Durante o período que vai de 1920 a 1933, quando o décimo oitavo decreto lei da Constituição dos Estados Unidos proibia o uso, manufactura, transporte, venda, importação e exportação de bebidas alcoólicas, nasceu uma nova raça de aventureiros: os contrabandistas de álcool.
Estes homens não atingiram a notoriedade dos vendedores ilegais ou a infâmia dos salteadores. Podem ser classificados como trânsfugas do bloqueio, porque estavam constantemente a fugir aos barcos patrulhas dos Serviços Fiscais dos Estados Unidos e à guarda costeira. A maior parte dos salteadores já morreu. Os contrabandistas de álcool não têm desejo de ser recordados. Mas àqueles que ainda estão vivos e que fizeram o negócio ilícito nesse país, quer fosse por mar ou por avião, durante a proibição, ainda lhes brilham os olhos quando recordam “os velhos tempos”. Constituíam um grupo verdadeiramente fora de série.
Os barcos construídos em Miami eram considerados os melhores para o contrabando de álcool. De facto, alguns dos barcos, desenhados especialmente para uma rápida incursão através da corrente do golfo, das Bahamas à Florida, são hoje modelos de barcos de cruzeiro, do desporto e da pesca.
Centenas destes barcos faziam o percurso das Índias Ocidentais ao continente. Quatro ou cinco viagens pagavam o custo do barco. Depois, era só lucro. Mas era mais fácil dizer que fazer. Muitos tinham êxito, outros eram apanhados pela guarda costeira ou pelos guardas fiscais e outros desapareciam em circunstâncias misteriosas. Um grande número de coisas pode ter acontecido a este último grupo. Podem ter sido apanhados por salteadores e os barcos e os corpos mandados para o fundo do mar. Também pode ter acontecido que um dos elementos da tripulação tenha recebido uma grande soma de um contrabandista para comprar whisky e depois desaparecer. Ou pode ter comprado o álcool e depois vendê lo a outro contrabandista, antes de desaparecer. Todas essas negociações passavam-se nos limites do “Triângulo das Bermudas“.
Muitos estados tiveram de cooperar com os perigosos grupos dos fora da lei. Por vezes estes pistoleiros converteram-se em lendários heróis populares. Havia os irmãos James, do Missouri, os Doolins, de Oklahoma, os Daltons e outros, como o bando Ashley, da Florida. No período que se seguiu à Primeira Guerra Mundial, os quatro irmãos Ashley, chefiados por John, deixaram a sua marca na história da Florida, com uma sucessão de roubos e tiros tanto para norte como para sul da península. Casualmente John foi preso. Bob Ashley foi morto ao tentar libertar John, depois de ter morto dois agentes.
Os outros dois irmãos, Ed e Frank, acrescentaram aos seus roubos a bancos o contrabando das Bahamas para a Florida. O seu barco era um dos mais rápidos. Tinha de ser, porque os bancos pagavam para isso.
Uma tarde, em Março de 1924, quando a corrente do golfo estava tranquila, a não ser que caísse uma chuvada, Ed e Frank saíram da Grande Bahama para percorrerem uma rota de cinquenta milhas até Palm Beach com um carregamento de whisky. No entanto nunca chegaram ao continente. Desapareceram. O tempo estivera bom, e os frequentes boatos do mundo do crime, habitualmente de acreditar, não davam qualquer indicação dos dois irmãos terem sido assaltados.
Durante este período, John Ashley estava a cumprir pena na prisão em Raiford, do Estado da Florida. A notícia do desaparecimento dos dois irmãos impressionou-o profundamente. Uma noite, semanas depois, John sonhou que um bando rival matara os seus irmãos depois de assaltar o seu barco, que levava uma carga de whisky no valor de dezoito mil dólares. Em Maio, John fugiu da prisão.
Um mês mais tarde, os três membros do grupo rival, Beau Stokes, Dick Allen e Ed White saíram no seu barco de alta velocidade, de Palm Beach em direcção ao West End, nas Bahamas. Algures no lençol de água de cinquenta milhas de extensão que separa Palm Beach do West End, os três homens desapareceram, porque nunca chegaram ao seu destino para ir buscar a carga de bebidas alcoólicas que esperava por eles. Nunca mais tornaram a ser vistos. Se mataram ou não os dois irmãos Ashley e se John Ashley os matou influenciado pelo sonho será sempre um mistério. O que os guardas dos bancos, a polícia, a guarda fiscal e os xerifes não puderam fazer, fê lo o “Triângulo das Bermudas“.
Fonte: Livro “O Mistério do Triângulo das Bermudas” de Richard Winer
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