Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE) veio agora dizer que a culpa da inflação é dos privados: Primeiro, da cupidez das empresas, que aumentaram em demasia as suas as margens de lucro, e depois dos empregados, cujos salários não podem nem devem subir, para não aumentar a inflação. [1]
Ou seja, a culpa não é da prevaricação dos governos, que andaram no COVID-19, com gastos astronómicos em testes, máscaras, vacinas (às 10 doses por pessoa, sem que os contratos rubricados se tornem públicos), e às “transições energéticas”, com a economia largamente parada, além de, no caso de Portugal, subsistirem as habituais subversões adicionais, através da TAP, BPN, etc.

A culpa também não é do BCE a que Lagarde preside, ao entrar em conluio com os governos, que para se recapitalizarem após a brincadeira, lançam para o mercado grandes quantidades de títulos obrigacionistas, que são absorvidos em larga medida pelo Banco Central (Quantitative Easing) em troca de nova moeda que entra em circulação.
A culpa não é, portanto, de que na economia monetária (à semelhança da economia real), quando se aumenta a oferta de algo, o seu valor diminui. Por exemplo, se num dado ano, aumentar a produção de laranjas, estas tendem a baixar de preço.
A inflação não é, então, um imposto oculto, onde o incauto e alheado cidadão vê o dinheiro que tem no bolso perder valor, assim que novas “Bazucas” (que num assomo de prestidigitação, são “vendidas” como algo positivo) entram em circulação.
Mas há mais regras económicas a ser escamoteadas por Lagarde: Para culpabilizar as margens de lucro das empresas, é necessário ignorar o sistema concorrencial. As empresas não podem aumentar os preços a seu bel-prazer sob pena de perderem clientes para a concorrência. Num sistema concorrencial, os preços são nivelados. Pode haver, é claro, distorções de cariz monopolista.
À semelhança do que se passa em quase todos os problemas, a culpa recai no “pequenino”, na propriedade privada e no livre mercado.
Por exemplo, em relação à escassez de água, culpabiliza-se o cidadão e exorta-se a que este corte no seu consumo, pese embora, a sua reduzida influência (apenas cerca de 10% das reservas de água são utilizadas para consumo humano). Em relação aos campos de golfe e cultivos intensivos de monocultura, que são responsáveis pela fatia de Leão: nada. Nem uma palavra.
O cidadão, além de perder automaticamente uma larga percentagem do valor das suas economias liquidas, ainda é prejudicado pelo não aumento de salários (que assim diminuem, se tivermos em conta a inflação), e as empresas passam ainda maiores dificuldades.
O pequeno é vilipendiado e ainda sofre o “gaslighting” de ser convencido que afinal, a culpa é toda sua e merece continuar a empobrecer, sendo conveniente que aceite ser agente activo nesse processo.