Pelas cartas e declarações das pessoas ligadas directa ou indirectamente com a perda de seis aviões, parece que todas as ligações são conhecidas e quanto resta é combiná-las, resolvendo assim o que a marinha considera um dos maiores mistérios do mar. Há na verdade factos suficientes para chegar a um certo número de conclusões sem nos excedermos em conjecturas:
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1.) Os hidroaviões PMB Mariner eram aparelhos muito difíceis de tripular devido à grande quantidade de combustível com alto grau de octanas que levavam a bordo; alguns deles explodiam no ar.
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2.) Uma frente fria de ventos fortes moveu-se através do estreito da Florida a 5 de Dezembro de 1945, como resultado da mudança de direcção do vento de sudeste para noroeste.
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3.) O tenente Taylor ficou perturbado no que dizia respeito à direcção em relação à base.
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4.) O facto do radiotelegrafista Baker e o tenente Taylor ligarem frequências de rádio em canais separados dos outros aviões pode explicar a informação da torre de que o capitão Stivers tenha tomado o comando do voo. Muito provavelmente comunicou com outros aviões enquanto Taylor estava ocupado com os esforços de Baker em conduzir a formação para a base.
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5.) O avião que abandonou o voo e voltou para trás em direcção oposta pôde fazer acreditar àqueles que estavam em terra manobrando as radiocomunicações que o pânico se desencadeara.
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6.) Várias vezes se tem perguntado porque é que o voo não se guiou pelo Sol em direcção a oeste, pois o incidente ocorreu não muito antes do pôr do sol. Podíamos dar duas explicações: uma nuvem que o ocultasse; ou se Taylor julgava que estavam sobre o golfo do México, naturalmente devia afastar-se do Sol dirigindo-se mais para além, em direcção ao Atlântico.
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7.) O comandante Cox tinha a impressão de que ouvia todas as comunicações do comandante do voo e esteve em contacto com ele até quase ao final. No entanto o rádio de Baker era muito mais potente e provavelmente manteve contacto com o voo durante mais tempo que o capitão Cox ou a Base Aero-Naval do Forte Lauderdale. Baker e Taylor também estiveram num canal separado durante certa parte do tempo, que incluiu o último contacto do avião.
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8.) A ilha de Andros, que fica a cerca de cem milhas sudeste de Miami, é banhada por águas fundas ao longo da sua costa oriental e por milhas de baixios para ocidente. É comprida e estreita. Estes baixios estendem-se pelo menos por cinquenta milhas para oeste, e do ar, durante o tempo inclemente, podia com facilidade confundir um aviador julgando-se na ponta sul da Florida, mesmo ao norte de Keys. As semelhanças entre estas áreas são tantas que o tenente Taylor pode ter imaginado que passara além da Florida e estava no sobre o golfo do México. De facto, tinha tal certeza que isto acontecera que recusou a seguir a orientação do radiotelegrafista Baker. Deu a volta, mas em vez de se dirigir para a Florida voltou para Andros e possivelmente não avistou a ilha. Daí, continuar a afastar-se para leste … e a desviar-se da base.
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9.) Andros é bastante para sul do local onde devia estar a patrulha, e senão tivesse havido tão cedo mudança de ventos, podiam muito bem ter sido arrastados para aquela área.
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10.) Com toda a probabilidade, os aviões dirigiam-se para oeste, mas enfrentando a força dos ventos ciclónicos de setenta a oitenta nós, a sua velocidade devia ter sido muito reduzida. Deste modo, quando se deviam estar a aproximar da costa da Florida, estavam perto da ilha de Andros. Deve ter sido então que puderam determinar a força do vento, e uma vez sobre a água, podem ter passado sobre a área onde os ventos agora tinham diminuído.
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11.) Meses antes de 5 de Dezembro de 1945, a base de comunicações de Port Everglades, em resultado da excelência de coordenação nas operações de salvamento, recebeu uma citação do Secretário da Marinha, James Forrestal.
Reunindo estes factos, pode recriar-se o episódio que foi fatal para a Flight 19. Provavelmente, pouco depois das 15 horas e 30 minutos do dia 5 de Dezembro de 1945, os cinco TBM Avengers estavam nas últimas horas da sua missão de rotina. Mesmo antes de terem avistado terra, no seu voo de reconhecimento, encontraram uma frente fria, uma região envolta em nuvens e fortes ventos de noroeste. Os ventos, sem que os aviadores o soubessem, tinham-nos afastado para sul da sua rota e, haviam também reduzido consideravelmente a sua velocidade, Quando passaram a frente e saíram das nuvens, viram terra atrás deles e uma grande extensão de baixios que se estendia para oeste, até perder de vista. Supondo que tinham passado sobre o extremo sul da península da Florida, o guia levou-os, num grande círculo, para norte, julgando aproximar-se pelo oeste de Forte Lauderdale. Neste ponto enfrentaram ventos de setenta a oitenta milhas por hora, à altitude de oito mil pés. Na situação em que se encontravam, depressa saíram de terra e de novo ficaram sobre o oceano. Haviam confundido Andros, a maior das ilhas das Bahamas, com o sul da Florida.
Foi nesta altura, um pouco antes das 16 horas, que se puseram em comunicação com a base, dizendo que estavam perdidos. Tentando refazer o voo, mais uma vez se dirigiram para oeste. Isto colocá-los-ia sobre as profundas águas do nordeste de Andros. Nesta altura já estavam em contacto com o radiotelegrafista Baker. Para sul avistavam a terra que descreveram a Baker. Na altura em que a tripulação das comunicações determinou que a terra que via era a ilha de Andros, o voo estava já a meia distância da Florida. O aparelho cujo piloto se afastou por sua vontade já se separara do grupo, deixando que só quatro aviões se aproximassem da costa da Florida. Mas por estranhas razões o comandante da esquadrilha ainda estava convencido de que voava sobre o golfo do México e inverteu a direcção. O voo dirigia-se agora para leste e fê-lo até todas as comunicações com os aviões se perderem. Continuaram a voar até que por falta de combustível caíram – uns nas águas das Bahamas, outros no Atlântico, na zona conhecida como Mar dos Sargaços.
Os factos conhecidos explicam a sorte que atingiu os aviadores. Mas é uma prova que supera todas as dúvidas? Faltam ainda os dois elos finais da cadeia dos acontecimentos … as vítimas e os destroços. Que um avião desapareça sem deixar rasto é completamente possível. Pode ainda conceber-se que dois aparelhos desapareçam sem que mais nada se saiba a seu respeito. Três aparelhos … possível, mas não provável. Mas seis aparelhos com vinte e sete homens de tripulação e nem sequer dois se encontrarem na mesma posição exacta? Isto deixa aos grupos de busca e salvamento seis locais separados de queda dos aviões, dentro ou perto do grupo de ilhas onde todos os aviões caíram, num espaço de tempo relativamente curto. Mesmo se o grande Mariner tivesse explodido, muitos destroços teriam ficado a flutuar. Se os Avengers se tivessem separado devido a uma violenta tempestade – teoria da «água branca» -, também deviam ter deixado destroços flutuando à superfície. E o quinto Avenger, que se afastou, também teria encontrado a tempestade? Os cinco TBM não deviam ter gasto as reservas de combustível ao mesmo tempo. Cada um deve ter podido «amarrar» e ter tido a possibilidade de ficar a flutuar pelo menos durante vários minutos. Em inúmeras ocasiões, durante a guerra do Pacífico, os Avengers foram obrigados a descer no mar e ficaram a flutuar o tempo necessário para as tripulações insuflarem as jangadas salva-vidas e abandonarem os aparelhos sem molhar os pés.
Se o quinto aparelho fosse aquele em que o cabo Kosnar devia ter voado, teria podido ficar a flutuar mais tempo que os outros, visto a sua carga ser mais leve, e podia também ter abandonado a formação antes de encontrar os ventos ciclónicos que fizeram com que os aviões gastassem mais combustível que o normal. Isto poderia ser explicação para o misterioso sinal «FT–FT» recebido pela torre Opa-Locka várias horas depois de todas as comunicações com o voo estarem perdidas. Havia numerosas ilhas entre a zona mais próxima da Florida que o voo alcançou e o mar largo, que ficava para leste. Pareceria provável que o quinto avião ou a formação tivessem passado por uma e tivessem feito uma tentativa para aterrar. Contudo mantém-se a possibilidade de os aviões poderem ter, por qualquer desígnio da sorte, voado em direcção leste através das Bahamas, sobre o estreito corredor no canal a noroeste de Providência, e os homens não terem visto as ilhas. Teriam tido que aterrar a cerca de doze milhas de distância em qualquer dos lados. Essa terra teria sido as ilhas Berry, o extremo sul do Grande Abaco e a ponta norte da ilha Eleutera … e depois, o alto mar.
Em Maio de 1961, todos os jornais, de Nova York à Florida, especulavam em grandes parangonas que o «o Grande Mistério Marítimo de Forte Lauderdale pôde finalmente ser resolvido». A 19 de Maio, uma enorme draga de sucção estava a trabalhar no Rio Banana, no perímetro oeste do Cabo Canaveral. A finalidade da drenagem era fazer um aterro para o enorme complexo do míssil Saturno que estava em construção no cabo. Depois de dias a trabalhar na lama mole sem qualquer dificuldade, a grande bomba de sucção, de súbito, mascou e parou. Ao desmantelar a máquina, os homens descobriram um cilindro de motor de avião alojado no mecanismo. A princípio os homens pensaram que fosse sucata de um avião. No entanto, depois de retirarem o cilindro de alumínio, descobriram ossos humanos e um sapato, que foi mais tarde identificado como sendo típico de marinheiro ou de fuzileiro. Chamou-se para o local um grupo de mergulhadores, mas estes constataram que a água estava tão lodosa que só conseguiam ver as bolhas de ar que eles próprios faziam. O fundo de lama era tão denso que tornava os seus esforços completamente inúteis.
Concluiu-se que o cilindro pertencera a uma espécie de aparelho do tipo Avenger. Pouco depois a drenagem trouxe à superfície dois painéis de rádio do modelo utilizado pelos Avengers. Os jornais ocuparam-se da história durante quase uma semana, mas o mistério permaneceu. Um grupo da marinha chefiado pelo tenente Richard Stacck determinou que os destroços pertenciam a um aparelho SBD, um velho bombardeiro de ataque da Segunda Guerra Mundial. Mas agora surgia um novo mistério. Uma investigação minuciosa foi incapaz de revelar a existência de um SBD das bases da Segunda Guerra Mundial que tivesse alcançado o local onde se encontraram os destroços.
Em Junho de 1973, um número da Naval Aviation News, publicação do Governo, trazia um artigo assinado por Michael McDonall chamado «A patrulha perdida».
Uma das perguntas a que se responde é porque razão o comandante Cox, instrutor de voo, não voltou a sair quando regressou à base, depois de ter tido dificuldades com o aparelho de rádio. De acordo com o artigo de McDonall, Cox pediu autorização para subir noutro avião a fim de auxiliar os Avengers em perigo. No entanto, o oficial de operações respondeu-lhe: «Definitivamente, não.» O oficial afirmou nas investigações que julgava que a Flight 19 se tinha finalmente orientado e estava a voltar à base. Também disse que havia um factor de salvamento devido ao mau tempo se estar a desviar para norte. No entanto, continua a não haver resposta no que se refere aos outros onze aviões do voo do comandante Cox terem sido incapazes de prestar auxílio depois dele ter tido dificuldades com as comunicações.
As comunicações com os aviões e as mensagens que passaram entre si e a base, tal como se diz num artigo da Aviation Week, tendem a apoiar a história do radiotelegrafista Melvin Baker. Também confirmam a afirmação de Baker quanto ao tempo indevidamente longo que levou para conseguir o aparelho DF. Na altura em que o conseguiu, os aviões já estavam no mar largo e só « com combustível para cerca de vinte minutos». Se a tempo se tivesse conseguido o que se pedia, teriam morrido aqueles vinte e sete homens? Os únicos que podiam responder a esta pergunta estão mortos. O artigo dá uma nova luz no que respeita ao avião de pesquisas PBM. O porta-aviões U.S.S. Solomons, que operava ao largo da costa da Florida na altura em que os aparelhos desapareceram, informou mais tarde: «O nosso radar aéreo mostrou um avião que, depois de levantar voo do Rio Banana na noite passada, se juntou a um segundo avião (o segundo aparelho de buscas), separando-se depois de um curso de 0,45 graus, no instante exacto em que o S.S. Gaines Mills avistou chamas e no preciso local o avião a que referi desapareceu do radar e não tardou a aparecer.» Isto com toda a evidência leva a crer na teoria de que o Mariner do tenente Cone explodiu no ar.
De acordo com o artigo, outro membro da esquadrilha, além de Kosnar, também sentiu que não devia voar nesse dia. Pediu ao oficial de serviço para encontrar outro piloto, dizendo que não lhe apetecia voar. No entanto, foi-lhe respondido que não era razão suficiente e o seu pedido recusado. A demora do tenente Taylor em comunicar com a sala de operações atrasou em vinte e cinco minutos o voo da esquadrilha. Mas na realidade voaram … para o desconhecido.
Fonte: Livro “O Mistério do Triângulo das Bermudas” de Richard Winer
Índice do Caso da Flight 19: https://paradigmas.online/?p=5122