Depois de ter sido considerado o remédio maravilha, a talidomida causou malformações em milhares de bebés.
É um poderoso agente anticanceroso e demonstrou ser um tratamento eficaz contra a lepra, mas foi pela negativa que a talidomida se inscreveu no imaginário colectivo, depois de nos anos 50 e 60 do Século XX ter estado na origem de malformações congénitas que afectaram milhares de bebés em todo o mundo. Todas as mães desses bebés que nasceram sem membros tinham ingerido aquele medicamento durante a gravidez. Agora um grupo de investigadores descobriu o mecanismo molecular que está na origem dessas malformações.
A equipa de cientistas, coordenada por Takumi Ito, do Instituto de Tecnologia de Tóquio, no Japão, descobriu que a talidomida se liga a uma proteína chamada cereblon, tornando-a inactiva. Ora esta proteína é essencial no processo de formação dos membros no embrião.
Em experiências realizadas com embriões de peixes e de galinhas, os investigadores verificaram que a aplicação do princípio activo daquele fármaco produzia exactamente um efeito de inibição de desenvolvimentos idêntico naqueles modelos experimentais.
Os investigadores concluíram assim que a proteína cereblon é um alvo primário da talidomida e publicaram ontem a descoberta na revista Science. Em declarações à BBC News, Takumi Ito afirmou, no entanto, que “permanece desconhecido o mecanismo terapêutico” daquele medicamento.
A equipa de Takumi Ito conseguiu assim isolar os efeitos negativos daquele fármaco, identificando as moléculas do organismo humano a que se liga a talidomida.
Para lá chegarem, os cientistas identificaram cada molécula individual à qual se liga o fármaco. Depois, por técnicas genéticas, fizeram ensaios em embriões de galinhas e peixes-zebra e registaram falhas de desenvolvimento semelhantes às de embriões tratados com talidomida.
A talidomida foi criada na Alemanha em 1953 e, em 1957, foi amplamente comercializada como um “medicamento maravilha” contra os enjoos matinais das grávidas, insónias, dores de cabeça e constipações.
No final de 1961, a talidomida era retirada do mercado, depois do nascimento de milhares de crianças com malformações dos membros, em inúmeros países.
Em 1998, a autoridade norte-americana para o sector do medicamento (Food and Drug Administration) aprovou a talidomida para o tratamento de complicações associadas à lepra.
Várias outras patologias parecem responder bem a este fármaco, em tratamentos em que outros não foram tão eficazes, desde a infecção pelo VIH às úlceras.
Este fármaco tem sido também crescentemente utilizado no tratamento do mieloma múltiplo, um cancro da medula óssea, estando a sua utilização sob supervisão médica restrita. Mas, como afirmou agora Takumi Ito, há ainda desconhecimento sobre esta molécula. “Se pretendemos desenvolver um novo fármaco sem aquele efeito secundário, é importante perceber esse mecanismo”, sublinhou o investigador.
13 de Março de 2010
Fonte: Diário de Notícias
Artigo Original: http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1517826&page=-1