A avó afinal tinha razão: os cientistas encontraram uma ligação entre as dores nas articulações e a previsão do estado do tempo.
A família Wolff de Paramus, Nova Jersey, olhando para as nuvens a amontoar-se no céu discutiam a possibilidade de cancelar o passeio no parque, quando Leora de 6 anos, teve uma ideia: “Vamos ligar à avó. Os joelhos dela sabem sempre quando vai chover! “
A avó de Leora, Esther Polatsek, diz que começou a ser sensível ao clima por volta dos seus 20 anos, quando uma fractura no seu pé doía sempre que uma tempestade se aproximava. Agora aos 66 anos e atormentada pela artrite reumatóide, a Sra. Polatsek afirma que sofre crises sempre que o tempo está prestes a mudar.
“É estranho. Às vezes o dia vai ser maravilhoso, mas eu vou ter esta dor terrível. E com certeza, no dia seguinte chove”, diz ela. “Podem ser apenas algumas gotas, mas fazem o meu corpo dar sinal.”
As condições meteorológicas podem realmente agravar a dor física?
É uma das maiores controvérsias desde sempre na medicina.
Hipócrates, em 400 a.C. notou que algumas doenças eram sazonais. O termo na medicina tradicional chinesa para o reumatismo (Fengshi bing) traduz-se como a “doença do vento húmido.”
Mas os estudiosos modernos têm obtido resultados inconsistentes nos estudos em que tentaram combinar os padrões climáticos com os relatos dos sintomas de dor – levando alguns a rejeitar a conexão como altamente subjectiva ou que tudo estaria na mente dos sofredores.
“As crenças das pessoas sobre a dor da artrite e o tempo pode dizer mais sobre o funcionamento da mente do que do corpo”, concluiu o falecido psicólogo Amos Tversky de Standford, em meados da década de 1990, depois de comparar os relatos de dor de 18 pacientes com artrite reumatóide, com as condições meteorológicas locais por um ano e de não encontrar qualquer ligação.
Ainda assim, outros estudos têm relacionado alterações na temperatura, humidade ou pressão barométrica ao agravamento da dor da artrite reumatóide e osteoartrite, bem como dores de cabeça, dores de dentes, dor na mandíbula, dor em cicatrizes, dor lombar, dor pélvica, fibromialgia, neuralgia do trigémeo (uma dor lancinante na face), gota e dor de membro fantasma.
Os cientistas não compreendem todos os mecanismos envolvidos na relação da dor com o clima, mas uma importante teoria sustenta que a descida da pressão barométrica que frequentemente precede uma tempestade altera a pressão no interior das articulações. As ligações entre os ossos, em conjunto com os tendões e ligamentos, são cercados e amortecidos por bolsas de líquidos e gases presos.
“Pense num balão com pressão de ar, tanto do lado de fora empurrando para dentro, como do lado de dentro empurrando para fora”, diz Robert Jamison, professor de anestesia e psiquiatria na Escola de Medicina de Harvard. À medida que a pressão externa cai, o balão – ou articulação – expande, pressionando-se contra os nervos circundantes e outros tecidos. “Isso é provavelmente o efeito que as pessoas sentem, especialmente se os nervos estiverem de alguma forma irritados,” afirma o Dr. Jamison.
Nem todas as pessoas com artrite têm dores relacionadas com o clima, diz Patience Branco, reumatologista na Universidade de Medicina George Washington e vice-presidente da Fundação da Artrite nos E.U.A. “É mais comum em pessoas com algum tipo de derrame”, um acumulo anormal de líquido ou em torno de uma articulação em que frequentemente ocorre inflamação.
Muitos pacientes juram que determinadas condições meteorológicas agravam a sua dor. Consequentemente, ortopedistas, reumatologistas, neurologistas, médicos de família, quiropráticos, terapeutas físicos, até mesmo Personal Trainers – relatam um aumento das queixas entre os seus pacientes quando a temperatura cai ou uma tempestade se aproxima.
“Eu posso dizer enfaticamente que há certos dias em que praticamente todos os pacientes se queixam de aumento da dor”, diz Aviva Wolff, uma terapeuta ocupacional do Hospital de Cirurgia Especial, em Nova Iorque, e filha da Sra. Polatsek. “Quanto mais dramática for a mudança climática, mais óbvias são as queixas.”
Tanto o Weather Channel como o AccuWeather possuem índices nos seus websites que calculam a probabilidade das pessoas terem dores por todo o país, com base na pressão barométrica, temperatura, humidade e vento. Mudanças nessas condições tendem a afectar as articulações ainda mais do que as condições normais, diz o meteorologista Michael Steinberg da AccuWeather, razão pela qual o Índice de Artrite mostra mais risco no dia antes de uma tempestade ou uma queda acentuada da temperatura está prevista.
Alguns doentes dizem que as suas articulações podem ser mais precisas do que os meteorologistas. Bill Balderaz, 38 anos, presidente de uma empresa de marketing digital em Columbus, Ohio, sofre de artrite-reumatóide. Lembra-se de sentir “a pior dor causada pela artrite que eu já tive. Mal podia mexer ” foi num dia do ano passado, apesar de ter estado sol e céu limpo. A meio da tarde, um furacão conhecido como um ‘derecho’, com ventos de 80 milhas por hora, começou de forma inesperada a fustigar Ohio e outros três estados, percorrendo 600 milhas em 10 horas e derrubando os postes de electricidade e cortando o fornecimento de energia por 10 dias.” A tempestade apanhou todos de surpresa. Estava tudo calmo num minuto e, de seguida, os céus abriram-se”, afirma Balderaz.
Testes em animais parecem suportar a teoria do impacto das condições meteorológicas. Num estudo, as cobaias com dor nas costas induzida, apresentaram sinais de aumento da dor, quando as suas patas traseiras eram puxadas em condições de baixa pressão barométrica.
O tempo frio parece aumentar o risco de acidente vascular cerebral, ataques cardíacos e morte súbita, como algumas pesquisas mostram. O risco de ataque cardíaco subiu 7% na descida de temperatura a cada 10 graus Celsius (18 graus Fahrenheit), de acordo com um estudo com cerca de 16 mil pacientes na Bélgica, apresentado na Sociedade Europeia de Cardiologia, no mês passado. Investigadores britânicos que estudam anos de dados sobre desfibrilhadores implantados descobriram que o risco de arritmia ventricular, uma arritmia cardíaca que pode levar à morte súbita, subiu 1,2% para cada 1,8 graus Fahrenheit de descida na temperatura, de acordo com um estudo publicado na International Journal of Biometerology no mês passado.
Os investigadores acreditam que, as culpas atribuídas anteriormente às tarefas físicas exigentes, como a limpeza da neve, no aumento do risco cardíaco devido ao frio, pode afinal ser devido ao espessamento arterial e constrição dos vasos sanguíneos.
E o aumento de humidade pode causar nas articulações inchaço e endurecimento. Na verdade, tendões, ligamentos, músculos, ossos e outros tecidos, têm diferentes densidades, para que se possam expandir ou contrair de maneiras diferentes nas mais variáveis condições, diz o Dr. Jamison.
Em pessoas com inflamação crónica de artrite ou lesões antigas, mesmo as pequenas irritações devido ao tempo podem agravar as células nervosas sensoriais, conhecidas como nociceptores, que retransmitem os sinais de dor para o cérebro. Isto pode explicar o porquê de algumas pessoas com dor neuropática ou dor de membro fantasma também relatarem dores relacionadas com a alteração do clima.
“Pacientes com fibromialgia parecem ser os mais sensíveis”, afirma Susan Goodman, reumatologista do Hospital de Cirurgia Especial. Ela também observa que, enquanto algumas pessoas parecem ser extremamente sensíveis ao clima, outros com situações semelhantes, não o são, por razões que não são claras. Isso pode explicar o porquê de muitos estudos não encontrarem nenhuma associação clara, diz Susan.
Algumas condições meteorológicas parecem aliviar a dor. Num estudo, os ventos quentes Chinook de alta pressão comuns no oeste do Canadá, diminuíram dores neuropáticas dos pacientes, do tipo causado por doenças ou lesões. Para outros pacientes, o mesmo clima aumentou as enxaquecas e dores de cabeça de sinusite.
Algumas pessoas que sofrem com estas dores dizem que se sentem melhor em climas quentes e secos onde as condições raramente mudam. Quando foi para Israel na década de 1990, “senti-me como se estivesse 20 anos mais jovem quando desci do avião”, afirma a Sra. Polatsek, a paciente com artrite-reumatóide.
Mas os estudos não têm, de forma consistente, confirmado os benefícios de um clima em detrimento de outro. “Não há realmente nenhum lugar nos EUA, onde as pessoas relatem mais ou menos dor relacionadas com o clima,” diz o Dr. Jamison. Ele examinou 557 pacientes com artrite em quatro cidades, em 1995, e descobriu que mais de 60% acredita que o clima afectou a sua dor independentemente de onde viviam: San Diego, Boston, Nashville, Tennessee, ou Worcester, Massachusetts.
Visitar um clima quente e seco pode trazer alívio temporário, acrescenta o Dr. Jamison. “Mas se viver nessas condições a tempo inteiro, o seu corpo parece acostumar-se e tornar-se sensível às mudanças climáticas, mesmo as mais subtis.”
Melinda Beck
14 de Outubro de 2013
Fonte: Wall Street Journal
Artigo Original: Aqui.