CIA: Operação AE / Ladle e Redface I

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Anatoly Golitsyn e a sua esposa Svetlana no Coconut Grove em Los Angeles (1961)
Anatoly Golitsyn e a sua esposa Svetlana no Coconut Grove em Los Angeles (1961)

A 15 de Dezembro de 1961, o major de 35 anos Anatoli Mijai-lovich Golitsyn, agente do KGB destacado no posto da Finlândia e sob protecção do vice-cônsul, decidiu desertar para os Estados Unidos. Golitsyn entrou no carro oficial com a esposa e a filha e dirigiu-se directamente à casa de Frank Friberg, chefe do posto da CIA em Helsínquia.

Enviado com protecção oficial para uma casa segura da CIA, em Ashford Farm, perto de Washington, Golitsyn foi interrogado pessoalmente por James Jesus Angleton, chefe de contraespionagem da CIA. John McCone, director da CIA, ordenou que todo o material relativo a Golitsyn fosse incluído num extenso dossiê com o nome da operação: AE/Ladle.

Golitsyn forneceu os nomes de vários agentes soviéticos que trabalhavam no Ocidente, sobretudo na Grã-Bretanha, mas durante a conversa com Angleton garantiu que a CIA tinha uma importante toupeira infiltrada na sua cúpula. Estava aberta a caça à toupeira.

Nascido na Ucrânia, Golitsyn passou a Segunda Guerra Mundial a realizar tarefas de contraespionagem, até à criação do KGB. O seu primeiro destino seria o próprio quartel-general, efectuando tarefas pouco importantes, mas em 1953 foi transferido para a embaixada em Viena com a missão de espiar os emigrantes russos. Golitsyn continuou dois anos no cargo até que em 1960, após uma estada de cinco anos no quartel-general do KGB de Moscovo, foi transferido para Helsínquia com a mesma missão. Um ano depois desertaria.

Durante as sucessivas conversas com Angleton, o desertor do KGB garantiu ao chefe de contraespionagem da CIA que havia possibilidades de a espionagem soviética enviar um desertor fingido para o desacreditar, mas os norte-americanos precisavam de provar que Golitsyn dizia a verdade.

O desertor, com o nome de código «AE Concha», era descrito pela Divisão da Rússia Soviética da CIA como “um homem arrogante, desagradável, egoísta e pouco dado ao trabalho em equipa”. Anatoli Golitsyn definia, por sua vez, os funcionários da Divisão como “inaptos, pouco inteligentes e totalmente desconhecedores da realidade na espionagem soviética”.

Pouco a pouco, o desertor foi ganhando a inimizade de todos os funcionários da CIA que privaram com ele. Pedia somas de dinheiro exorbitantes em troca de informação e exigia lidar diretamente com o todo-poderoso Angleton.

Este preferia, nos primeiros meses de deserção, manter o espião longe dele; ao fim e ao cabo, James Angleton e os chefes da CIA não entendiam como um major do poderoso e importante Primeiro Diretório do KGB podia ter um motivo «verosímil» para desertar para os Estados Unidos e não para a Grã-Bretanha ou outro país qualquer. A verdade é que o major Golitsyn tinha imensa informação na cabeça sobre operações que a espionagem soviética tinha efectuado pelo mundo inteiro.

Para provar a veracidade da deserção, a CIA queria nomes de agentes soviéticos infiltrados no Ocidente. Assim que se demonstrasse que esses nomes eram reais, a CIA aceitaria de bom grado entregar-lhe dinheiro e ajudá-lo a instalar-se na sua nova vida norte-americana. Golitsyn aceitou a oferta e indicou o primeiro nome: William John Vassall. Nome de código: Vera.

Nascido em 1924, Vassall era um dos maiores especialistas em códigos da Marinha britânica e trabalhava no Almirantado. Após a revelação de Golitsyn, a CIA informou a contraespionagem britânica, o MI5, que o pôs sob vigilância.

Filho de um religioso, William John Vassall ascendeu rapidamente na vida; foi nomeado secretário privado do primeiro lorde do Almirantado e, posteriormente, designado adido naval na embaixada britânica em Moscovo. Vassall estava encarregado dos códigos.

Em Dezembro de 1956 John Vassall entregou os primeiros relatórios secretos aos soviéticos, principalmente os relativos a informação confidencial sobre energia atómica e informação “altamente secreta” sobre vários assuntos de defesa. Também entregou ao KGB os planos da câmara Exakta, utilizada pela RAF para tirar fotografias de espionagem desde aviões em grandes altitudes. A 12 de Setembro de 1962 William John Vassall foi detido por agentes do MI5 para ser interrogado.

O traidor confessou que tinha decidido trabalhar para os soviéticos quando agentes do KGB o fotografaram num apartamento de Moscovo a praticar sodomia com um jovem russo, que acabou por se revelar um colaborador do KGB. Os serviços secretos soviéticos ameaçaram Vassall que, se não trabalhasse para eles, tornariam públicas as fotografias e a sua homossexualidade. A 22 de Outubro de 1962 William John Vassall foi sentenciado a dezoito anos de prisão.

A segunda prova da sua boa-fé chegou quando Arthur Martin, chefe da secção D1 do MI5, foi enviado aos Estados Unidos para interrogar Anatoli Golitsyn. Era evidente que Londres precisava de mais provas. Martin era um especialista em contraespionagem e impressionou muito o desertor russo.

Realmente Martin trabalhara para o Serviço de Segurança de Rádio durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, Dick White convenceu-o a juntar-se ao MI5 com o objectivo de criar uma das melhores unidades de investigação e contraespionagem.

Em 1951 Arthur Martin começou a trabalhar na investigação sobre Donald Maclean e Guy Burgess, ambos membros do grupo de espiões chamado «os Cinco de Cambridge». Martin também tentava demonstrar que Kim Philby era realmente um espião soviético dentro do MI6, mas ninguém acreditou nele. Dick White decidiu afastá-lo da investigação e enviá-lo para a Malásia a fim de combater a contrainsurgência. Quando Martin Furnival Jones foi nomeado chefe do MI5, deu ordens a Martin para regressar a Londres. Por fim, em 1959, seria nomeado chefe do D1, o organismo responsável pela contraespionagem soviética.

Quando se encontrou pela primeira vez com Anatoli Golitsyn, o desertor do KGB garantiu-lhe que Maclean e Burgess eram na verdade espiões soviéticos, assim como Kim Philby, e que a par de outras duas importantes personagens faziam parte de um grupo de espiões conhecido pelo KGB como «os Cinco de Cambridge». Martin chegou à errónea conclusão de que um dos membros do grupo de espiões era o ex-director-geral do MI5 Roger Hollis ou o seu imediato sucessor hierárquico, Graham Mitchell. O responsável do D1 reparava que Hollis apresentava constantemente obstáculos a qualquer investigação sobre Maclean ou Burgess.

Outras informações entregues pelo major Anatoli Golitsyn a James Angleton diziam respeito às actividades soviéticas de espionagem na França do presidente Charles de Gaulle. Golitsyn revelou o nome de uma toupeira soviética infiltrada no quartel-general da NATO em Paris. O seu nome era Georges Pâques, o assessor de Imprensa da NATO. O seu nome de código era Sapphire.

James Angleton
James Angleton

Angleton pôs o DCI John McCone ao corrente do que Golitsyn revelara. McCone sabia que aquela informação poria o governo de De Gaulle em sérias dificuldades, pelo que preferiu dar a conhecer ao presidente Kennedy as informações que o desertor soviético tinha proporcionado.

John Kennedy enviou uma carta dirigida a De Gaulle que lhe seria entregue pelo chefe do posto da CIA em Paris. Na missiva presidencial, Kennedy avisava De Gaulle sobre possíveis «infiltrações» dos serviços secretos soviéticos na cúpula da administração francesa. A carta de John Kennedy para Charles de Gaulle teve consequências desafortunadas para o Service de Documentation Extérieure et de Contre-Es-pionnage (SDECE).

Charles De Gaulle
Charles De Gaulle

O general Jean-Louis du Temple, assessor de De Gaulle para assuntos de espionagem, recomendou atribuir um nome de código a Golitsyn (Martel) e enviar a Washington uma equipa combinada entre o SDECE e a Direction de la Surveillance du Territoire com o intuito de interrogar o desertor. A CIA, e em especial Angleton, achava incrível que os franceses não tivessem levado a cabo uma depuração dos seus serviços secretos e que nem sequer tivessem detido alguém. Curiosamente, De Gaulle achava que a CIA estava a organizar um conluio contra ele.

Quando Angleton descobriu que os franceses não pensavam fazer nada com a informação de Golitsyn, decidiu dar ordens aos seus agentes para entrar na embaixada francesa em Washington, roubar o livro de códigos e assim estudar o tráfego de telegramas enviados nas últimas semanas para comprovar se havia alguma referência a Golitsyn. Quando o assalto foi descoberto pelo SDECE, o governo de Paris ordenou o regresso do chefe do posto a França, assim como o corte imediato de comunicações com a CIA.

Em Outubro de 1962 o novo chefe do SDECE, o general Paul Jacquier, apareceu em Washington durante a paranóia sobre a teoria de que a CIA tentava desestabilizar os serviços secretos franceses, acusando Golitsyn de ser um agente soviético de contrainformação. Isto mudou quando o SDECE soube que Georges Pâques tinha sido detido quando tentava passar documentos «altamente secretos» da NATO ao seu contacto na embaixada soviética na capital francesa. Saber-se-ia anos depois que Pâques teria entregado ao KGB informação vital sobre a NATO, como os planos de defesa da Europa ocidental arquitectados pela organização militar, ou as operações realizadas pelos serviços secretos aliados para acabar com o comunismo na Albânia. Mas a mais importante toupeira descoberta por Golitsyn no governo francês seria Jacques Foccart, protegido do general Charles de Gaulle, o mesmo que concebera os serviços de segurança do partido gaullista na década de 1950 e que tinha coordenado os serviços secretos gauleses desde o seu gabinete no Eliseu.

Por fim, os franceses tiveram de dar razão ao major Anatoli Golitsyn e admitir que a CIA não estava envolvida em nenhum conluio contra os serviços secretos franceses. Isto provocou a demissão dos chefes do SDECE e de um conselheiro de assuntos de espionagem no Palácio do Eliseu.

Outra coisa que chamou a atenção dos chefes da CIA a respeito de Golitsyn era que o espião sabia como mover-se pela mastodôntica maquinaria burocrática da CIA. De facto, não demorou muito a chamar a atenção do procurador-geral Robert Kennedy.

O irmão do presidente estava totalmente deslumbrado pelas histórias de espiões que Golitsyn lhe contava. Daí em diante o desertor russo passou a fazer parte dos «protegidos» do procurador-geral. Os dirigentes da CIA sabiam que se duvidassem de qualquer informação de Golitsyn, por incrível que parecesse, isso poderia implicar a sua caída em desgraça aos olhos do procurador-geral e irmão do presidente dos Estados Unidos.

Golitsyn não estava disposto a que continuassem a duvidar da sua palavra a respeito da veracidade das informações fornecidas à CIA, ao MI5 e ao SDECE, mas os seus «fiscalizadores» não estavam dispostos a deixá-lo encontrar-se com Angleton. O ex-espião do KGB decidiu utilizar a sua relação pessoal com Bobby Kennedy e pedir-lhe que fizesse chegar uma carta sua ao presidente. George Kisevalter, responsável dos «desertores» do KGB, disse a Anatoli Golitsyn que ele mesmo a entregaria em mão ao presidente Kennedy.

No texto, o desertor acusava os dirigentes da CIA de não lhe deixarem manter o contacto com James Jesus Angleton, o chefe de contraespionagem, ao mesmo tempo que pedia para si mesmo uma enorme quantidade de dinheiro.

“Preciso desse dinheiro, porque nunca se sabe. Quiçá o próximo presidente não cumpra o acordado comigo pelo presidente Kennedy e o seu irmão, Robert“, explicaria o próprio Golitsyn. Kisevalter pegou na carta enquanto lhe respondia: “Muito bem. Dê-ma. Entregarei a carta ao presidente para que ele possa comprovar que você é um filho da puta.” A carta nunca chegou ao presidente, mas o que de facto surtiu efeito foram as pressões de Robert Kennedy sobre o director McCone para que Golitsyn tivesse acesso «ilimitado» a Angleton.

Muitos veteranos da CIA acreditavam que, talvez por via de Anatoli Golitsyn, o KGB andava a “infiltrar-se” na instituição e, em parte, graças à relação de Golitsyn com Angleton.

A verdade é que ninguém se atreveu a expô-lo assim, nem a expor Angleton nem Richard Helms, o subdirector de Planos e Operações. O mais curioso de tudo é que James Angleton jamais se metia nos assuntos das relações da CIA com os «desertores» soviéticos, mas com Golitsyn abriu uma excepção. Deu-se uma nova identidade a Anatoli Golitsyn (John Stone), um novo rosto, nova documentação, e foi instalado numa confortável casa no Maryland, tudo isto financiado pela CIA e com a aprovação da contraespionagem.

Durante uma das conversas de Golitsyn com Angleton, o chefe de contraespionagem perguntou-lhe se sabia o nome de algum agente infiltrado pelo KGB na CIA. O desertor deu então uma informação que acabaria com a carreira do próprio Angleton.

Golitsyn disse: “A CIA foi infiltrada [pelo KGB], O principal responsável dos recrutamentos era um agente contratado que trabalhou na Alemanha. O seu nome de código era “Sasha”. Trabalhou em Berlim e foi responsável pela captura de muitos agentes pelo KGB.”

Depois de ouvir estas palavras, James Angleton começou uma corrida contra o tempo para capturar Sasha.

Para Angleton, toda a gente na CIA podia ser Sasha, pelo que, em vez de uma «caça aos espiões», se assistiu a uma «caça às bruxas» ao mais puro estilo macarthista.

Nessa época Richard Helms estava totalmente embrenhado nas operações no Vietname, pelo que deixou Angleton com a sua perseguição a Sasha. Com o passar dos meses, a paranóia de James Angleton devido à informação fornecida por Golitsyn começou a afectar as operações da CIA. Não era enviado nenhum agente para uma missão por medo de que fosse Sasha e pudesse revelar informação vital dessa operação aos soviéticos.

Os oficiais do SR-9, a Divisão Soviética da CIA (as siglas «SR» correspondiam ao Serviço Clandestino da Agência e o número «9» designava a secção soviética), estavam surpreendidos com o tratamento que Angleton dava a Golitsyn, muito mais próximo e estreito do que até aos seus próprios homens. Pouco depois descobririam que Anatoli Golitsyn aproveitava as longas conversas com James Angleton para logo de seguida vender a informação aos serviços secretos britânicos, canadianos e franceses. Para os homens do SR-9 Golitsyn não era senão um charlatão. Mas James Angleton estava obcecado com a busca de Sasha, a alegada toupeira infiltrada na CIA, e em vez de pedir ajuda ao Departamento de Segurança, virou as expectativas para Golitsyn, para que o ajudasse a localizar a toupeira.

Sem prestar contas ao director McCone, Angleton decidiu dar a Golitsyn acesso total aos processos de todos os membros do SR-9. O primeiro alvo de Anatoli Golitsyn foi Richard Kovich, um dos mais destacados e experientes agentes do SR-9.

O desertor russo examinou o dossiê sobre Kovich e viu que o seu nome de nascimento era Dushan. Foi então ao encontro de Angleton e disse-lhe que o KGB tinha um agente cujo nome de código era «Dushan». No dia seguinte, Richard Kovich foi despedido da CIA após catorze brilhantes anos de serviço em operações da instituição.

O alvo seguinte de Golitsyn foi Peter Karlow. O agente era filho de imigrantes alemães, um veterano do posto de Berlim que falava alemão e russo fluentemente. No mês de Setembro de 1962 as infundadas acusações de Golitsyn sobre Karlow surtiram efeito. O Departamento de Segurança comunicou-lhe uma manhã que estava despedido da CIA devido a uma «folha de despesas» excessiva. Karlow tentou falar pessoalmente com Angleton ou com o seu superior imediato, Richard Helms, sem êxito. Peter Karlow foi acompanhado por dois agentes até à porta de entrada, pondo assim fim a uma brilhante carreira de dezassete anos na CIA. Anos depois uma investigação interna da CIA concluiu que Peter Karlow era inocente das acusações (efectuadas por Golitsyn), mas como não o podiam destacar de novo para o cargo ou devolver-lhe a carreira perdida, decidiram condecorá-lo e pagar-lhe os salários em atraso e a pensão até ao dia da sua morte.

Por fim, Anatoli Goütsyn decidiu apontar mais alto nas acusações e sugeriu ao Departamento de Segurança da CIA que William Averell Harriman, embaixador norte-americano na União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial, era um espião soviético. Harriman tinha sido amigo do presidente Franklin D. Roosevelt, secretário do Comércio com o presidente Harry Truman, negociador do Tratado de Testes Nucleares com o presidente John Kennedy e negociador especial para o Sudeste Asiático com o presidente Lyndon B. Johnson. Era óbvio que Golitsyn queria receber bastante e, ainda que James Angleton acreditasse nele, John McCone, director da CIA, decidiu não o fazer e deixar Harriman fora do alvo do departamento de contraespionagem.

James Angleton
James Angleton

Angleton ia-se convencendo cada vez mais de que Anatoli Mijailovich Golitsyn podia ser um «agente duplo» enviado por Moscovo para se fazer passar por desertor do KGB. Richard Helms, futuro director da CIA, e J. Edgar Hoover, director do FBI, estavam de acordo em qualificar Golitsyn como um charlatão e uma «fraude».

Em Julho de 1970 Richard Helms, já como director da CIA, daria ordens ao Departamento de Segurança para lançar uma operação chamada Redface I contra Anatoli Golitsyn. A ideia era procurar documentos «confidenciais» da CIA no escritório que o desertor tinha em Silver Spring, no estado do Maryland. A operação duraria três semanas; a CIA interceptou os telefonemas de Golitsyn e este foi submetido a vigilância. Em finais de Outubro desse mesmo ano Helms deu ordem para fechar a operação Redface I, sem nenhum resultado conclusivo para poder acusar Golitsyn.

Em Dezembro de 1974 James Jesus Angleton foi forçado a demitir-se quando William Colby foi nomeado director da CIA. O novo DCI acusava Angleton de que a sua «caça à toupeira» se transformara numa «caça às bruxas» dentro da CIA e que tinha provocado uma paralisação das operações contra a União Soviética e contra o KGB, após os danos provocados pelas denúncias de Golitsyn sobre membros importantes do SR-9.

No mesmo ano da saída de Angleton, Golitsyn foi obrigado a abandonar o edifício do quartel-general da CIA em Langley. Atrás dele, deixava dezenas de bons agentes que tinham perdido as carreiras devido às suspeitas levantadas pelo desertor. Ninguém fez perguntas nessa altura, nem as faz agora.

Na biografia de Richard Helms escrita por Thomas Powers, o antigo director defende-se das acusações de não ter intervindo, alegando que “o departamento de Angleton tinha o poder para actuar sem nenhuma autorização prévia do director da CIA ou do director de Operações“. Do que podemos ter a certeza é que Helms sabia de antemão as represálias que se levavam a cabo contra veteranos da instituição por causa das «denúncias», na maior parte dos casos infundadas, de Golitsyn.

Com Angleton sairiam também da CIA Raymond Rocca, subdirector de contraespionagem, William Hood, responsável executivo da Divisão de Contraespionagem, e Newton Miller, chefe de Operações de Angleton. Rocca, Hood e Miller tinham sido os pilares principais na sombra de Anatoli Golitsyn. Os três foram acusados por Colby de serem os responsáveis por um desertor soviético ter incriminado veteranos da CIA de provada lealdade e por, em consequência, estes se verem obrigados a «retirar-se». James Jesus Angleton jamais foi acusado disso, apesar de ter sido o responsável máximo directo de Golitsyn. O último golpe de William Colby contra a organização de Angleton seria reduzir a até então poderosa Divisão de Contraespionagem de 300 para apenas 80 membros.

Entre 1974 e 1984 Anatoli Mijailovich Golitsyn desapareceu da face da terra; reapareceria com a publicação de um livro intitulado «New Lies for Old», seguido de outro sobre a Perestroika de Gorbachov chamado «The Perestroika Deception». Acredita-se que actualmente Golitsyn ainda vive na Virgínia, já afastado do mundo da espionagem.

Os dados relativos a Anatoli Mijailovich Golitsyn e às operações AE/Ladle e Redface I aparecem nas páginas 00028 e 00029 das «Joias de Família», no relatório sobre operações efectuadas, no ponto III: General Support.

Fonte: LIVRO: «CIA – Jóias de Família» de Eric Frattini

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