Um trabalho pioneiro de investigação industrial levado a cabo em 1927-29 na fábrica de Hawthorne da Western Electric Company, de Chicago, ficou conhecido de várias gerações de estudantes de Psicologia social. Revelou aquilo que se tornou conhecido por “Efeito Hawthorne”. O estudo tinha por finalidade descobrir os efeitos sobre a produtividade de várias alterações introduzidas nos períodos de descanso e no tipo de refresco fornecido aos operários. Mas, para surpresa dos investigadores, a produção aumentou em cerca de 30% independentemente das medidas experimentais específicas. A atenção de que os operários eram alvo tinha um efeito maior sobre eles do que as condições físicas particulares em que trabalhavam.
O efeito Hawthorne pode manifestar-se em muitos tipos de investigação, pelo menos nas áreas da Psicologia, da medicina e do comportamento animal. Os investigadores influenciam os sujeitos da sua investigação pelo simples facto de lhes prestarem atenção. Por outro lado, é possível que, para além da influência geral, tenham uma influência específica sobre a forma como os sujeitos se comportam. Em geral, os sujeitos tendem a comportar-se de acordo com as expectativas do experimentador.
A tendência dos experimentadores para chegarem aos resultados esperados é conhecida por “efeito do experimentador” ou, mais exactamente, “efeito da expectativa do experimentador”. De uma forma geral, os investigadores que trabalham nas áreas do comportamento e das ciências médicas têm clara consciência desta tendência e procuram precaver-se contra ela recorrendo a metodologias “cegas”. Nas experiências “cegas simples”, os sujeitos não sabem a que tratamento estão a ser sujeitos. Nas experiências “duplamente cegas”, os experimentadores também não sabem. Os procedimentos são codificados por terceiros, e o experimentador só fica a conhecer o código depois da recolha dos dados.
O efeito do experimentador é importante na investigação que tem por sujeitos seres humanos e animais, mas já quanto à sua intervenção em outros campos da Ciência nada se sabe. A perspectiva convencional é que o efeito do experimentador já está amplamente identificado e se circunscreve ao comportamento animal, à Psicologia e à medicina. Nas outras áreas da Ciência é normalmente ignorado, como facilmente verifica quem frequenta as bibliotecas científicas e lê as publicações especializadas dos diferentes campos científicos. Na investigação em biologia, química, física e engenharia, raramente, para não dizer nunca, se aplicam os métodos de dupla ocultação. Os cientistas destas áreas ignoram geralmente a possibilidade de o experimentador influenciar inconscientemente o sistema que está a estudar.
Insidiosamente presente está a ideia alarmante de que grande parte da Ciência instituída possa reflectir a influência das expectativas dos experimentadores, inclusive através da psicocinese ou outras influências paranormais. Tais expectativas podem abarcar não só as dos investigadores individuais mas também o consenso entre os seus pares. Os paradigmas científicos, modelos de realidade partilhados por profissionais, têm uma grande influência sobre o padrão geral de expectativas e pode influenciar os resultados de inúmeras experiências.
Insinua-se por vezes, em tom jocoso, que os físicos nucleares inventam novas partículas subatómicas, mais do que descobri-las. Começa porque a existência das partículas é objecto de previsão teórica. Se houver um número suficiente de especialistas que acreditam na sua descoberta, constroem-se dispendiosos aceleradores e colisores para ir à procura delas. Nessa altura, é certo e sabido que se detectam as partículas esperadas, sob a forma de rastos em câmaras de bolhas ou em películas fotográficas. Quanto mais vezes são detectadas, mais fácil é voltar a encontrá-las. Forma-se um novo consenso: elas existem. A partir daí, o êxito deste investimento de centenas de milhões de dólares justifica mais despesas em desintegradores atómicos ainda maiores que permitam descobrir ainda mais partículas, e assim sucessivamente. Aparentemente, o único limite a esta porfia não é aquele que a natureza possa impor, mas sim a disponibilidade do Congresso dos Estados Unidos da América para continuar a gastar nela milhares de milhões de dólares.
Nas ciências da física, apesar de ser escassa a investigação empírica sobre o efeito do experimentador, tem-se assistido a sofisticadas discussões sobre o papel do observador na teoria quântica. Tais observadores, filosoficamente considerados, fazem lembrar as mentes descomprometidas dos cientistas objectivos ideais. Mas se for levada a sério a influência activa da mente do experimentador, novas possibilidades se abrem – incluindo a de a mente do observador ter poderes psicocinéticos. Talvez ocorram fenómenos de “mente sobre a matéria” no reino microscópico da física quântica. Talvez a mente possa influenciar as probabilidades de acontecimentos “probabilísticos”, que não estejam rigidamente determinados de antemão. Esta ideia serve de base a muita especulação entre os parapsicólogos, e é uma das formas de tentar explicar a interacção dos processos mentais e físicos dentro do cérebro.
No domínio do comportamento animal, existem provas experimentais concretas do efeito das expectativas do experimentador sobre o comportamento dos animais. Mas na generalidade das áreas da biologia a possibilidade de tal efeito é normalmente ignorada. Um embriologista, por exemplo, é capaz de reconhecer a necessidade de se precaver contra a observação com ideias preconcebidas e de adoptar os adequados métodos estatísticos, mas não é natural que leve a sério a ideia de que as suas expectativas podem, de modo algo misterioso, influenciar o desenvolvimento dos tecidos embrionários.
Na Psicologia e na medicina, a regra geral é explicar os efeitos do experimentador como influências de “pistas subtis”. Mas até que ponto pode ir a subtileza dessas influências, já é outra questão. De um modo geral, assume-se que elas só têm a ver com formas reconhecidas de comunicação sensorial, que por sua vez só dependem de princípios da física bem conhecidos. A possibilidade de haver também influências “paranormais” como a telepatia e a psicocinese não é digna de discussão no seio da bem-comportada sociedade científica. Pela minha parte, acho que vale mais encarar esta possibilidade do que ignorá-la, pelo que proponho uma investigação dos efeitos do experimentador que tenha em conta a possibilidade de ocorrência de fenómenos da “mente sobre a matéria”. Mas antes importa analisar aquilo que já se sabe.
Fonte: LIVRO: «7 Experiências que podem mudar o Mundo» de Rupert Sheldrake