Fantasmas de Orgãos Intactos

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Membros Fantasma
Membros Fantasma

Os fantasmas podem surgir quando se perde a sensibilidade do membro, e não o próprio membro. Em certos acidentes de moto, por exemplo, o motociclista é atirado para a estrada de tal maneira que dobra o ombro para a frente, arrancando da espinal medula os nervos do braço (a chamada avulsão do plexo braquial). Produz-se então um braço Fantasma, que normalmente vai ocupar o braço verdadeiro, inutilizado pelo acidente, coordenando-se com ele. Mas, quando a vítima fecha os olhos, o fantasma pode separar-se do braço de carne e osso e assumir uma existência independente. E, embora o braço material já não seja capaz de responder a estímulos, há alturas em que o braço fantasma pode doer muito. Chega-se a amputar o braço verdadeiro para tentar aliviar a dor. Infelizmente para o paciente, o braço fantasma e a dor costumam continuar.

No caso dos paraplégicos, que fracturaram a espinal medula, também surgem fantasmas. Os pacientes ficam parcialmente paralisados, sem conseguirem sentir ou comandar o corpo para baixo do ponto de fractura. No entanto, sentem muitas vezes Fantasmas de pernas e outros órgãos, incluindo fantasmas dos órgãos genitais.

Normalmente, os fantasmas dos paraplégicos movimentam-se em coordenação com o corpo, em especial quando eles estão com os olhos abertos. Por exemplo, as pernas fantasma podem pedalar continuamente, mesmo quando a pessoa jaz imóvel numa cama.

Da mesma maneira que podem aparecer quando há uma secção dos nervos, os fantasmas também podem aparecer quando os nervos são anestesiados. Este fenómeno dá-se muitas vezes num contexto de cirurgia ortopédica. Doentes a quem é ministrada anestesia local na espinal medula sentem pernas Fantasma, numa percentagem que depende do local onde é aplicado o anestésico. Foi feito um estudo em que 10% das pessoas sujeitas a anestesia epidural tinham fantasmas, enquanto 55% os tinham com anestesia subaracnoideia. As pernas fantasma costumam estar parcialmente flectidas, pelo que, quando o paciente está deitado de costas, os fantasmas levantam-se no ar acima das pernas reais.

Do mesmo modo, surgem braços fantasma quando se anestesiam os nervos que percorrem os braços. Os braços fantasma manifestam-se com mais frequência do que as pernas Fantasma, sendo que cerca de 90% dos pacientes os sentem. Num estudo experimental, pediu-se a pacientes em vias de serem submetidos a cirurgia do braço ou da mão que fizessem um relato contínuo do que se estava a passar com o braço anestesiado, e também que lhe assinalassem a posição com o outro braço. 20-40 minutos depois da injecção, tinha surgido o fantasma:

Com os olhos fechados, o paciente referiu que sentia o braço anestesiado normal em termos da sua posição no espaço; com a ajuda do outro braço, dizia geralmente que ele estava ao lado do corpo e dobrado pelo cotovelo, ou em cima do abdómen ou da parte inferior do peito. Nessa altura, o braço real estava pousado, estendido, ao longo do corpo. Por vezes o autor da experiência movia lentamente o braço anestesiado até que o antebraço e a mão ficavam ao lado da cabeça. Quando o sujeito abria os olhos, ficava espantado perante a discrepância entre o braço real anestesiado e a sua percepção do mesmo. Para os pacientes, a realidade do braço fantasma era inequívoca… Alguns não reconheciam o braço real quando o viam levantado à altura da cabeça, e ficavam a olhar, incrédulos, para ele e para o lugar onde o sentiam.

Quando os pacientes olhavam para o membro anestesiado e se apercebiam da discrepância, na maioria dos casos o fantasma deslocava-se rapidamente para dentro do membro real, fundindo-se com ele. Mas quando voltavam a fechar os olhos, depressa o fantasma regressava à posição anterior. No entanto, no caso de alguns pacientes submetidos a anestesia profunda, a fusão não se dava, mesmo quando tinham os olhos abertos: “O fantasma mantinha a sua posição espectral, indiferente às repetidas instruções ao paciente para que olhasse para o braço real e se concentrasse nele”.

Quase todos os pacientes anestesiados com braços fantasma descobriam que conseguiam mexê-los voluntariamente, nomeadamente flectindo e distendendo as mãos e mexendo os dedos Fantasma. À medida que a anestesia perdia efeito, os fantasmas desapareciam e o membro recuperava o movimento activo.

Também se podem produzir fantasmas experimentalmente, colocando à volta da parte superior do braço uma manga de pressão do tipo das que os médicos usam para medir a tensão arterial. Se se deixar a manga cheia de ar naquele sítio durante muito tempo, o braço fica dormente. E se os sujeitos da experiência não virem o respectivo braço, passados 30-40 minutos quase todos o sentem numa posição diferente da do braço real. O fantasma desaparece quando se retira a manga de pressão e a sensibilidade regressa.

Fonte: LIVRO: «7 Experiências que podem mudar o Mundo» de Rupert Sheldrake

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