Wilhelm Reich (24 de Março de 1896 – 3 de Novembro de 1957) foi um psiquiatra e psicanalista austríaco – americano. Foi membro da segunda geração de psicanalistas depois de Sigmund Freud e uma das figuras mais radicais na história da psiquiatria.
Reich foi o autor de diversos livros e ensaios influentes, sendo os mais conhecidos a “Análise do Carácter (1933)“, “A Psicologia das Massas do Fascismo (1933)” e “A Revolução Sexual (1936)“.
O seu trabalho sobre o carácter contribuiu em muito para o desenvolvimento dos trabalhos de Anna Freud nomeadamente: “O Ego e os Mecanismos de Defesa (1936)“.
Biografia
Nasceu a 24 de Março de 1897, em Dobrzanica, uma pequena aldeia do distrito de Peremyshliany, no noroeste da Ucrânia (na época o território pertencia ao Império Austro-Húngaro), no seio de uma família abastada de proprietários judeus germanizados. Era filho de Leon e Cecilie Reich. Pouco depois, a família mudou-se para sul, para a região da Bukovina, onde o pai foi gerir uma grande fazenda em Jujinetz. O jovem Reich foi educado estritamente segundo a cultura alemã e os pais mantiveram-no sempre afastado da população judaica de cultura Iídiche. Até aos 13 anos teve sempre professores particulares e estudando posteriormente no liceu de Czernowitz.
Desde cedo, vivendo na fazenda e em contacto directo com a natureza, interessou-se pelos Fenómenos e funções naturais. Na sua autobiografia de juventude “Passion of Youth“, Reich conta que aos quatro anos já sabia o essencial sobre a sexualidade animal e humana, e que nessa tenra idade tentou intimidade erótica com uma criada. Aos onze anos e meio teve a sua primeira cópula, com a cozinheira da casa, que lhe ensinou os movimentos de vaivém do coito.
Em 1909, Cecilie, durante as frequentes viagens e ausências do seu ciumento e colérico marido, foi seduzida pelo preceptor dos filhos. À noite, o jovem Wilhelm espiava os amantes, chegando mesmo a sentir desejo pela própria mãe. No início de 1910, Leon acabaria por descobrir o adultério, com o involuntário testemunho do aterrado Wilhelm. A partir de então, Leon passou a atormentar e a humilhar impiedosa e diariamente a sua mulher, de tal forma que ela acabou por cometer suicídio em 29 de Setembro de 1910, no culminar de uma tragédia familiar de contornos edipianos, que muito traumatizaria Reich e lhe definiria o rumo da sua vida.
Em 1914, cheio de remorsos, o pai contraiu voluntariamente uma pneumonia que degenerou em tuberculose e morreu, deixando o jovem Reich e o seu irmão Robert (nascido em 1900), desamparados e a braços com a gestão da fazenda em circunstâncias muito difíceis. Apesar de tudo, Reich prossegue os seus estudos – mas no ano seguinte, no decurso da Primeira Guerra Mundial, a região é invadida pelos russos e a fazenda é destruída. Reich teve de fugir para Viena, completamente arruinado, onde foi incorporado no exército austríaco, graduando-se como oficial e servindo na frente italiana.
Em 1918, com o final da guerra, Reich regressou a Viena e à vida civil e, ansioso por aprender rapidamente uma profissão que lhe permitisse subsistir, ingressou no curso de Direito, o mais breve de todos, mas depressa se aborreceu e logo se transferiu para a Faculdade de Medicina, onde, aluno sobredotado, e valendo-se do seu estatuto especial de veterano de guerra, completou o curso de seis anos em apenas quatro. Sobrevivia dando explicações aos seus colegas. Em 1919, ao preparar um seminário sobre sexologia conhece Freud e fica bastante impressionado com o seu mestre: “Ao contrário dos outros, Freud não se dava ares e comportava-se com a maior das naturalidades. Os seus movimentos eram ágeis e descontraídos.”
Carreira
Formando-se em 1922, inicia os seus trabalhos com o tratamento de pacientes com distúrbios mentais, na Universidade Neurológica e Psiquiátrica, juntamente com Paul Schilder. Inclui no tratamento técnicas de hipnose e de psicoterapia.
Em 1924, faz sua pós-graduação, sendo membro integrante da sociedade psicanalítica de Viena, até 1930.
Foi casado com a sua paciente Annie Reich (que se tornaria psicanalista), de quem se divorciou em 1932, e de quem teve duas filhas, Eva e Lore. Viveu mais tarde com a bailarina Elsa Lindenberg, de quem se separaria ao partir para os E.U.A. Pouco depois de lá chegar, viveria com a sua assistente Ilse Ollendorf, com quem se casaria e com quem teve um filho, Peter. Mais tarde, divorciar-se-ia de Ilse e teria uma ligação com a bióloga e sua colaboradora, Aurora Karrer, a sua última companheira.
Em 1933 é forçado pelos Nazis a sair da Alemanha, mudando-se para Oslo, na Noruega, laborando no Instituto de Psicologia da universidade local. Ali vive até 1939, altura em que se muda para Nova Iorque, cuidando de divulgar as suas ideias, agora na língua inglesa, tendo seu “A Função do Orgasmo” sido publicado neste idioma pela primeira vez em 1942.
Nos Estados Unidos, Reich cria um instituto para o estudo do “Orgone“, passando a fazer muitas pesquisas, inclusive para tratamento do cancro, pesquisas essas publicadas no seu livro “A Biopatia do Cancro“. Em 1954 passa a ser investigado pela FDA (Federal Food and Drug Administration), que lhe move um processo e posterior prisão, após infrutíferas tentativas de apelo.
Encarcerado desde 12 de Março de 1957, morre de ataque cardíaco em 3 de Novembro.
Introdução a Freud
Reich conheceu Sigmund Freud em 1919, quando lhe pediu uma lista de leitura para um seminário sobre sexologia. Tendo deixando uma forte impressão um no outro, Freud permitiu que Reich começasse a ver pacientes analíticos em Setembro daquele ano, embora tivesse apenas 22 anos, o que lhe permitiu auferir de um pequeno ordenado
Foi aceite como membro convidado da Associação Psicanalítica de Viena, tornando-se membro regular em Outubro de 1920, e começou a sua própria análise com Sadger Isidor (1867–1942). Reich viveu e trabalhou num apartamento no Berggasse 7, a rua onde Freud teria vivido no número 19, na área de Alsergrund em Viena.
Em 1922, Reich começou a trabalhar na clínica psicanalítica de Freud, conhecida como Ambulatorium Viena. Entre 1922 e 1932 ele ofereceu psicanálise gratuita ou a custo reduzido para cerca de 1500 homens e 800 mulheres sem recursos financeiros, muitos deles em estado de choque devido às suas experiências durante a guerra. Foi a segunda clínica aberta sob a direcção de Freud. Reich tornou-se assistente da clínica de Viena e trabalhou lá até á sua mudança de Berlim, em 1930.
Orgonomia
Reich detectou, em 1939, uma energia que actua em estratos biológicos profundos. Logo em seguida as suas pesquisas levaram-no a crer que aquela singular energia, inicialmente observada em seres vivos, fazia-se presente, também, na atmosfera. Nomeou, então, essa força básica como “energia Orgone cósmica” e fundou um novo ramo de pesquisas, a Orgonomia. Segundo Reich era uma substância sem massa e omnipresente, semelhante ao éter, mas fortemente associado à energia vital, em vez de matérias inertes.
Reich acreditava que o conceito freudiano de libido foi, na verdade a base biológica que o permitiu desenvolver uma terapia projectada para libertar esta energia corporal.
Vivendo nos E.U.A. desde 1939, Reich dedicou-se, por quase duas décadas, a realizar criteriosas pesquisas e a descrever, em vasta literatura técnica, as manifestações da energia Orgone nos domínios do vivo e do não-vivo, no micro e macrocosmos; preocupou-se, igualmente, em mapear a específica dinâmica dos Fenómenos orgonóticos e em integrar Orgonomia e Matemática. As suas pesquisas conduziram-no, no seu período norte-americano, a áreas tão distintas como a Oncologia e a Meteorologia, uma vez que certas disfunções da energia Orgone podem ser observadas, no entendimento do autor, tanto no cancro quanto nos processos de desertificação do planeta. Embrenhando-se em diversos campos de estudos (Física-Orgone, Biofísica-Orgone, Orgonoterapia, Pedagogia Orgonômica, Orgonometria), o pesquisador continuou, no entanto, denunciando os sistemas ideológicos que negam a vida e anestesiam, desde a infância, as capacidades críticas e as forças emocionais-sexuais.
Vegetorapia
Esta terapia desenvolvida por Reich, explica como os traumas psicológicos ficaram registados no corpo e se instalam como tensão crónica em determinados segmentos corporais. A história da nossa vida ao ser impressa na nossa mente também fica registada no corpo.
A ideia principal é que a energia vital (psíquica e sexual) deve fluir livremente dentro do corpo e, finalmente, expressar-se através do orgasmo. Reich argumenta que os bloqueios psicológicos correspondem a contracções musculares crónicas e estes devem ser libertados.
Ao contrário da psicanálise em que o analista não deve ter contacto físico com o paciente, Reich na sua Vegetoterapia, torce, estica e abraça os corpos dos pacientes até eles chorarem ou vomitarem de dor traduzindo em libertação. Descobriu também um efeito relaxante como resultado do vómito.
A personalidade de um individuo não seria mais do que a adaptação da própria pessoa ao seu ambiente e isto acabaria impresso através de tensões físicas no corpo.
Perseguição
Embora acreditasse estar a contribuir para o avanço da teoria psicanalítica (conforme aponta em “A Função do Orgasmo“), as teorias de Reich a respeito do corpo, que culminaram na Vegeto-Terapia e posteriormente na sua forte oposição à noção da “Pulsão de Morte” Freudiana, gradativamente tiveram o efeito de torná-lo num rebelde dentro do movimento. Como Reich também se envolvia activamente com a política – e a ordem geral era de que a psicanálise deveria ser uma Ciência acima de disputas políticas – Reich acabou por ser finalmente expulso com base nesse argumento. Os seus métodos revolucionários não geraram apenas o desconforto da sociedade psicanalítica, mas de diversos lugares por onde passou. Nos Estados Unidos, foi sistematicamente perseguido pelas técnicas e instrumentos de Saúde nos quais vinha a trabalhar, sendo taxado de “charlatão” e tendo sido eventualmente preso por conta de acusações da FDA (Food and Drugs Association).
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