Estudos desenvolvidos na Universidade de São Paulo (USP) apontaram para uma substância, a fosfoetanolamina sintética, como possível cura do cancro. Gilberto Orivaldo Chierice, um professor reformado da universidade, foi quem esteve à frente dos estudos durante mais de 20 anos.
Como age a fosfoetanolamina sintética?
De acordo com o professor, a fosfoetanolamina sintética imita uma substância que existe no organismo e então sinaliza as células cancerosas para que o sistema imunitário as reconheça e as remova.
O especialista explicou que a ingestão das cápsulas fazem com que as células cancerígenas sejam mortas, fazendo com que o tumor desapareça entre seis e oito meses de tratamento. Mas, o professor enfatizou bem o facto de que isso irá variar de acordo com o sistema imunitário de cada paciente.

A utilização da droga
A fosfoetanolamina (ou fosfoamina) tem vindo a ser estudada desde os anos 90 e era entregue de forma gratuita no campus da Universidade de São Paulo, em São Carlos. Acontece que em 2014, por causa de uma portaria que determinou que as substâncias experimentais devessem todas ter os registos antes de serem disponibilizadas à população, a droga parou de ser entregue pela universidade.
Sem a licença da Anvisa, elas passaram a ser entregues somente se determinadas pela justiça. Pacientes com cancro passaram a obter liminares para conseguir a fosfoetanolamina, mas, mais uma vez, a Justiça entra em cena e a partir de então todas as autorizações foram suspensas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.
A USP declarou que não tem capacidade para produzir a droga em larga escala, mas concorda que a regulamentação é necessária. A Sociedade Brasileira de Oncologia tem a mesma opinião.
Já a Anvisa diz que o produto não foi investigado clinicamente e que não houve por parte da universidade nenhum movimento para transformar a fosfoetanolamina em medicamento. Complementou dizendo que para conseguir o registo, precisa, além da requisição, apresentar documentos e análises clínicas.
A agência chegou a alegar que não havia nenhum comprovativo de que a substância fosse capaz de curar o cancro e que a distribuição à população era ilegal.

Em Agosto foi divulgado um e-mail que a Fiocruz teria enviado à USP, demonstrando interesse em assumir a condução dos exames que a Anvisa exige e começar a produção do medicamento.
O professor Chierice afirmou que também há outro país interessado em fabricá-la, só que isso tornaria-se inviável pelo preço que teríamos que comprar o medicamento. Actualmente, cada cápsula tem um custo de produção de menos de R$ 0,10.
O que é a fosfoetanolamina sintética?
A fosfoetanolamina é a combinação de uma substância bem comum, chamada monoetanolamina, que se utiliza em champôs para os cabelos e mais o ácido fosfórico, um conservante de alimentos. As substâncias combinadas geram a fosfoetanolamina, que é um marcador de células diferenciadas – neste caso, as cancerígenas.
É bem importante lembrar que o surgimento dessa substância pode significar uma grande derrocada da Indústria Farmacêutica, que factura milhões com o cancro.
No início do mês, dia 1 de Outubro, houve uma reunião entre investigadores e políticos, para que discutissem a substância. O objectivo da reunião foi fazer os acertos de uma apresentação da droga numa audiência pública em Brasília, para que os testes clínicos fossem agilizados.

Um dos investigadores, o médico Renato Meneguelo, além de apresentar Documentos sobre os estudos da substância e anunciar “luto” pelos pacientes com cancro, disse: “A gente tem que lembrar de uma coisa. Nós estamos na contra-mão do que existe na pesquisa hoje em dia sobre cancro. Nós estamos a pesquisar um outro lado. Porque, quando todos pensam a mesma coisa, ninguém, ninguém pensa grande coisa”. Essa declaração teve bastante repercussão nas Redes Sociais.
Nessa reunião foram apresentadas teses, dissertações, relatos de casos em que os pacientes tiveram melhoras nos seus quadros clínicos e também os passos necessários para que os estudos sejam concluídos e se consiga o registo junto à Anvisa.
Também entrou no debate a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, que tinha suspendido as liminares que davam direito a alguns pacientes de receber o composto. “Vou pedir ao presidente do TJ que reveja esses liminares, que tenha sensibilidade diante desses depoimentos”, disse o deputado estadual Rodrigo Moraes (PSC-SP).
O desembargador José Renato Nalini, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, que tinha suspendido o fornecimento da substância fosfoetanolamina sintética para pacientes com cancro, reconsiderou a sua decisão e informou, no dia 9 de Outubro, que os pacientes que precisam obter as cápsulas devem entrar com um pedido na justiça. O desembargador afirmou que não se pode ignorar os relatos de pacientes que obtiveram melhoras nos seus quadros da doença.
Fonte: Jusbrasil