Filipe Froes é médico pneumologista e coordenador do gabinete de crise COVID-19 da Ordem dos Médicos (OM). Tem sido figura de destaque e não pelos melhores motivos.
Froes foi apanhado por várias vezes em contradições e nunca conseguiu reunir um discurso conciso e fundamentado em relação à situação da COVID-19.
Senão vejamos:
Em entrevista ao semanário Sol, confrontado com a questão de porque é que em 2020 foram tomadas medidas draconianas, se em todos os invernos há excesso de mortalidade de 2000 a 3000 pessoas, responde da seguinte forma, uma pérola de surrealismo epidemiológico e de mestria em não responder a uma pergunta objectiva: [1]
“As pessoas só podem desvalorizar aquilo que nunca viram ou não conhecem. Não se pode nem subestimar nem a gripe nem esta doença. A gripe é uma doença paradoxal porque embora muitas vezes leve a casos benignos tem uma componente de gravidade que muitas vezes é subestimada – não se veem os casos nos cuidados intensivos, a descompensação de doença crónica e isto tudo tendo uma vacina. Esta pandemia ainda é mais enganadora do que a gripe e não temos vacina. E para mim é algo que caracteriza. É iníqua e enganadora.”
Perceberam?
Filipe Froes parece não ter interesse em que percebessem.
Na mesma entrevista, refere ainda:
“Temos excesso de mortalidade, é um facto. Evidente que há muitos doentes prejudicados (…) Já não tenho tolerância para os “negacionistas” que com a sua ignorância irresponsável põem em risco a vida de terceiros e contribuem para uma maior degradação social e económica”.
A sua abordagem matou mais de 7.000 pessoas até ao momento, mas Froes não tem tolerância para quem o avisou acerca dessas consequências. [2]
Continuando na mesma entrevista:
“É preciso perceber que a força destes testes não é tanto a sua sensibilidade mas a sua realização periódica. No fundo (…) a serem testados regularmente, de cinco em cinco dias, de sete em sete dias. Os falsos negativos têm sido uma das preocupações suscitadas pelo Governo. A periodicidade do teste permitirá que se detectem a maioria dos casos. Se testar uma vez e nunca mais testar, isso pode ser um problema. Mas se estes testes forem feitos de forma periódica e sistemática, a questão dos falsos negativos é ultrapassada porque a pessoa volta a ser testada dentro de dias. Podendo não apanhar todos os casos, pode apanhar muitos.”
Froes revela uma ignorância confrangedora em relação a questões estatísticas.
Froes não percebe a relação que há entre a prevalência de uma doença e o perigo de se usar um teste com cerca de 3% de taxa de falsos positivos da forma tão frequente como sugere que se faça. O Teorema de Bayes e o Limiar de Prevalência (Prevalence Threshold) foram atropelados.
Com uma especificidade de 97%, se se fizesse testes a cada cinco dias como propõe, seria só uma questão de mais ou menos meio ano para que todos obtivessem um resultado positivo por erro e portanto, seria só uma questão de tempo até terem a sua vida destruída.
E é alguém com semelhante grau de ignorância que está na posição de decidir estratégias.
Infelizmente, Froes não é o único médico a revelar um défice de formação nestas matérias. Houve mais exemplos de médicos a exibir publicamente a sua falta de conhecimentos. [3]
O caos dos anos anteriores
Em 2016, Froes afirmava que eram internados por dia 81 pacientes com Pneumonia. [5] O Dr. Filipe Froes, na altura consultor da Direção-Geral da Saúde (DGS) para a área das Doenças Respiratórias e Vacinação, afirmou que dos 81 portugueses internados por dia, 16 iriam morrer, o que perfaz um óbito a cada 90 minutos. Números assombrosos.
Filipe Froes, que em 2020 defendeu medidas draconianas, queixava-se em 2018 que o SNS estava de “pantanas”. Afinal não foi só em 2020? [4]
O senhor Froes parece usufruir de memória muito curta.
Froes e o uso de máscaras
Este vídeo é bem ilustrativo da ambiguidade de procedimentos de Filipe Froes. O antes e o depois. Outro exemplo claro da falta de memória que o tem caracterizado. Ou poderá tratar-se de um caso de conflito de interesses?
Seja como for, depois de ter dito que não fazia qualquer sentido usar máscara e que esta era inestética e não oferecia qualquer proteção, o Dr. Filipe Froes tem sido um dos elementos mais activos na promoção do seu uso generalizado:
“As máscaras funcionam, não há dúvida.” [6] “Todos vamos ter de usar máscara.” [7] “todos devem usar máscara num local onde é difícil manter o distanciamento social” [8] “adesão total (…) ao uso de máscaras em espaços públicos abertos.” [9]
Filipe Froes tem sido, de facto, uma figura difícil de contornar.
Fontes:
[3] «Médicos possuem pouco treino estatístico.» Paradigmas. 31 de Outubro de 2020.
[4] «“Por que é que o SNS está de pantanas se a gripe ainda é ligeira”?» Público. 12 de Janeiro de 2018.
[7] «Filipe Froes: “Todos vamos ter de usar máscara”.» Jornal Económico – Sapo. 9 de Abril de 2020.