca dos perigos dos seus produtos; mas deveria ser conduzida independentemente dos financiadores, pensa Zenon Sienkiewicz, um fisiologista britânico. Faz parte da comissão do ICNIRP e esteve previamente noutros quadros consultivos.

A investigação está criticamente dependente de financiamento externo, acrescenta o antigo cientista do ICNIRP Norbert Leitgeb, professor do Institute of Health Care Engineering na Universidade de Tecnologia de Graz, na Áustria. “A questão não é se a industria fornece dinheiro, o que deve acontecer, caso os produtos sejam motivo de preocupação. A questão mais importante é se estão estabelecidas protecções eficientes que assegurem que os interessados não possam interferir na investigação e influenciar os resultados científicos e as suas conclusões”, afirma.

Novas regras e mais rigorosas

O debate acerca de um potencial enviesamento da indústria ignora o potencial enviesamento por parte de ONGs e grupos de pressão privados, avisa Leitgeb. “Grupos como os de pessoas que se declaram como tendo hipersensitividade electromagnética mereciam a mesma atenção.”

Mike Repacholi
Mike Repacholi

Mike Repacholi fundou o ICNIRP, assim como o projecto de EMF da OMS. No início, o projecto da OMS recebeu um financiamento substancial da indústria. Depois de deixar a OMS, Repacholi tornou-se num consultor industrial.

“Têm havido tantas críticas à investigação financiada pela indústria que a indústria agora já nem financia a investigação. No entanto, são eles próprios a causar preocupações acerca da Saúde. Quem é que perdeu com esta situação?” pergunta Repacholi.

Seja como for, tanto o ICNIRP como a OMS excluem investigadores que tenham recebido apoio por parte da indústria nos últimos três anos.

A OMS e a herança do tabaco

Tanto Eric van Rongen como Gunnhild Oftedal também estão profundamente envolvidos no trabalho da OMS para actualizar o conhecimento desta entidade sobre as radiações e a saúde.

O grupo central de cientistas da OMS tem vindo a trabalhar desde 2012 e era esperado inicialmente que o trabalho fosse completado há muito tempo. Mas as alegações de unilateralidade também devastaram este comité. Agora, a OMS irá reunir um grupo de pesquisa mais alargado que avaliará o trabalho do grupo anterior. Os participantes ainda não foram nomeados, mas incluirão “um vasto espectro de opiniões e conhecimentos”, assegurou um porta-voz da OMS à Investigate Europe.

Muitos críticos dos orgãos dominantes de pesquisa da EMF e a sua ligação histórica à indústria comparam a situação com a forma como os produtores de tabaco conseguiram manter a dúvida acerca do perigo que este constitui para a Saúde. “Eu não gosto dessa comparação, porque aí, os efeitos nocivos eram claros, enquanto em relação à EMF, ainda estamos a tentar perceber a dimensão do problema”, diz Louis Slesin.

A lição a ser aprendida do problema do tabaco, pensa Slesin, é ter de haver cuidado para não ceder demasiado acesso e influência à indústria. “Em 2000, a OMS publicou um importante relatório de mea culpa sobre como permitiu à indústria de tabaco influenciar o seu pensamento. Mas voltaram a repetir a situação com a EMF. E nunca me explicaram porquê”, afirma Slesin.

ICNIRP: Ainda incerteza

A maior parte da investigação em tecnologia de radiação móvel e Saúde foi feita em tecnologia 2G e 3G. Nos próximos anos, a super-rápida 5G será lançada e irá, em parte, utilizar frequências muito mais elevadas daquelas que foram utilizadas anteriormente. O conhecimento científico sobre o que é que isto poderá significar para a Saúde pública é mínimo. Projecções individuais alertaram para a existência do perigo de que altas frequências possam aquecer o tecido corporal. O ICNIRP discorda.

O chefe do ICNIRP, no entanto, concorda com os críticos num aspecto: É necessária mais investigação.

“Absolutamente. Ainda há muita incerteza. Por exemplo, sabemos muito pouco acerca dos efeitos a longo-prazo do uso de telemóveis para o cancro do cérebro, para podermos retirar conclusões. Precisamos absolutamente de mais informação”, refere Eric van Rongen.

Fonte: Investigate Europe

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