Ainda que os historiadores datem o início do Projecto MKSearch de 11 de Agosto de 1966, na verdade iniciou-se a 28 de Agosto de 1964, um mês depois de William Buckley requisitar os documentos «altamente secretos» em poder de Ewen Cameron sobre o MKUltra. O MKSearch herdaria as operações em curso do MKUltra, e ao passo que para muitos investigadores e historiadores da CIA o projecto MK-Search foi apenas uma extensão do MKUltra, para outros foi um projecto independente do anterior.
Lyndon B. Johnson chegara à Casa Branca após o assassínio do presidente John Kennedy em Dallas a 22 de Novembro de 1963, e com ele chegou um novo DCI ao sétimo andar de Langley: Richard Helms.
O próprio Helms telefonou pessoalmente a Sidney Gottlieb e comunicou-lhe que as experiências continuariam. A CIA destinou ao novo projecto MKSearch cerca de 180.000 dólares: 150.000 dólares para financiar um laboratório em Baltimore e outros 30.000 dólares para pagar novas casas-esconderijo em Chicago e em Los Angeles.
As primeiras experiências centraram-se na procura dos sistemas para soltar as perversões sexuais ou para matar alguém para fazer com que parecesse que a pessoa se tinha suicidado ao respirar monóxido de carbono. Entretanto o doutor Gottlieb dedicava-se a redigir o que na CIA se chamou «Manual para o Assassínio», e para tal o Doutor Morte precisava de resultados rápidos, segundo as ordens assinadas por ele mesmo a 10 de Setembro de 1965, a 9 de Outubro de 1965 e a 3 de Novembro de 1965.
Instituiu-se novamente a «sala isolada», igual à que tinham construído no Allan Memorial Institute no Canadá, mas desta vez no National Institute of Health. Aí tiveram durante meses macacos lobotomizados, que foram decapitados pouco depois e as cabeças transplantadas para corpos de outros animais. O doutor Gottlieb chamou a esta operação «Ressurreição».
Para o projecto MKSearch instituiu-se também de novo a Amazon Drug Company em Iquitos. Desta vez, a empresa foi posta sob o comando de um ex-chefe da CIA caído em desgraça chamado Joseph Caldwell King.
King, nasceu em Nova Iorque a 5 de Outubro de 1900, era um antigo agente do FBI. Graduado na Academia Militar de West Point, abandonou o Exército misteriosamente e mudou-se para Paris a fim de estudar diplomacia na prestigiada Escola Livre de Ciências Políticas. Durante os cinco anos seguintes Caldwell King trabalhou para inúmeras companhias noutros tantos países, mas em 1927 decidiu regressar aos Estados Unidos e aceitar o posto de vice-presidente na King Chemical Company.
Em 1930 foi contratado pela empresa Johnson & Johnson e enviado para a América Latina, mas quando irrompeu a Segunda Guerra Mundial regressou aos Estados Unidos para se incorporar no Exército. Caldwell foi enviado para a Argentina como responsável de espionagem e trabalhou para o FBI.
Em 1947 ingressou na recém-criada CIA e foi nomeado chefe da Divisão do Hemisfério Ocidental devido aos seus amplos conhecimentos em questões latino-americanas. Neste âmbito Caldwell King estabeleceu contactos próximos com chefes da polícia e empresários com interesses afins aos dos EUA. “O problema de Caldwell King é que tinha pouco estômago para dirigir operações paramilitares ou para planificar operações complexas contra dirigentes políticos”, diria anos depois o próprio Richard Helms.
Quando começaram os planos para iniciar a operação da Baía dos Porcos, Caldwell King manteve-se à margem, mas o desastre da operação fez com que em 1964 fosse despedido de chefe da Divisão do Hemisfério Ocidental e, no fim desse ano, expulso da CIA.
Em 1966, com o início oficial do projecto MKSearch, King foi chamado novamente à CIA pelo próprio Sidney Gottlieb. A Divisão de Operações Clandestinas entregou-lhe um milhão de dólares. A primeira coisa que King fez foi comprar uma casa flutuante e enchê-la de caixas de Jack Daniels. Depois contratou especialistas em botânica para recolher plantas, ervas e raízes, e caçadores para capturar macacos e enviá-los para o National Institute of Health. King informava Gottlieb directamente em Langley.
O MKSearch e Sidney Gottlieb contavam com o apoio total do DCI Richard Helms, apesar de este já saber que o Doutor Morte jamais conseguiria alcançar a «dominação mental» em que trabalhava desde 1951.
A primeira operação no âmbito do MKSearch seria a Spellbinder e a CIA destinou-lhe cerca de 50.000 dólares com o fim de criar um assassino capaz de matar ao ouvir uma palavra-chave concreta. Para dirigir a operação Spellbinder a CIA contratou um hipnotizador profissional cujo nome de código era «Mr. Fingers». Informou-se o hipnotizador de que os «pacientes» deviam ser preparados para matar Fidel Castro. Mr. Fingers e dois agentes da CIA viajaram até Miami com o objectivo de procurar possíveis candidatos entre a comunidade cubana.
O escolhido foi um homem gordo que passara alguns anos nas prisões de Castro. O hipnotizador mergulhou o cubano num transe e disse-lhe que quando ouvisse a palavra «charuto» deveria pegar numa arma, aproximar-se de Fidel Castro e disparar contra ele. Assim que a experiência terminou, pagou-se 500 dólares ao cubano e este foi enviado de volta a casa.
Vigiado dia e noite pelos psicólogos do MKSearch e por dois agentes do Departamento de Segurança da CIA, Mr. Fingers decidiu telefonar ao cubano e pronunciar a palavra «charuto» para saber se a experiência tinha resultado. O homem atendeu o telefone e ao ouvir a palavra-chave respondeu que não fumava e desligou. Entre Novembro e Dezembro de 1966 o projecto MKSearch tinha levado a cabo cerca de catorze operações, com um custo de 1.400.000 dólares, sem nenhum resultado positivo.
Em Janeiro de 1969 o Doutor Morte tinha sido nomeado pelo DCI Richard Helms chefe do ORD (Office of Research and Development, Departamento de Investigação e Desenvolvimento da CIA). Os seus membros eram conhecidos como «os magos de Langley». Gottlieb levara com ele todo o seu grupo de cientistas de confiança, incluindo biólogos, químicos, botânicos, especialistas em hipnose, etc.
Por via do ORD, Sidney Gottlieb dirigiria uma nova operação dentro do projecto MKSearch, a Often.
Esta operação consistia simplesmente em analisar todas as operações levadas a cabo no MKUltra e no MKSearch, com o objectivo de encontrar um dado qualquer que lhes tivesse passado ao lado. Gottlieb convenceu a CIA a dar-lhe cerca de 150.000 dólares para a operação Often. “Gottlieb jamais explicava que as suas ideias, por mais disparatadas que fossem, seriam testadas em seres humanos. Para ele [Gottlieb] eram simples objectos com que confirmar ou descartar uma teoria. Se sofressem alguma lesão, era-lhe indiferente. […] O que confundia mais é que Gottlieb era sempre muito educado, nunca levantava a voz. Se não se soubesse a que se dedicava, parecia um perfeito cavalheiro”, declararia anos depois William Buckley. Este comentário apareceria na biografia de Richard Helms.
As origens da chamada operação Often foram realmente as experiências do falecido Ewen Cameron, para tentar estabelecer uma relação entre a cor dos olhos, a cor da pele, as condições de vida e o meio ambiente do indivíduo em questão e a doença mental. Cameron tinha conseguido ler parte dos relatórios de Joseph Mengele, o «Anjo da Morte» do campo de extermínio de Auschwitz. Richard Helms soube do projecto seis semanas depois de a operação ter começado e, quando teve conhecimento, pensou que Gottlieb se afastava cada vez mais dos objectivos propostos no início do projecto MKUltra.
Na verdade o que Sidney Gottlieb estava à procura na Often era um indivíduo totalmente dominado por via da mente, de bruxos, magos e quiromantes. O Doutor Morte desejava uma criatura de Frankenstein comandada por uma espécie de «magia negra», como definiria o escritor Gordon Thomas no seu magnífico livro «Jorney Into Madness: The True Story of Secret CIA Mind Control and Medical Abuse».
Para levar a cabo a operação Often, os homens de Gottlieb dividiram-se em duas equipas. A primeira dedicou-se ao trabalho de laboratório, onde tentaram desenvolver bactérias de doenças como a peste, a lepra, a cólera ou a gangrena. A segunda equipa do projecto MKSearch dedicou-se a visitar os quiromantes, os astrólogos, os clarividentes e os bruxos dos milionários de Boston, Nova Iorque, São Francisco ou Los Angeles. A maior parte deles foram recrutados pela CIA como «assessores especiais», não da CIA, mas sim de Gottlieb.
Hoje, em pleno Século XXI e quando nós, investigadores, tivemos acesso às «Joias de Família», chamam consideravelmente a atenção operações desenvolvidas dentro do projecto MKSearch, como por exemplo a realizada em Outubro e em Novembro de 1970 nas Nações Unidas de Nova Iorque. A equipa do MKSearch introduziu no edifício da ONU uma médium escoltada por William Buckley e dois agentes do Departamento de Segurança da CIA. A ideia era que a médium caminhasse pelas zonas públicas e, quando se cruzasse com uma personalidade importante, indicasse aos agentes da CIA se a pessoa em questão era maligna ou não. O mais curioso de tudo é que Richard Helms continuava a aprovar sem nenhum tipo de obstáculos ou de censura o trabalho de Sidney Gottlieb.
No fim de Maio, ou talvez início de Junho de 1971, a operação Often contava com quase uma centena de estranhas personagens de circo que trabalhavam a tempo inteiro, 24 horas por dia e sete dias por semana. É curioso ler como um destes astrólogos do MKSearch previu que Richard Nixon seria eleito para um segundo mandato, mas que não o finalizaria devido a um grande escândalo político. Pouco a pouco, a operação Often foi ganhando contornos surrealistas. Ocorreu a Gottlieb que os seus investigadores do MKSearch pudessem quiçá tentar trabalhar na figura do Diabo. A 25 de Abril de 1972 alguns agentes da operação estabeleceram contacto com os especialistas em exorcismo da Igreja Católica em Nova Iorque e em Boston. Em ambos os casos os indivíduos recusaram-se a colaborar com a CIA.
A segunda tentativa levou-os até Houston, onde uma bruxa que afirmava poder comandar a mente das suas vítimas mediante magia negra decidiu ministrar um curso aos agentes da CIA. A mulher aparecia nos cursos com um grande corvo negro sobre o ombro. Calcula-se que os investigadores do MKSearch realizaram meio milhar de invocações ao Diabo, sem que este aparecesse de nenhum lado. Em pouco tempo o Diabo deixou de ser prioritário para o projecto e Sidney Gottlieb centrou-se em dominação mental por via de implantes cerebrais. Segundo o Doutor Morte, um psicólogo da Universidade de Yale tinha conseguido dominar um touro selvagem carregando apenas num botão que comandava um eléctrodo implantado no animal. Isso fazia supor que as experiências realizadas no Vietname por Gottlieb e os seus com os prisioneiros do Vietcongue poderiam ter dado resultado em condições mais propícias.
A 11 de Junho de 1972, Sidney Gottlieb solicitou uma reunião urgente com o DCI Richard Helms. Segundo o cientista da CIA, tinha conseguido por fim descobrir a forma de comandar possíveis «assassinos» mediante um implante de eléctrodos directamente no cérebro. Gottlieb disse a Helms que com esse sistema a CIA poderia implantar eléctrodos cerebrais em agitadores, em dirigentes negros ou pacifistas que protestavam contra a Guerra do Vietname e convertê-los em «pessoas civilizadas». Gottlieb retratou a Helms, como se de um doutor Frankenstein do futuro se tratasse, uma Sociedade «civilizada» por meio da implantação de eléctrodos cerebrais em todos os que não desejassem ser civilizados numa Sociedade dirigida por homens como Gottlieb e a CIA.
Após a conversa com Gottlieb, Helms ordenou que a nova experiência ficasse fora do projecto MKSearch e das mãos de Sidney Gottlieb. O DCI não queria que a única possível experiência com êxito dentro do MKUltra e do MKSearch pudesse ser «contaminada» por bruxas, quiromantes ou exorcistas que trabalhavam às ordens de Gottlieb. Em seu lugar, Richard Helms ordenou que as experiências fossem dirigidas pelo doutor Stephen Aldrich, antigo director do Departamento de Espionagem Científica da CIA, o OSI. Após esta decisão, o Doutor Morte pensou que Helms o atraiçoara e que os seus muitos anos de esforço em caves imundas da CIA, em alpendres da selva do Vietname, não serviriam para nada. Aldrich ficaria com os louros dentro da CIA e Sidney Gottlieb seria apenas recordado como o «torturador de macacos».
A 20 de Setembro de 1972 chegariam as primeiras notícias sobre possíveis demandas contra a CIA por parte de antigas «cobaias humanas» de Ewen Cameron. Mas em vez de tentar negociar, Richard Helms deu ordens a William Buckley e ao Departamento de Segurança da CIA para localizarem cada um dos pacientes que poderiam ter sido utilizados por Cameron nas experiências do MKUltra. A única coisa que Helms desejava saber era se algum deles poderia relacionar as experiências no Allan Memorial Institute com a CIA. Se não fosse assim, não deviam preocupar-se com nada e talvez pudesse salvar-se alguma coisa do projecto MKSearch.
A 11 de novembro de 1972, Buckley redigiu um relatório classificado como «altamente secreto» e dirigido a Richard Helms em que revelava que nenhum antigo paciente do Allan Memorial Institute poderia relacionar este instituto com a CIA. Apenas se poderia encontrar uma relação entre ambas as instituições mediante os milhares de documentos, relatórios, comunicações e notas que a CIA tinha armazenado nos seus arquivos. A 9 de Dezembro de 1972, Helms convocou Sidney Gottlieb ao seu gabinete do sétimo andar do quartel-general da CIA em Langley e disse-lhe unicamente: “Isto terminou. Amanhã de manhã começarei por dar como encerrada esta operação Often e, por conseguinte, o projecto MKSearch.” Helms levantou-se da mesa, estendeu a mão a Gottlieb e deu por terminado o encontro.
A 10 de Dezembro de 1972 a decisão do DCI foi executada. Quase uma trintena de operações e programas vinculados ao MKSearch foram suspensos de imediato. Para tal, o DCI enviou a Sidney Gottlieb um breve memorando com as indicações: «Altamente secreto», «Só para os seus olhos» e «Destruir depois de ler».
Depois de destruir o memorando, o cientista destruiu todos os documentos relativos ao MKUltra e ao MKSearch. Todos eles tinham datas que iam de 13 de Abril de 1953 a 10 de Dezembro de 1972.
A 2 de Fevereiro de 1973, o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, decidiu despedir Richard Helms e substituí-lo por James Schlesinger. Quando o novo DCI ocupou o gabinete do sétimo andar, perguntou a Helms: “Acha que alguma coisa da nossa história recente nos poderá causar algum problema?” Helms respondeu: “Não. Absolutamente nada.”
De seguida Richard Helms, o homem que mais sabia sobre as experiências efectuadas nas últimas décadas por Sidney Gottlieb, desapareceria para sempre da história da CIA.
Nas páginas 00215 e 00216 do relatório das «Joias de Família» há um memorando com a data de 8 de Maio de 1973 onde ainda aparece a assinatura de Sidney Gottlieb como chefe da TSD da CIA. O memorando é dirigido a outras agências do governo, às quais se oferece os serviços da TSD. Na lista aparecem o Departamento de Defesa, o FBI, o Departamento de Narcóticos e Drogas Perigosas, o Serviço de Imigração e Naturalização, o Departamento de Estado, os Correios dos Estados Unidos, o Serviço Secreto, a Agência Internacional para o Desenvolvimento e inclusive a própria Casa Branca. Num documento anexo de seis páginas, Gottlieb efetua propostas concretas a cada uma delas sobre o possível apoio da TSD às diferentes agências e departamentos governamentais dos EUA.
Por exemplo, na página 00217 Gottlieb oferece ao Departamento de Defesa assistência em matéria de operações de espionagem no estrangeiro em conjunto com os postos da CIA, também no estrangeiro. Também lhes oferece materiais de escrita secreta, cursos de sabotagem e de contra-espionagem a membros das forças especiais ou sistemas de áudio de alta tecnologia. Também oferece ao FBI sistemas avançados de vigilância, e ao Departamento de Narcóticos e Drogas Perigosas sistemas de vigilância com câmaras de alta definição e câmaras de alta sensibilidade para vigilâncias com pouca luz. Ao pessoal dos Correios oferece-lhes treino em detecção de cartas-bomba e em como abrir cartas e pacotes sem que a sua abertura possa ser detectada.
Oferece-se para apoiar o Serviço Secreto na criação de identificações especiais com fotografia para os agentes e os veículos presidenciais com o objectivo de evitar que possam ser falsificadas. Aos membros dos departamentos da Polícia de Washington, Arlington, Alexandria e Fairfax deu-lhes cursos de treino, entre 1963 e 1966, em matéria de vigilância electrónica, fotográfica e com microfones, e em matéria de contra-sabotagens e entradas ilegais. As páginas 00220, 00221 e 00222 continuam a ser «altamente secretas» e portanto aparecem no relatório das «Jóias de Família» ainda sob censura oficial da CIA.
Pouco depois de se tornar público o seu trabalho na CIA e a sua função na criação e fabrico de venenos potentes nos projectos MKUltra e MKSearch, Sidney Gottlieb retirou-se da CIA no fim de Maio, início de Junho de 1973 e desapareceu da face da terra. Era como se Gottlieb jamais tivesse existido ou feito parte de um dos maiores conluios de assassínio levados a cabo pela CIA em toda a sua história.
Soube-se por fim que Sidney se retirara para uma zona remota da Índia e que tinha passado os últimos anos da vida a trabalhar como voluntário num hospital para leprosos. Algumas fontes também afirmam que o Doutor Morte teria regressado aos EUA para criar cabras na sua quinta e para colaborar num centro de doentes terminais.
Gottlieb tinha passado vinte e dois anos na CIA, e mesmo passados muitos anos, as suas invenções continuavam a ser usadas pelos funcionários da instituição. Drogas que alteravam o comportamento, toxinas letais, aerossóis assassinos, inclusive um relógio de ouro que ao se lhe dar corda explodia.
Sidney Gottlieb faleceria a 7 de Março de 1999, aos oitenta anos de idade. Jamais, nem sequer no leito da morte, se arrependeu das experiências que realizara para a CIA no âmbito dos projectos MKUltra e MKSearch, que tinham custado demasiadas vidas, talvez milhares.
“A minha função durante os anos seguintes seria manter os segredos bem guardados e a tampa da caixa bem fechada, para que nenhum cadáver da CIA visse a luz do dia. Mas quem sabe que outras coisas havia guardadas, que outros papéis incriminatórios se encontravam enterrados nos escritórios de alguma instituição ou nalgum dos andares clandestinos que a CIA utilizara”, declararia William Bucldey, o responsável do Departamento de Segurança da CIA designado para os projectos MKUltra e MKSearch.
Apesar disso, Schlesinger ordenaria a compilação das «actividades altamente voláteis» da CIA num relatório que seria baptizado com o nome de «Jóias de Família». MKUltra e MKSearch faziam parte delas.
O caixão de Sidney Gottlieb foi acompanhado pela viúva, Margaret Gottlieb, e pelos quatro filhos. O caixão estava coberto com a bandeira dos Estados Unidos, mas apesar de muitos terem qualificado Gottlieb como um «patriota», um «defensor das liberdades», um «defensor da segurança nacional dos Estados Unidos da América», não houve banda de música, nem guarda de honra para escoltar o ataúde, nem um enviado do presidente para prender à bandeira alguma condecoração. Aquele homem de oitenta anos desaparecia simplesmente, com o mesmo mistério e silêncio com que desenvolvera o seu trabalho secreto para a CIA durante vinte e dois anos (1951-1973). Nem sequer a esposa alguma vez soube a que se tinha dedicado o marido, nem o sofrimento e a morte a que sujeitou muitos dos seus semelhantes.