Três famosos fundadores da Sociedade Britânica de Pesquisas Psíquicas – Henry Sidgwick, Frederic Myers e Edmund Gurney, surgem com destaque num dos casos mais constrangedores de correspondência com espíritos de que temos memória. Por mais incrível que possa parecer, os três distintos cavalheiros figuraram não como receptores, mas sim como emissários.
A história das Correspondências Cruzadas, como acabou por ser conhecida e teve início em 1901, quando cinco diferentes mulheres, que não se conheciam, começaram a receber mensagens de espíritos de pessoas falecidas. As cinco empregaram uma técnica conhecida como psicografia, estado de transe em que a entidade comunicadora assume o comando do médium e transmite mensagem por escrito.
A primeira mulher a ser contactada por um espírito que se identificou como Myers, foi a Sra. A. W. Verrall. Um pouco mais tarde, Lenora Piper, dos Estados Unidos da América, também passou a receber mensagens de Myers. Sem saber o que estava a acontecer com aquelas duas mulheres, Alice Fleming, irmã do escritor inglês Rudyard Kipling e a sua filha, Helen, receberam comunicações similares do além, enquanto estiveram na Índia. A essas quatro, juntou-se outra inglesa, a Sra. Willet. Contudo, o mais incrível aconteceu em 1903, quando Helen Holland recebeu uma solicitação de Myers, pedindo-lhe que entrasse em contato com uma das suas velhas amigas. A mão de Helen escreveu o nome dessa amiga: Sra. Verrall, 5 Selwyn Gardens, Cambridge.
A Sra. Fleming encaminhou a mensagem psicografada à Sociedade Britânica de Pesquisas Psíquicas e, lentamente, os pedaços separados do quebra-cabeças começaram a juntar-se. Nos Estados Unidos da América, Lenora Piper foi testada por G. B. Dorr, que perguntou-lhe o significado da palavra lethes [1]. “Myers“, o espírito que guiara a sua mão, respondeu com uma série de alegorias, como seria de esperar de uma pessoa que, em vida, tivesse-se dedicado aos estudos clássicos. Idêntica interpelação foi feita à Sra. Willet na Inglaterra, pelo celebre médium Oliver Lodge. O seu espírito do outro lado do Atlântico deu, essencialmente, resposta igual, bem como o nome da pessoa que lhe fizera a mesma pergunta nos Estados Unidos da América, Dorr.
Finalmente, a Sra. Willet conseguiu comunicar-se com as três pessoas, Myers, Sidgwick e Gurney, três estudantes de assuntos clássicos. Através dela, o irmão do primeiro-ministro, Lord Balfour, questionou Henry Sidgwick quanto à relação do corpo com a mente. Gurney, ou o espírito que dizia ser ele, falou sobre as origens da alma. A Myers foi perguntado como era comunicar-se do além.
“Tenho a impressão de estar em pé por trás de uma lâmina de vidro congelada”, respondeu ele “que turva a visão e abafa o som. Que sensação de terrível impotência me arrasa”, ditando com voz fraca para a secretária relutante e obtusa.
NOTA:
[1] Lethe: na mitologia grega e romana, Rio dos Infernos, cujas águas faziam os mortos esquecer todo o passado.
Fonte: Livro «O Livro dos Fenómenos Estranhos» de Charles Berlitz