Em Agosto de 1959 o presidente dos Estados Unidos da América, Dwight D. Eisenhower, decidiu que o dirigente do Congo, Patrice Emery Lumumba, era um «marxista perigoso» que podia pôr em perigo a estabilidade dessa região de África. O dirigente africano acabava de se tornar o primeiro objectivo claro do programa secreto ZR/Rifle.
Entre as propostas que o presidente recebeu da chamada comissão 5412 estavam os planos para iniciar operações secretas contra o primeiro-ministro pró-soviético do antigo Congo belga, Patrice Lumumba. Quando a comissão voltou a reunir-se no dia 25 de Agosto para discutir o tipo de acção que se devia efectuar contra o dirigente africano, Gordon Gray, o assessor presidencial para Assuntos de Segurança Nacional, informou Eisenhower que «recomendava levar a cabo uma acção extremamente vigorosa de modo a anulá-lo [Lumumba] em definitivo». O nome da operação, 5412, fazia referência à designação da comissão auxiliar secreta de Eisenhower, que a tinha aprovado.
Esta comissão, que foi criada pelo Decreto NSC 5412/2 em Março de 1955, estava directa e exclusivamente subordinada ao presidente Eisenhower. Os seus membros participaram nas sessões do governo da Comissão de Recursos Financeiros (política económica) e do Conselho de Segurança Nacional.
O grupo era composto por vários membros, segundo a ordem do dia e da reunião. Os membros permanentes pertenciam ao Departamento de Estado, ao Departamento de Defesa e à CIA. Este grupo seria designado Comissão 5412 ou Grupo Especial. Pelo Decreto 5412/1, obrigou-se a que a dita comissão executiva aprovasse todas as operações secretas desenvolvidas pelos serviços secretos norte-americanos. Dwight Eisenhower desejava supervisionar as operações clandestinas directamente da Sala Oval da Casa Branca. Até esse momento era a própria CIA, com a autorização do director, quem concebia e aprovava as operações «altamente voláteis».

Em Fevereiro de 1960 Eisenhower voltaria a ouvir as recomendações da Comissão 5412 sobre o Congo. Nesta reunião Allen Dulles, o director da CIA, disse ao presidente que “Lumumba era um louco que poderia pôr em sérias dificuldades aquela zona de África caso entregasse o país aos soviéticos”. O presidente Eisenhower ordenou então à CIA que preparasse uma “acção executiva” contra Patrice Lumumba, mas que não devia ser levada a cabo até ser expressamente autorizada pela Casa Branca.
Filho de um agricultor, Lumumba nasceu a 2 de Julho de 1925 em Katako Kombe, na região de Kasai, no Congo Belga. Dos 18 aos 33 anos, Lumumba trabalhou como auxiliar de enfermagem, carteiro e bibliotecário, enquanto dedicava outra parte do tempo à actividade política. Durante esses anos o dirigente congolês trabalhou como secretário e depois como presidente da Associação de Funcionários Africanos do Governo. Isto serviu-lhe como plataforma para entrar no mundo da Política.
Em Outubro de 1958 Lumumba fundou o Movimento Nacional Congolês e a 23 de Junho de 1960 tornou-se o primeiro africano a ocupar o cargo de primeiro-ministro do Congo, ao mesmo tempo que Joseph Kasavubu se tornava presidente. A 30 de Junho do mesmo ano, a Bélgica deu a independência ao país.
Lumumba decidiu então que a sua nova política seria de alinhamento com as potências ocidentais, ainda que abrisse as portas à ajuda soviética. Isto traçou-lhe o destino. Allen Dulles diria então: “Era óbvio, inclusive nas conclusões, que se [Lumumba] continuasse no cargo as consequências seriam inevitavelmente desastrosas para os interesses do mundo livre. Por consequência, concluímos que a sua retirada [do cargo de primeiro-ministro do Congo] era um objectivo urgente e prioritário.”
Foi de facto no Congo que ocorreu a primeira tentativa da CIA de manipular a Política de um governo estrangeiro durante a década de 1960. Lumumba, pró-marxista apoiado pela União Soviética, viu-se da noite para o dia senhor de um país rico em minerais e tinha a firme intenção de o manter fora do alcance das nações ricas ocidentais e das suas empresas mineiras. A República Democrática do Congo obteve a independência a 30 de Junho de 1960, mas Lumumba deparou-se com um país dividido e com pequenas guerras entre facções. Numa população com quase catorze milhões de habitantes, apenas dezassete cidadãos Congoleses tinham conseguido formar-se na universidade. As centenas de milhares de colonos belgas e funcionários da administração estavam à espera de ver o que acontecia após a tão proclamada independência. Na própria cerimónia de independência, Lumumba apresentou um violento discurso contra os brancos europeus e avisou as tropas belgas de que “as nossas feridas estão frescas e nunca as esqueceremos”.
Os primeiros distúrbios ocorreram apenas cinco dias depois em Leopoldville (atual Kinshasa), nos barracões do Exército congolês, conhecido como Força Pública. Este Exército, composto por 25.000 homens, era dirigido por 1135 oficiais e suboficiais belgas. Um grupo de soldados anunciou que já não precisavam de continuar a obedecer a ordens dos militares europeus. O tenente-general Emile Janssens, comandante da Força Pública, tentou, na mais pura tradição colonialista, sufocar a rebelião. Os soldados rebeldes viraram a sua fúria para os belgas e o primeiro-ministro Lumumba. A rebelião estendeu-se rapidamente a outras unidades, pelo que Patrice Lumumba decidiu dispensar todos os militares belgas e pôr no seu lugar o primo Victor Lundula, um civil sem nenhum tipo de experiência militar. Mobutu Sese Seko, cabo e antigo jornalista, foi promovido a chefe do Estado-maior com o posto de coronel.
A falta de experiência entre os novos altos-comandos e a falta de domínio das tropas fez a situação desembocar em violência. O que é agora conhecido como Exército Nacional Congolês via-se com total liberdade por todo o país.

A 12 de Julho de 1960 Moisés Tshombe proclamou a independência de uma das províncias mais ricas do país, Catanga. Esta zona continha debaixo dos seus solos ricos depósitos de urânio, cobalto, zinco e cobre e era a base de uma das principais companhias mineiras do mundo com capital belga e britânico. Dois dias depois, o governo de Bruxelas decidiu enviar tropas para a região com a bonita justificação de “proteger os cidadãos europeus”. Na verdade as tropas dispersaram-se por Catanga para proteger os depósitos.
Gordon Gray, assessor presidencial para Assuntos de Segurança Nacional, John Irving, assessor do secretário da Defesa, Livingston Merchant, vice-secretário de Estado para Assuntos Politicos, e Thomas Parrot, um jovem funcionário destinado à Divisão Africana da CIA.
No fim da reunião Dulles regressou ao quartel-general em Langley e reuniu-se com o subdirector de Operações da CIA, Richard Bissell, que se referia a Lumumba com a alcunha «Cão Louco». Naquele ano, Richard Helms ocupava o cargo de director de Operações. Allen Dulles informou então Bissell que se acabava de decidir a “eliminação de Lumumba” e que devia pôr mãos à obra para a executar. “Se me tivessem apanhado a tentar matar Lumumba, não restaria em Kinshasa um só branco com vida”, declararia o próprio Devlin.
Uma mensagem urgente escrita por Richard Bissell foi enviada para Devlin no posto da CIA no Congo. O texto dizia: “Está autorizado a avançar com a operação.” De seguida, Dulles enviou outro telegrama a Bissell indicando-lhe: “Máxima autoridade para conduzir a acção mais agressiva se tal for necessário.” O chefe do posto da CIA em Léopoldville foi autorizado a gastar 100.000 dólares no «programa».
A operação 5412 iniciou-se no dia seguinte depois de Devlin receber o telegrama de Dulles. Como primeira fase da operação, Lawrence Devlin, por ordem directa de Richard Bissell, começou a recrutar facções anti-Lumumba por todo o território do Congo. Era evidente que Devlin odiava Patrice Lumumba, mas o seu chefe Bissell odiava-o muito mais.
Richard Mervin Bissell fora o típico caso de homem de acção que subiu na cúpula da CIA devido aos méritos demonstrados no terreno e não num gabinete. Subdiretor de Operações de 1959 a 1962, Richard Bissell ficará na história do mundo da espionagem, mais do que pela sua acção contra Patrice Lumumba, por ser o pai do programa de aviões espiões U-2 e o responsável máximo pelo fiasco na Baía dos Porcos.
Nascido em 1909, Bissell matriculou-se na Universidade de Harvard e, de 1932 a 1933, frequentou a London School of Economics. Quando a Segunda Guerra Mundial sobreveio em 1941, Richard Bissell integrou-se no gabinete do diplomata Averell Harriman. No fim da contenda foi nomeado administrador do Plano Marshall na Alemanha Ocidental. Finalmente, em 1952, e devido à sua vasta experiência, Allen Dulles recrutou-o pessoalmente e nomeou-o conselheiro do DCI (Director of Central Intelligence). Richard Bissell era o «menino mimado» de Dulles.
Allen Dulles surpreendia-se com a habilidade de Bissell de levar a cabo operações secretas. Em 1954 foi nomeado assistente especial para a Coordenação e Planificação da CIA, de onde coordenou o golpe de Estado na Guatemala contra o governo do social-democrata Jacobo Arbenz Guzmán. Em 1958 Bissell assumiu novas responsabilidades quando Dulles o nomeou subdirector de Planos e Operações. Dulles disse-lhe na nomeação: “A única coisa que quero de ti é que concebas planos para lançar operações de espionagem contra os russos.” Richard Bissell arquitetou directamente um dos programas operacionais mais famosos de toda a história da CIA, o programa de aviões espiões U-2, mas também estaria directamente envolvido no programa de «acção executiva», ou seja, assassínios de dirigentes políticos estrangeiros como o ditador Rafael Trujillo, da República Dominicana, ou o general iraquiano Abdul Karim Kasem.
Langley deu ordens a Devlin para estabelecer contacto com o segundo secretário e responsável político da embaixada dos Estados Unidos em Kinshasa, Frank Carlucci. Cumpria-lhes conceber a operação contra Lumumba criando um ambiente hostil ao primeiro-ministro.
Enquanto Devlin e Carlucci desenvolviam reuniões secretas estreitas com dirigentes Congoleses como o próprio presidente Kasavubu, o chefe secessionista Tshombe ou o militar Mobutu Sese Seko, Richard Bissell, no quartel-general em Langley, estava em contacto com Sidney Gottlieb, assessor científico do Directório de Operações. Gottlieb ficara famoso com o Projecto MKUltra. Bissell perguntou ao cientista se era capaz de criar um veneno que acabasse com a vida de Lumumba sem que ninguém viesse jamais a descobrir. Gottlieb não só desenvolveu um veneno capaz de matar em poucos dias, e que produzia os mesmos sintomas da febre africana, como também se ofereceu como voluntário para entregar o veneno a Devlin no Congo.
Sidney Gottlieb dirigiu o trabalho de investigação e desenvolvimento do veneno, assim como as especificações concretas que se deviam seguir para administrar o veneno a Patrice Lumumba. A CIA recrutou para isso dois assassinos profissionais, QJ/WIN e WI/ROGUE (os seus nomes de código). Os dois sicários, de origem corsa, que executariam a acção, tinham sido recrutados por agentes de operações do posto da CIA em Frankfurt.
No outono de 1960 John Sherwood, chefe do posto da CIA em Berlim, veio a saber por acaso que Lumumba ia morrer. Alguém de Frankfurt o informou de que um cientista da CIA (Sidney Gottlieb) passara por ali com um veneno na mala e dissera abertamente que era para Lumumba. Sherwood perguntou à sua fonte: “O Sidney [Gottlieb] passou por Frankfurt?” “Sim”, respondeu-lhe o informador. “Já todos sabíamos no que Gottlieb andava metido. Sidney levaria pessoalmente a coisa [o veneno] para África“, revelaria anos depois o próprio John Sherwood.
Em Setembro de 1960 Sidney Gottlieb voou de Frankfurt para Kinshasa a fim de entregar as duas ampolas de veneno a Lawrence Devlin, o chefe do posto da CIA no Congo. No mês de Outubro o próprio Devlin entregou aos dois assassinos corsos as ampolas de veneno, as instruções para o administrar a Patrice Lumumba e dois envelopes com 7.200 dólares cada como pagamento pelo assassínio do incómodo primeiro-ministro do Congo.
Nem William Flarvey, famoso agente de contraespionagem e responsável, anos depois, pela operação Mongoose e pelas «acções executivas» da CIA por via do programa ZR/Rifle, nem o seu imediato no comando, Justin O’Donnell, estavam de acordo com a «liquidação» de Lumumba. Por este motivo, Harvey decidiu enviar O’Donnell ao Congo para vigiar os dois assassinos corsos.
Depois de várias tentativas falhadas, Devlin e Gottlieb decidiram administrar o veneno a Lumumba, mas atravessar o círculo imposto em torno do político africano pelos serviços de segurança das Nações Unidas tornava a tarefa quase impossível. Com o passar das semanas, até Sidney Gottlieb já não estava tão seguro da eficácia do veneno. Apesar de ter sido guardado numa câmara frigorífica, o mais certo é que a mortífera substância já estivesse caducada e fosse portanto menos eficaz.
Lawrence Devlin, incomodado com Gottlieb, decidiu enviá-lo de volta aos EUA e apresentar duas novas opções para acabar com Lumumba. A primeira era utilizar uma equipa de forças especiais do Exército norte-americano, assaltar a casa de Lumumba e liquidá-lo. Se este conseguisse escapar da casa, poder-se-ia destacar para o exterior uma segunda equipa que dispararia contra ele assim que se encontrasse em campo aberto. A segunda opção apresentada por Devlin seria utilizar um atirador das equipas ZR/Rifle.
William Harvey, o responsável do ZR/Rifle, disse que Justin O’Donnell, atirador especialista, poderia fazer o trabalho; afinal de contas, O’Donnell já se encontrava a caminho do Congo. Quando o agente da CIA chegou a Kinshasa e Devlin lhe comunicou as ordens recebidas, este negou-se a executar a operação. Em vez disso, a 31 de Outubro de 1960, enviou uma nota de protesto ao então chefe de Operações, Richard Helms, e ao inspector-geral da CIA, Lyman Kirkpatrick. O futuro DCI disse a O’Donnell que era de seu “pleno direito” protestar e negar-se a levar a cabo a operação contra Lumumba, mas, curiosamente, nunca o disse a Richard Bissell e a Allen Dulles. O mais certo era que Justin O’Donnell fosse despedido da CIA.
Para o substituir, Devlin encarregou da tarefa QJ/WIN, um dos corsos contratados pelo posto da CIA em Frankfurt. O chefe do posto no Congo disse que ele próprio se ocuparia de pôr Lumumba na mira do atirador para que este pudesse realizar um disparo eficaz.

Todas as tentativas da CIA para matar Patrice Lumumba acabaram por ser desnecessárias. A 14 de Setembro de 1960 o coronel Mobutu, com o apoio do presidente Kasavubu, decidiu levar a efeito um golpe de Estado e derrubar o governo de Patrice Lumumba. Para tal os altos cargos das Nações Unidas, com o pleno conhecimento do secretário-geral Dag Hammarskjõld, tinham antes chegado a um acordo com Moisés Tshombe para estabelecer uma trégua em Catanga, enquanto a CIA ajudava Mobutu no golpe de Estado.
Lumumba conseguiu escapar à «protecção» da ONU e dirigiu-se para Stanleyville (Kisangani) à procura de apoio dos países vizinhos aliados ou de tropas fiéis ao seu governo para que se concentrassem na capital. Frank Carlucci, desde a embaixada dos Estados Unidos, informou Mobutu da fuga de Lumumba, que deu ordens às suas tropas para fechar todos os acessos à capital. Era preciso evitar a qualquer custo que o dirigente derrubado encontrasse apoio em Stanleyville. Finalmente, Patrice Lumumba foi capturado, transferido de novo para Kinshasa e enclausurado na prisão de Thysville, 75 quilómetros a sudoeste da capital. A CIA e a embaixada dos Estados Unidos tinham agora Lumumba onde queriam.
Segundo a jornalista e escritora Catherine Hoskyns no seu livro «The Congo Since Independence», quatro dias antes do golpe a ONU entregou a Mobutu cerca de cinco milhões de francos. Também se soube que o norte-americano Andrew Cordier, vice-secretário-geral da ONU, dera ordens aos capacetes-azuis pouco antes do golpe de Estado para ocuparem a estação de rádio em Kinshasa para evitar que Lumumba pudesse pedir ajuda aos países vizinhos aliados ou a tropas fiéis ao seu governo.
Os delegados de vários países africanos reclamaram perante a Assembleia Geral que a ONU e as suas forças de capacetes-azuis deviam pedir formalmente a libertação imediata do primeiro-ministro deposto. A resposta de Hammarskjõld foi: “A ONU não deve intervir nos assuntos internos do país [Congo].” Com esta frase, o secretário-geral da organização internacional dava a Mobutu e a Kasavubu total liberdade para matar Lumumba.

Na madrugada de 17 de Janeiro de 1961 Patrice Lumumba foi retirado da sua cela na prisão de Thysville e levado para o aeroporto militar de Kinshasa. Atado e amordaçado, foi embarcado num avião rumo a Elisabethville, capital de Catanga. Ai foi entregue ao seu inimigo Moisés Tshombe, o caudilho independentista catanguês. Uma unidade de forças de pacificação da ONU participou ter visto dois ministros catangueses a espancar quase até à morte o ex-primeiro-ministro na própria pista do aeroporto. Os altos funcionários da ONU responderam-lhes que deviam “manter-se fora da política interna e, portanto, à margem do que estava a acontecer”. Nesse mesmo dia Patrice Lumumba, depois de sofrer torturas de todo o tipo por parte dos seus captores, foi executado com um disparo na nuca. Posteriormente, os corpos de Lumumba e de Mpolo e Obito, dois dos seus ministros que o acompanharam na trágica viagem, foram incinerados e as suas cinzas lançadas ao vento.
Mobutu recebera instruções de Carlucci e Devlin no sentido de que Lumumba não podia, ou melhor, «não devia» sobreviver, e portanto era perigoso mantê-lo vivo dentro de uma cela. Foi então que o militar congolês decidiu tirar o antigo primeiro-ministro da prisão e entregá-lo ao seu inimigo, Moisés Tshombe. Este faria o trabalho sujo por Mobutu, Kasavubu, a CIA e os Estados Unidos.
Dezassete meses depois de o presidente Eisenhower definir Patrice Lumumba como “um marxista perigoso”, o dirigente congolês estava morto.
O último acto da crise do Congo viveu-se directamente no quartel-general da ONU em Nova Iorque, quando o dirigente soviético Nikita Krutchov acusou os EUA, a CIA e os poderes coloniais europeus de estarem por trás do derrube de Patrice Lumumba.
O presidente Kasavubu nomeou em 1964 como primeiro-ministro do Congo Moisés Tshombe, mas justamente um ano depois Mobutu levou a cabo um golpe de Estado contra Kasavubu com o apoio da CIA, convertendo-se em dono e senhor dos destinos do novo Congo, até ao seu derrube em 1997. Curiosamente, o novo presidente Mobutu Sese Seko decidiu declarar Patrice Lumumba «herói nacional» em 1966.
Uma comissão de investigação do Parlamento belga interrogou vários dos militares catangueses que se encontravam presentes no momento da morte de Lumumba e declararam que o dirigente africano conseguiu escapar a 10 de Fevereiro de 1961 e refugiar-se com dois dos seus ministros numa aldeia. «Foram os aldeões que o mataram, para receberem as 3.000 libras que se oferecia como recompensa pela sua captura», disseram aos investigadores belgas. A história tinha pouca credibilidade e, em geral, a informação que se pôde comprovar é que realmente Patrice Lumumba foi executado na manhã de 17 de Janeiro.
Anos depois o próprio Justin O’Donnell, antigo membro da operação ZR/Rifle da CIA, declararia: “Se os Estados Unidos aplicavam o magnicídio como política externa, ter-se-ia de supor que os nossos alvos responderiam da mesma maneira.” Era evidente que nem William Harvey nem a CIA ouviram a recomendação de O’Donnell.
Em Novembro de 1975 a Comissão Especial do Senado para Actividades de Informação, conhecida também como Comissão Church e presidida pelo senador democrata pelo Idaho Frank Church, estabeleceu que, “segundo documentos públicos, funcionários dos Estados Unidos terão ordenado o assassínio de Fidel Castro e de Patrice Lumumba e que terão estado envolvidos em planos de assassínio de três dirigentes estrangeiros, Rafael Trujillo, da República Dominicana, Ngo Dinh Diem, do Vietname do Sul, e o general René Schneider, do Chile“. O «Relatório Church» concluiu que pelo menos quatro dos cinco homens tinham sido assassinados, embora nenhum deles “tivesse sido morto como resultado directo de planos de assassínio iniciados por funcionários norte-americanos”. Muitas pessoas mostraram-se cépticas perante esta declaração.
Sempre se disse que Frank Carlucci tinha estado por trás do assassínio de Patrice Lumumba, apesar de ele o ter sempre negado. “Um jovem diplomata do Departamento de Estado não tinha naquele tempo poder suficiente para poder decidir o assassínio de um dirigente político de outro país”, diria o próprio Carlucci em sua defesa. Muitos disseram também que a CIA (Allen Dulles, Richard Bissell, Lawrence Devlin, William Harvey, Sidney Gottlieb e Justin O’Donnell) fora a arma usada pelo presidente Joseph Kasavubu e pelo coronel Mobutu para matar Patrice Lumumba. Por último, muitos mais disseram que o já ex-presidente dos EUA, Dwight D. Eisenhower, tinha sido o cérebro da execução.
Três dias depois do assassínio de Lumumba, Eisenhower abandonava a Casa Branca para passar o comando do país a John F. Kennedy e, por conseguinte, as operações secretas que a CIA realizaria sob a nova administração.
Nos anos seguintes, durante a nova administração do presidente John Kennedy, a CIA ver-se-ia implicada nos «magnicídios» do ditador da República Dominicana, Rafael Leónidas Trujillo, em 1961, do presidente do Vietname do Sul, Ngo Dinh Diem, e do seu irmão Nhu Dinh Diem, chefe da polícia secreta, em 1963, e nas diversas tentativas para acabar com a vida do dirigente cubano Fidel Castro. Mas isso é já outra história e outras operações.

Os dados relativos à operação 5412 e a Patrice Lumumba aparecem na página 00690 do relatório das «Jóias de Família». O documento é um texto manuscrito pelo próprio William Colby. Colby escreve num anexo de notas: “Lumumba: a CIA não teve nada a ver com a sua morte. No início houve uma acção, mas foi abandonada.” Também aparecem na página 00464 do Memorandum for the Record, com a data de 14 de Fevereiro de 1972. O texto diz: “Em Novembro de 1962 o senhor [supostamente Justin O’Donnell], aconselhado pelo senhor Lyman Kirkpatrick [inspector-geral da CIA], disse que ele, durante um tempo dirigido pelo senhor Richard Bissell, assumiu a responsabilidade de um projecto que consistia no assassínio de Patrice Lumumba, primeiro-ministro, República do Congo. Segundo [nome confidencial] o veneno seria o veículo para isso e ele [?] fez referência a ter visto o doutor Sidney Gottlieb com a ordem de administrar o veículo [veneno] apropriado.»