Depois de vários meses em tribunal a exigir e-mails do Instituto Robert Kock (RKI) alemão, um grupo de advogados conseguiu que fossem publicados os e-mails do governo e dos cientistas que o aconselharam.
O que se lê, são políticos a pedir [exigir] a “cientistas” que produzam a “prova” de que algo catastrófico está a caminho e que eram precisas medidas ditatoriais de suspensão de direitos e garantias. Os políticos pediram, e receberam, simulações catastrofistas e de piores cenários imagináveis. Não foram os “cientistas” que alertaram o governo, foram os políticos que solicitaram.
O ministério queria formar uma “plataforma de investigação ad hoc”. Era necessário um modelo de cálculo para ficar “à frente da situação” mentalmente e em termos de planeamento”. Deveria permitir mais “medidas de natureza preventiva e repressiva”. O secretário de estado alemão desenhou um quadro distópico: Tratava-se de “manter a segurança interna e a estabilidade da ordem pública na Alemanha”.
O secretário de estado esperava dos cientistas a quem se tinha dirigido, uma apresentação da situação que fosse tão ameaçadora quanto possível. O resultado ficou disponível apenas quatro dias mais tarde, carimbado com secretismo, sobre a perspectiva iminente de até um milhão de mortos. Também sugeria como conseguir o “efeito de choque desejado” na Sociedade, a fim de evitar o pior cenário possível.
Máxima colaboração
Em meados de Março de 2020, a Alemanha encontrava-se no seu primeiro confinamento. Escolas e lojas foram fechadas e os nervos no país estavam no limite. Este foi também o caso do ministro federal do interior Horst Seehofer (CSU). Isto porque o virólogo Christian Drosten e Lothar Wieler, o chefe do RKI, tinha acabado de fazer uma visita à sua casa. Os dois lançaram um aviso ao Ministério do Interior: A Alemanha estava ameaçada com consequências dramáticas se o país regressasse à vida quotidiana demasiado depressa.
Kerber tinha um plano: queria reunir cientistas de renome de vários institutos de investigação e universidades. Juntos, iriam produzir um documento que serviria então como legitimação para outras duras medidas políticas. Lançou um apelo correspondente aos investigadores via e-mail. Apenas alguns dias mais tarde, o pedido foi satisfeito. Forneceram contributos para um documento classificado do Ministério do Interior (IMC),
O Welt am Sonntag recebeu uma extensa correspondência que revela exactamente o que aconteceu nesses dias críticos de Março de 2020. Mostra, acima de tudo, que a autoridade de Seehofer tinha a intenção de recrutar os cientistas comissionados para o objectivo político que tinha em mente – e que estes ficaram agradados em satisfazê-lo. As cerca de 200 páginas de e-mails provam assim que, os “especialistas” não agiram de forma independente, trabalhando para um objectivo partilhado com o governo alemão.
A correspondência tem a sua origem no RKI. Um grupo de advogados, representados por Niko Härting, obteve-a numa disputa jurídica com a autoridade que se prolongou durante meses. Apesar de censurados em muitos locais, os documentos relatam claramente o exposto anteriormente.