Pesquisador europeu cria polémica ao fabricar vírus modificado com grande capacidade de contagiar humanos.
Ron Fouchier, do Centro Médico Erasmus, na Holanda, iniciou a sua pesquisa para compreender melhor o vírus responsável pela epidemia de gripe aviária em 2009. No entanto, as suas descobertas fizeram-no criar algo potencialmente perigoso – e agora a comunidade científica debate se é ou não correcto que ele publique os seus resultados.
O debate dá-se pela letalidade do H5N1. Até hoje, segundo a Organização Mundial de Saúde, terá infectado apenas 570 pessoas no mundo, mas matado 335 – uma taxa de mortalidade de quase 60%. O vírus é natural dos pássaros e tem pouca habilidade na hora de infectar outros animais, e essa é justamente a sua fraqueza: não se mover com facilidade de um humano para outro.
Fouchier, no entanto, modificou o vírus e tornou-o extremamente contagioso, transmissível pelo ar – como um vírus da gripe comum. Segundo o seu estudo, são necessárias apenas cinco mutações para tornar o H5N1 extremamente transmissível entre pessoas. Em Setembro, o pesquisador apresentou os seus resultados durante a conferência ESWI Influenza, realizada em Malta. Agora, ele deseja publicar o seu trabalho em revistas científicas.
O problema é que, para grande parte dos pesquisadores, trata-se de um perigo: o trabalho seria como uma receita, que pode ser replicada para criar uma pandemia global. O chefe da Junta Nacional de biossegurança dos Estados Unidos, Paul Kleim, teria, inclusive, declarado que não existe organismo patogénico mais assustador do que este.
Por outro lado, o trabalho poderia ser útil e ajudar a comunidade científica a preparar-se para uma possível epidemia, caso o vírus sofra as mutações sozinho. Qualquer que seja a decisão da comunidade científica, é difícil imaginar que a informação permaneça em sigilo por muito tempo – afinal, uma vez que alguém afirma ter alcançado algo, não demora muito para que outros comecem a tentar recriar o mesmo feito.
Fonte: Exame.com