Artigo «Ervas Curandeiras» – Parte 3

0
2525
Processo das Ervas Curandeiras
Processo das Ervas Curandeiras

A recolha de plantas com potencialidades farmacêuticas e culinárias pode ser um passatempo interessante, que alia a medicina tradicional a um mais profundo conhecimento e respeito pela natureza. No entanto, não basta sair por aí a colher indiscriminadamente todas as plantas, é necessário conhecer muito bem as “ervas” e as suas propriedades. Eis alguns conselhos.

Utilize somente as plantas cujas propriedades estejam devidamente identificadas. Lembre-se de que os ingredientes ativos das plantas variam, tanto em quantidade como em qualidade, ao longo do ano.

Certifique-se de que identificou corretamente a planta e que nenhuma outra espécie vem misturada.

Nunca efetue recolhas em áreas que tenham sido pulverizadas com inseticidas ou pesticidas ou que tenham sido estrumadas recentemente. Na recolha de plantas aquáticas, evite águas poluídas.

Conheça quais as partes da planta que podem ser utilizadas na medicina natural. Por exemplo, na batateira, o tubérculo (batata) é um precioso alimento, enquanto a parte aérea é venenosa.

Recolha apenas a quantidade necessária, e sempre que possível evite arrancar a planta: muitas vezes, as partes úteis são apenas as folhas, as flores ou os frutos.

Evite a utilização de um remédio vegetal quando já está a ser alvo de um tratamento convencional receitado pelo médico. O efeito de duas “drogas” pode ser muito prejudicial. Fale abertamente com o seu médico sobre este assunto.

Nunca apanhe plantas raras ou em perigo de extinção, nem faça recolhas em áreas protegidas.

As “plantas milagrosas” também têm os seus riscos: peça apoio a um especialista.

Quem não seja dado a grandes passeios campestres ou não queira correr riscos, garantindo a salvaguarda da natureza, encontrará a grande maioria destas ervas em qualquer supermercado, dietética ou ervanária.

Os primeiros boticários

Durante a época áurea dos Descobrimentos, trouxemos para a Europa, vindos dos quatro cantos do mundo, produtos de origem vegetal, principalmente especiarias. Rapidamente se fez sentir a necessidade de descrever tudo quanto de útil se descobrisse. Por essa razão, foram enviados boticários nas naus que partiam a caminho de África, das Américas e do Oriente, aos quais competia averiguar e registar todas as mezinhas usadas pelos povos de além-mar, assim como descrever a natureza e a origem das “drogas e cousas medicinais”, assim como as suas propriedades e aplicações.

Colheita e uso das plantas

Erva curandeira
Erva curandeira

Nessa importante tarefa, distinguiram-se Simão Álvares e Tomé Pires, boticários enviados para a Índia por ordem do rei D. Manuel I, mas foi sem dúvida Garcia de Orta quem mais se notabilizou no estudo das espécies medicinais e outros produtos originários do Índico. O seu livro “Colóquio dos simples, e drogas he cousas medicinais da Índia…“, publicado em 1563, adquiriu fama internacional, nomeadamente após ter sido traduzido para latim, francês e italiano.

Depois do deslumbramento com as novidades farmacêuticas e culinárias trazidas dos “novos mundos”, o interesse dos boticários voltou-se para as potencialidades da flora espontânea do nosso país, conhecidas desde tempos imemoriais pelas gentes autóctones. Ainda a medicina dava os primeiros passos e já o povo lusitano tinha remédios caseiros para a maior parte das maleitas que atormentavam crianças e adultos.

Os estudos farmacopeicos portugueses tiveram início, provavelmente, com o abade Correia da Serra, nascido em 1750, figura altamente prestigiada da comunidade botânica internacional da época e fundador da Academia Real das Ciências. Seguiram-se-lhe outras personalidades ilustres, como Félix da Silva Avelar Brotero, nascido em 1744, Jerónimo Joaquim de Figueiredo, autor de Flora Farmacêutica e Alimentar Portuguesa, publicado em 1825, Francisco Soares Franco, compilador de Matéria Médica, impresso em 1816, e Agostinho Albano da Silveira Pinto, que publicou em 1835 o Código Farmacêutico Lusitano.

Fonte: Revista Super Interessante Nº165 de Janeiro de 2012

Anterior: Parte 2

índice: https://paradigmas.online/?p=3887

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here