Melioidose é uma doença que mata cerca de 90.000 pessoas por ano. Esta bactéria pode viver durante anos em água destilada e provoca abcessos, convulsões e morte. Além de ser naturalmente resistente a muitos antibióticos comuns.
“Era considerada uma doença do sudeste da Ásia e da Austrália”, diz Eric Bertherat da World Health Organisation a Angus Chen da NPR. “Mas viemos a descobrir que esta doença está presente em muitas outras regiões do mundo. Em algumas áreas, a taxa de mortalidade também pode ser muito alta, até 70%”, relata Bertherat. “Isto é especialmente comum, se não for tratada correctamente. É um grande fardo, equivalente à raiva, que também é uma doença grave.”
A bactéria causadora, Burkholderia Pseudomallei (BP), vive no solo e pode ser inalada ou entrar no corpo através de cortes e fissuras na pele. Isso faz com que a septicemia, que é uma resposta imunológica hiperactiva, seja desencadeada por uma infecção, provocando uma inflamação por todo o corpo, podendo levar à morte se não for tratada.
Também é naturalmente resistente a uma série de antibióticos comuns, razão pela qual receber os antibióticos correctos é tão importante. Porém, muitos países não estão preparados para diagnosticá-la e muito menos tratá-la.

Bart Currie, um microbiologista da Menzies School of Health Research, na Austrália, diz que por causa dos sintomas da melioidose serem tão semelhantes aos de outras infecções bacterianas, a doença é muitas vezes perdida. “Esta bactéria potencialmente perigosa é ainda mais difícil de diagnosticar do que as bactérias comuns”, disse Currie.
Para piorar a situação, um novo estudo mostrou que a bactéria pode estar a espalhar-se em todo o mundo a uma velocidade nunca constatada. A BP foi identificada em 45 países nos trópicos, com uma probabilidade elevada de novos casos que aparecem noutros 34 países tropicais, diz ele.
O investigador-chefe, Direk Limmathurotsakul, um microbiologista em parceria com a University of Oxford e a Mahidol University na Tailândia, diz que os números não surpreendem. “Quando fui para a Indonésia, em cada laboratório encontrávamos esta doença. Sentimos tratar-se de um número mínimo… no nordeste da Tailândia, vejo 2 a 3 pacientes morrerem disso, todos os dias, nos meses chuvosos”.
O estudo, publicado na revista Nature Microbiology, diz que o aumento das importações de animais e a resistência natural da bactéria são as maiores causas de propagação. Outro estudo descobriu que essas bactérias são tão robustas que podem viver em água destilada, sem nada para sustentá-las durante 16 anos.

Embora a BP raramente se espalhe de pessoa para pessoa, nalgumas áreas do nordeste da Tailândia, quase metade da população foi infectada nalgum momento, o que mostra o quão rapidamente ela pode se espalhar. Pessoas com maior risco são aquelas que têm diabetes, doença renal ou cancro, mas as pessoas saudáveis também podem ser infectadas e adoecerem.
Com o tratamento correcto, as mortes cairão para cerca de 1 em 10, a maioria dos adultos saudáveis vão sobreviver à infecção. Mas este não é o caso em muitas áreas, e aqueles que não recebem o tratamento correcto não têm tanta sorte. “Há muitas pessoas que foram tratadas com antibióticos ineficazes”, diz Limmathurotsakul. Até ao momento da confirmação da doença “na maioria das vezes, o paciente já morreu”.
Com o aumento da pesquisa, o conhecimento sobre a doença está a espalhar-se, e há certas maneiras realmente fáceis de evitar a doença, dependendo de onde se mora. O Centro de Controlo de Doenças recomenda, caso viva num clima tropical, ficar dentro de casa durante as tempestades ou chuvas fortes, e aqueles que trabalham com o solo devem usar botas e luvas. Por último, se é um indivíduo em situação de risco, ou tem uma ferida aberta, deve evitar o contacto com o solo e águas paradas.
Mas ainda há um longo caminho a percorrer. “Devemos impedir que os pacientes contraiam a doença desde o início. Isto é viável”, diz Limmathurotsakul. “Mas não é o que acontece nas campanhas de Saúde pública. As pessoas ainda vão para os campos de arroz sem equipamentos de protecção e sem saber que estão a colocar-se em alto risco.”
Fonte: Jornal da Ciência