Vejamos como os Bancos criam dinheiro a partir do nada cada vez que concedem crédito. analisemos as seguintes tabelas:


Breve explicação
O sistema de reserva fraccionária permite que os Bancos Comerciais criem dinheiro sempre que é concedido um novo empréstimo. Apesar de nenhum dinheiro ter sido fisicamente criado para além do depósito inicial de 10.000€, os Bancos Comerciais criaram “dinheiro virtual” através de empréstimos.
Na tabela acima, as duas caixas marcadas com a cor laranja indicam a fase do processo em que se encontra o depósito inicial de 10.000€. As reservas totais somadas ao último depósito (ou último empréstimo), serão sempre iguais à quantidade inicial, neste caso 10.000€.
Enquanto o processo continua, os Bancos comerciais prosseguem com a criação de dinheiro a partir do nada.
Como tudo se processa?
Suponha-se que a Família A deposite 10.000 € num Banco Comercial que guardará esse dinheiro. Partindo do princípio que a família que depositou os 10.000 € nunca os levantará de uma só vez, o Banco vai investir esse dinheiro. Esse investimento é, de maneira geral, feito sob a forma de empréstimos.
Assim, imaginemos que a Família B tem a sua conta a “zeros” e solicita a esse Banco um empréstimo; se a Família B mostrar algumas garantias (emprego, casa, trabalho, salário, património, … ) de poder pagar esse empréstimo então ele será concedido uma vez que o Banco tem interesse em colher os lucros, ou seja, juros que daí resultam.
Evidentemente, o Banco empresta todo o dinheiro que tem disponível para maximizar os seus lucros através de juros, o único limite sendo a chamada reserva bancária mínima ou reserva fraccionária, que é uma pequena quantidade de dinheiro retida nos cofres dos Bancos. Na União Económica Europeia, essa reserva é de 2% (e nos EUA de 10%) para a generalidade das responsabilidades mas atinge os 0% para responsabilidades específicas.
Assim, dos 10.000€ depositados inicialmente pela Família A, ficam 2% de reserva e 9.800€ são emprestados à Família B. Isto significa que como resultado desta operação de crédito passam a existir na Economia mais 9.800€ de depósitos à ordem. Uma vez que os depósitos à ordem fazem parte do “bolo monetário colectivo”, a operação de crédito fez aumentar o stock de moeda na Economia. Temos portanto mais 9.800€ depositados e creditados na conta da Família B.
No entanto, o Banco poderá voltar a emprestar estes 9.800€; para tal terá de deixar 2% em reserva e irá assim emprestar à Família C 9.604€. Estes 9.604€ poderão ser novamente emprestados, depositados, creditados e emprestados novamente às Famílias D, E, F, G e assim sucessivamente.
Se nos centrarmos só nos 2 primeiros empréstimos, vimos que dos 10.000€ iniciais, 9.800€ foram introduzidos no mercado seguindo-se mais 9.604€
9.800 €
+ 9.604 €
——————–
= 19.404 €
Estamos agora com 19.404 €. Este valor é quase o dobro do dinheiro inicialmente depositado.
Basta transportar este pequeno exemplo para a escala mundial, contando com produtos financeiros de alto risco de montantes exorbitantes que são diariamente especulados entre os Bancos e as grandes Multinacionais, para se deduzir a deficiência do sistema e a probabilidade de colapso.
Claro que este processo é facilitado graças a sistemas informáticos através de uma simples alteração de dígitos na conta daquele individuo que pede dinheiro emprestado sem que seja necessário produzir o dinheiro em suporte físico. O sistema económico criou por isso um mecanismo que facilita a criação e movimentação deste dinheiro digital, pois os bens e serviços podem ser pagos com cheques ou por via electrónica. O dinheiro físico deixou de ter relevância pois 98% do dinheiro que existe no mundo encontra-se sob a forma de dígitos em computadores.
Contudo, este não é o grande problema, já que é pouco importante que o dinheiro se encontre em forma de notas, moedas, dígitos informáticos, cheques ou se quisermos em cupões. O problema central é que o dinheiro não entrou em circulação por uma necessidade natural da Economia enquanto elemento neutro que serve para trocar os diferentes bens e serviços, mas sim como dívida a juros perfilada como um negócio lucrativo, centrado no próprio dinheiro.
Assim, enquanto todas aquelas famílias a quem lhes foi emprestado o dinheiro vão produzindo e trocando bens por algarismos informáticos, o dinheiro circula pela Economia. Se a Família B conseguir pagar a totalidade da dívida mais os juros, então a sua conta volta a ficar a “zeros”, ou seja, no ponto em que se encontrava antes de pedir o crédito. Neste caso, os 9.800€ que inicialmente foram criados voltam a circular sob novos empréstimos a juros ou servem para investimentos e aquisição de empresas. Os Bancos tornam-se assim accionistas de referência das grandes Multinacionais.
Mas é uma ilusão supor que todas as famílias obtenham este êxito, porque é matematicamente impossível todos conseguirem pagar a totalidade dos empréstimos mais os respectivos juros.

Vejamos: os juros são uma certa percentagem de dinheiro exigida sobre o empréstimo de uma determinada quantidade de dinheiro. Se o dinheiro é todo aquele que existe em circulação, criado através dos empréstimos, de onde vem então o dinheiro para pagar os juros? De lado nenhum, pois este simplesmente não existe.
O sistema no seu todo nunca voltará ao ponto inicial. Para pagar os juros mais dinheiro terá de ser gerado a partir do nada através de mais empréstimos. Por sua vez, este novo dinheiro emprestado será também afectado por juros que terão de ser pagos por novos empréstimos e assim sucessivamente. E ao contrário do que se possa pensar, não são só os devedores que pagam juros; a maioria dos produtos inclui no seu preço final os juros que as empresas devedoras têm de pagar, pois são considerados uma despesa. Daí, os juros serem um problema que atravessa toda a Economia e toda a Sociedade sem excepção, sabendo que só uma reduzida minoria tira proveito de tudo isto.
Resumindo, todo o dinheiro em dívida somado aos respectivos juros ultrapassa a totalidade existente em circulação. Assim, a dívida cresce a um ritmo exponencial que requer crescimento perpétuo para não entrar em colapso. Isto conduz à inevitabilidade matemática de incumprimentos e falências pois não há simplesmente dinheiro suficiente na Economia para pagar todas as dívidas aos Bancos.
A incapacidade de pagar a dívida e consequentemente entrar em falência não é uma fraqueza de um agente económico; é uma imposição do Sistema Bancário à Sociedade como um todo.
Em vez de se encarar o dinheiro como um simples dispositivo social que se quer estável num
formato neutro que não incorpore nenhum bem ou serviço, os juros corrompem esse princípio convertendo o dinheiro numa mercadoria lucrativa. Sublinhe-se que o negócio que gira à volta do dinheiro não produz nada e abstrai-se dos princípios que movem o ser humano nas suas necessidades reais. Com este sistema, os Bancos enriquecem desmesuradamente; pagam juros baixos aos depositantes e cobram juros altos aos empréstimos que fizeram, com dinheiro criado do nada. É por isso que meia dúzia de famílias criam fortunas monumentais sem nada produzir.