Uma das grande mentiras que durou, quase 50 anos, uniu os maiores produtores de cigarros para engendrarem uma estratégia de larga escala mundial com o objectivo de esconder os perigos letais do tabaco. Houve manipulação da opinião pública desde 1953 através de uma estratégia de domínio. Os sete líderes das maiores tabaqueiras do mundo garantiram que a nicotina não causava dependência. A aceitação do tabaco fazia parte do plano.
James Duck, chefe e fundador de uma empresa de tabaco foi o primeiro a compreender o potencial do mesmo e a exportar para todo o mundo – Os cigarros custavam 1 cêntimo e eram vendidos por 1 dólar.
Como manipularam a opinião pública?
A indústria publicitária colocou o seu talento, a sua arte de manipular ao serviço das indústrias de tabaco. A apresentação de anúncios difundiam o hábito de fumar em todos os escalões da Sociedade – o tabaco foi tornado num símbolo de sensualidade nas mulheres e de virilidade nos homens (O actor Silvester Stallone assinou um contrato por meio milhão de dólares em que teria de aparecer a fumar em 5 filmes). Através de propaganda, passavam informações falsas indicando benefícios do tabaco: “Fumar ajuda à digestão”, “é atraente”, “faz perder peso”, “as mulheres que fumam são mais elegantes”, “os bebés ficam mais elegantes, facilitando o parto”, entre outras.
A estes juntou-se a classe política. O dinheiro realizado com o tabaco financiava campanhas eleitorais. Para o governo era ouro sobre azul, as receitas eram tão lucrativas quanto os impostos. O governo atribuiu um estatuto especial ao cigarro, a isenção de supervisão sanitária.
Os 3 pilares (Indústria, Governo e Comunicação Social) sustentavam o plano e o negócio do tabaco gerou milhões, anualmente.
Consequentemente, surgiram cada vez mais casos de uma doença, rara na altura – cancro do pulmão, bem como, um aumento das doenças respiratórias e cardíacas. Cientistas fizeram estudos e chegaram à conclusão que o fumo do tabaco era cancerígeno e foram publicados artigos sobre o tema.
Quando a relação entre o tabaco e cancro se tornou aparente, o preço das acções do tabaco caiu. Os CEO das empresas de tabaco tinham de responder à crise e preservar os lucros.
Em 1961, os líderes (conspiradores) da indústria do tabaco reuniram-se, sob a presidência da “American Tobacco”, para manter a fraude e garantir que não se descobriria a verdade. Comprometeram-se a criar estudos simulados e a apresentarem provas fictícias de que o tabaco não afectava o organismo.
Nessa reunião esteve presente a maior empresa de relações públicas do mundo, “Hill e Knowlton” e advogados da “Shook, Hardy & Bacon” para ajudar na fraude.
Através da Imprensa, publicaram uma carta aberta com o título “Declaração franca aos fumadores” em que se comprometeram juridicamente a descobrir a verdade e comunicá-la. Foi uma declaração mentirosa. Era primordial manter as pessoas na ignorância.
A conspiração baseava-se numa campanha de fachada com o intuito de restaurar a confiança no tabaco. Todos os esquemas maliciosos estavam registados em inúmeros documentos internos, operações obscuras, toda a manipulação dos factos foi registada, mas ninguém tinha acesso a esses documentos. Eram ficheiros ultra secretos com uma bomba: “A verdade”.
Nesses documentos constava a informação de que o cigarro era composto por materiais biológicos que causavam e induziam o cancro. Os líderes sabiam qual o impacto do seu produto na Saúde e escondiam essa informação. Claramente, não se importavam com o ser humano.
Cientistas foram financiados para seguirem as ordens da indústria e os médicos foram inundados com estudos que os convenceram de que não havia ligação entre o surto de cancro e o tabaco. Os médicos foram incentivados a decorar guiões para passar a falsa mensagem. Realizou-se mais publicidade, desta vez, com médicos a fumar, transmitindo a ideia óbvia “Se o meu médico fuma, também o posso fazer sem receio”. Resultava numa falsa segurança. O consumo de tabaco duplicou e milhões de pessoas morreram.
Em 1962, os médicos do Royal College de Medicina Britânico, publicaram um relatório sobre os perigos do tabaco e necessidades de tomar medidas.
Apresentaram provas suficientes que faziam essa ligação causa-efeito (cancro-tabaco). É lançada a primeira campanha pública a encorajar as pessoas a desistir de fumar.
Em 1971 surgiu o primeiro grupo dos direitos do não fumador que obteve alguma influência. Houve uma convulsão social, grupos antitabagistas organizaram campanhas de contra informação alertando que o tabaco era a principal causa de cancro nos pulmões.
Nessas décadas, a indústria do tabaco, voltou a reagir utilizando a Ciência como forte aliada, montaram laboratórios para criarem artimanhas. Ninguém podia partilhar a informação. Quem trabalhava nas empresas tinha acordos de confidencialidade. Era a forma de silenciar os funcionários.
O tabaco continha 4.000 componentes químicos. Apresentaram o filtro como forma de neutralizar algumas dessas partículas, outra mentira. O filtro faz com que o fumador inale mais profundamente e dê mais passas, o que levou a novos tipos de cancro no pulmão. Chegaram a ser feitos filtros de amianto, também causador de cancro. A filtragem é uma ilusão.
Na década de 80, cientistas provaram e noticiaram que os não fumadores também ficavam prejudicados. Não se tratava apenas de suicídio, mas também, de homicídio.
As indústrias do tabaco sentiram-se, novamente, ameaçadas e orquestraram uma estratégia de comunicação para dissipar o pânico que tomava conta dos consumidores. Apercebendo-se que a liberdade era um símbolo importante para as pessoas, passaram a mensagem de que fumar era uma escolha livre e deveria ser defendida dos antitabagistas.
Criaram-se químicos para tornar os cigarros mais saborosos e viciantes. Sabores a baunilha, chocolate, mentol, etc. Criou-se a marca Camel com um boneco em forma de camelo e com um ar divertido para atrair as crianças, pois tinham plena noção que as crianças e jovens experimentavam cigarros. Afirmavam “se os viciarmos ainda jovens, viciamo-los para a vida”.
Pretendiam aumentar o número de consumidores. As pessoas continuavam a ser enganadas e todas as mentiras estavam registadas, mas nenhuma empresa queria contar a verdade. A conspiração não podia ser quebrada.
Morreram 10 milhões de pessoas que não deveriam ter morrido. Havia cada vez mais cancro e mortes.
Em 1994, algumas vítimas levaram as tabaqueiras a tribunal, recorrendo à lei da responsabilidade. A classe Política, apesar de todos os indicadores, nunca se preocupou em investigar os malefícios do tabaco.
Os líderes das maiores empresas mentiram, sem escrúpulos, em tribunal afirmando que acreditavam que o tabaco não causava dependência. Contudo, houve um testemunho interno, corajoso que, tornou público em tribunal, o facto das empresas terem conhecimento dos malefícios do tabaco. Os juízes, incorruptíveis, obrigaram as empresas a revelar os seus documentos privados. Exigiram que as suas mentiras se tornassem públicas.
Foram reveladas as práticas secretas, entre muitas, que 70% da nicotina era introduzida de forma artificial.
Vários delatores começaram a narrar a verdade, mesmo sob ameaças de morte.
Abriu-se uma investigação por perjúrio e fraude e, consequentemente, o julgamento. Em 1998 foi conhecido o resultado, um acordo em que as tabaqueiras aceitaram fazer uma transacção financeira para o governo de 202 milhões de dólares durante 24 anos. O único interesse para ambas as partes foi o capital, desprezaram a Saúde pública e as vidas humanas.
A indústria do tabaco continuou a vender e aumentou o preço do tabaco. O lucro garantido manteve-se.
O acordo com o governo deixou as empresas com rédea livre. O governo falhou na regulação do produto, havia orientações, mas não eram aplicadas. As autoridades sanitárias ficaram impotentes.
Entre 1940 e 2000, a indústria tabaqueira (indústria da morte) gastou 250 milhões de dólares na promoção do tabaco com publicidade enganosa. Gastavam mais dinheiro a promover cigarros num dia do que as autoridades sanitárias gastavam num ano a tentar revelar a verdade.
Houve um desmantelamento da mentira passado quase 50 anos. A verdade letal veio ao de cima e os responsáveis não mostraram qualquer arrependimento. Viciaram crianças e jovens, mataram milhões de pessoas em todo o mundo através de campanhas de desinformação.
Joseph F. Cullman, CEO da Philip Morris e defensor-chefe da indústria do cigarro contra o movimento antitabagista, reformou-se e publicou a autobiografia «I`m a lucky guy».
Actualmente estão a operar, da mesma forma, na Ásia e África. Na Europa e América, o consumo do tabaco caiu, mas a mentira continua, agora com o cigarro electrónico.