O ensaísta Eduardo Lourenço disse que houve uma invasão por “uma espécie de vampiros”, que são quem controla o sistema inventado pela modernidade, vivendo-se agora um “apocalipse indirecto” em estado de Guerra permanente.
Durante a primeira mesa da 15.ª edição do Correntes d´Escritas, na Póvoa de Varzim, sob o título “Pensamentos não são correntes de ninguém”, Eduardo Lourenço disse:
“Dá a impressão de que, de repente, fomos invadidos, não por uns castelhanos arcaicos nossos vizinhos e que são nossos irmãos e primos, mas por uma espécie de vampiros como aqueles que o cinema de Hollywood ilustra. Não é por acaso que o tema dos vampiros se tornou um tema da moda, os vampiros são emissários da morte, é como se estivéssemos a viver uma espécie de apocalipse indirecto”.
O autor, que disse não acreditar que o tempo desta “espécie de submissão mansa” vá perdurar, ressalvou não querer contribuir para algo como uma depressão de segundo grau, por conta dos outros.
“Não sei se é um comportamento muito português dormir em cima daquilo que nos ameaça profundamente e nos põe problemas que não podemos resolver esperando que, com o tempo, com um pouco de sorte, acabemos por sair desta espécie de atoleiro em que estamos mergulhados”, acrescentou.
“Os vampiros não são tão vampiros como isso, são pessoas reais. São as pessoas que controlam o sistema que a modernidade foi inventando pouco a pouco, com os seus novos meios de produção, que aumentaram efectivamente de maneira fantástica a possibilidade que os homens têm de aceder a um certo número de coisas que são importantes”, disse Eduardo Lourenço, já em resposta a questões do público.
O autor declarou que a televisão é hoje “o objecto mais importante”, tendo o espaço público desaparecido, o que deu origem a um momento em que tudo se passa na televisão, as intervenções dos comentadores na televisão são mais importantes do que a realidade.
Eduardo Lourenço lamentou que a Política já não seja uma Política real.
“Passámos, para um tempo em que aparentemente as Guerras já não têm lugar ou são Guerras de uma outra espécie, são quase Guerras virtuais como se fossem cinema puro, embora os mortos não sejam cinema nenhum. Passámos para um tempo em que estamos, não parece à primeira vista, num mundo em estado de Guerra permanente no interior do sistema, não há nenhuma grande produção que não esteja em Guerra com uma outra ao lado”, afirmou o vencedor do prémio Camões de 1996.
Eduardo Lourenço disse ainda não pensar nada sobre o futuro, uma vez que se pensasse no futuro era o dono do futuro.
Assim, o ensaísta, que constatou saber o que é estar à beira do abismo por estar próximo do seu próprio, apelou a que se tenha paciência, antes de entrar enfim na “terra da promissão”.
Terça-Feira, 23 de Dezembro de 2014
Fonte: noticiasaominuto