A “Fraude Científica” é mais comum do que se pensa

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A "Fraude Científica" é mais comum do que se pensa

Fraude científica ocorre quando é feita a divulgação de uma experiência científica que contém informação falsa ou insuficiente. A alteração deliberada de qualquer dos verdadeiros dados de uma experiência é considerada fraude científica: autoria indevida, dados de realização falsos, resultados falsos, etc.

Um vasto estudo da incidência de fraude científica nos Estados Unidos foi publicado com resultados alarmantes: as fraudes são mais comuns do que pensamos.

Cientistas desfrutam de grande credibilidade nos seus pronunciamentos públicos – como Aquecimento Global, clonagem e evidências de novos mundos Extraterrestres. Mas esse estudo sugere que tal confiança não é merecida.

Quase 9% dos 2.012 cientistas de 605 instituições pesquisadas pelo Escritório de Integridade Científica (ORI, na sigla em inglês), uma agência de monitoramento de pesquisas científicas nos EUA, disseram ter testemunhado um tipo de fraude ou conduta inadequada nos últimos três anos. A agência estima que todos os anos ocorram três incidentes de fraude para cada 100 investigadores.

“Um pós-doutorado que altera números em testes para ‘melhorar’ os dados”, é como um cientista descreve o que parece ser uma prática comum de fraude em pesquisas. Como qualquer cientista sabe, essa manipulação de dados é proibida e invalida qualquer conclusão científica.

Normalmente, a agência investiga apenas 24 casos por ano. O órgão estima que ocorrem pelo menos 1,35 mil casos de condutas não condizentes com a prática científica nas universidades americanas todos os anos, a maioria não reportada ao ORI.

Hwang Woo Suk

Apesar da pesquisa se limitar às áreas de Saúde e biologia nos Estados Unidos, pode-se sugerir a partir dos resultados que a fraude é provavelmente um fenómeno endémico na Ciência praticada em todo o mundo. Na verdade, um dos casos mais notórios de fraude científica aconteceu na Coreia do Sul em 2005, quando se descobriu que Hwang Woo Suk tinha fabricado os resultados que lhe permitiram alegar que tinha clonado células-tronco humanas.

É claro que a fraude na Ciência não é um fenómeno recente. As mais respeitadas figuras da história da Ciência já sofreram essas acusações. Galileu supostamente exagerou no resultado das suas experiências; Newton manipulou informações no seu Principia para sustentar a sua teoria do poder preditivo; e as experiências de Mendel com ervilhas contêm dados estatisticamente bons demais para ser verdade. Dizem que no Século II aC. o astrónomo grego Hiparco apropriou-se de um catálogo de estrelas babilónico e alegou que era o resultado das suas próprias observações.

Conheça as 10 maiores fraudes científicas 

Climagate

No fim de 2009, hackers invadiram um servidor da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, e roubaram cerca de três mil e-mails que ao serem divulgados puseram em dúvida a atitude dos climatologistas defensores da tese de que o Aquecimento Global é causado pela acção humana. O caso que ficou conhecido como “climagate” reacendeu o debate sobre a ética científica e mostrou que muitos cientistas não são nem um pouco santos quando se trata de defender os seus argumentos. Mas o climagate não só colocou sob suspeita a ideia de que as mudanças climáticas têm causas antropogénicas como trouxe de volta o fantasma de fraudes e embustes que já assombraram as grandes descobertas feitas pela Ciência. Ao longo dos séculos essas tentativas de fazer trotes científicos só serviram para alimentar os argumentos daqueles que se opõem às principais teorias, como o Darwinismo.

Archaeoraptor liaoningensis

Archaeoraptor liaoningensis

Em Novembro de 1999 a prestigiosa revista National Geographic trouxe uma matéria surpreendente. Tratava-se da descoberta de um fóssil na China que seria o elo perdido entre os répteis e as aves. Apesar de não ser uma revista científica, como a Nature em que os artigos são revisados por outros cientistas, a National Geographic possui uma alta credibilidade e neste caso a sua descoberta foi sustentada pela avaliação de dois respeitados paleontólogos. O problema foi que Xing Xu, do Instituto de Paleontologia Vertebrada e de Paleoantropologia, de Pequim, e Philip Currie, do Museu de Paleontologia de Alberta, no Canadá, dedicaram apenas dois dias para a análise do fóssil antes de confirmarem que tratava-se da mais sensacional descoberta dos últimos tempos. O fóssil que parecia uma mistura de um galináceo e um velociraptor ganhou o nome científico de Archaeoraptor liaoningensis, espécie que teria vivido na China há 125 milhões de anos. Um mês depois, o próprio Xing Xu percebeu que se tinha enganado. Descobriu que o rabo do fóssil pertencia na verdade a outro dinossauro e que o Archaeoraptor nada mais era do que uma montagem feita por alguém louco para ganhar dinheiro no disputado mercado ilegal de fósseis.

Clonagem Humana

Woo-Suk Hwang

Clonar um Ser Humano teria deixado de ser ficção científica em 2004 se o veterinário Woo-Suk Hwang, da Universidade Nacional de Seul (Coreia do Sul), não estivesse trapaceado. O cientista coreano anunciou que tinha clonado o primeiro embrião humano, abrindo as portas para uma revolução na medicina. A sua proeza, que ao longo de um ano teria resultado em mais 11 clones, e 11 linhagens de células-tronco, foi ratificada pela Science, uma das mais importantes revistas científicas do mundo. Hwang tornou-se uma celebridade, foi condecorado e considerado herói nacional, além de receber milhões de dólares pelas suas pesquisas. Mas pouco tempo depois, denúncias de erros éticos cometidos por Hwang levaram a uma investigação que concluiu que ele não tinha clonado nenhum embrião humano, nem células-tronco embrionárias. O máximo que Hwang tinha conseguido foi criar Snuppy, o primeiro cachorro clonado. A farsa foi construída usando embriões comuns, obtidos a partir da compra de óvulos e da coacção da sua equipa, e montagens fotográficas.

Memória da Água

Jacques Benveniste

Em 1988, os adeptos da homeopatia acreditaram que finalmente a Ciência reconhecera a eficácia desse tipo de tratamento. Isso porque o médico imunologista francês Jacques Benveniste publicou um artigo na revista Nature que mostrava que a água tinha memória, isto é, que ela guardava traços dos elementos que tinham entrado em contacto com ela. Como a terapia homeopática baseia-se na ideia da diluição de uma substância activa na água até que não sobre mais nada dessa substância no remédio, a proposição de Benveniste era a “prova científica” para a eficácia do tratamento. O problema é que ninguém, fora os homeopatas, levou o artigo de Benveniste muito a sério, pois a sua hipótese nunca conseguiu ser reproduzida em laboratório. Para piorar, uma nova pesquisa divulgada em 2005 também pela revista Nature e realizada pelo investigadorr R.J. Dwayne Miller, da Universidade de Toronto (Canadá), e por cientistas do Instituto Max Born, na Alemanha, mostrou que a proposta de que a água retenha alguma “memória” de substâncias com que teve contacto está errada. Nessa pesquisa, os cientistas não procuravam criticar o princípio homeopático, mas entender como a água funciona. Mas, mesmo sem querer, eles acabaram por jogar um balde de água fria na ideia de Benveniste.

Ununoctium

Ununoctium

Em 1999, o físico Victor Ninov anunciou a criação em laboratório de dois novos elementos químicos: o 116 e o 118, que seria o elemento químico mais pesado e ganharia o nome de “ununoctium“. Mas ninguém conseguiu reproduzir a experiência e numa investigação concluiu-se que o físico tinha forjado os resultados. Ninov trabalhava na época para o The Ernest Orlando Lawrence Berkeley National Laboratory, pertencente ao governo norte-americano, e já era famoso com a sua equipa ter obtido os elementos químicos 111 e 112. As investigações mostraram que Ninov tinha inserido falsos dados na pesquisa e foi demitido em 2001. O cientista afirmou ser inocente e que nunca teve a intenção de cometer qualquer tipo de embuste. Alegou ser um bode expiatório e que o processo que resultou na sua demissão fazia parte de um complô internacional contra as suas pesquisas.

Transistor em Escala Molecular a partir de Moléculas Orgânicas Mortas

Jan Hendrik Schön

Como duvidar de um cientista que tem no mesmo ano oito artigos publicado na Science e na Nature, as duas mais respeitadas e rigorosas revistas de Ciência do mundo, e ganha três dos mais importantes prémios científicos? Isso é possível graças a um cepticismo inerente aos cientistas, que faz com que a Ciência tenha a possibilidade de corrigir os enganos construídos pelas mais engenhosas fraudes. O fraudulento nesse caso é o físico alemão Jan Hendrik Schön, que ao trabalhar para a empresa Bell Labs teria desenvolvido um transístor em escala molecular a partir de moléculas orgânicas mortas. O embuste de Schön veio à tona quando dois físicos tentaram usar os resultados das experiências do alemão como parâmetro para as suas pesquisas e notaram que havia algo errado. A Bell Labs iniciou uma investigação e surpreendentemente descobriu que os dados da pesquisa de Schön tinham sido “deletados”. Ele foi demitido, perdeu o seu título de Ph.D. e quase todos os seus artigos foram retirados das publicações científicas. O caso Schön levou a um intenso debate sobre a eficácia da revisão dos artigos dos cientistas pelos seus pares.

A Tribo Tasaday 

Tribo Tasaday

James Krippendorf é um fictício professor de Antropologia vivido por Richard Dreyfuss no filme “A Tribo dos Krippendorf” (1998). Na película, ele fantasia a sua família como habitantes primitivos de uma tribo da Nova Guiné, para justificar a verba que recebeu do governo pelas suas pesquisas. Isso foi mais ou menos o que o governo filipino fez nos anos 70 e que acabou por ser levado na conversa (mais uma vez) a National Geographic e a BBC, entre outras. Segundo foi noticiado na época, uma comunidade “perdida”, chamada de tribo Tasaday, tinha sido encontrada nas Filipinas. Os seus habitantes viviam como na Idade da Pedra, com hábitos e comportamentos pré-históricos, na ilha de Mindanao. Antropólogos fizeram expedições para conhecer o misterioso povo Tasaday, que estaria isolado há pelo menos dois mil anos e não conhecia a agricultura. Detalhes da sua cultura, como a alimentação, os seus rituais e a sua linguagem, foram revelados ao mundo. A tribo Tasaday ficou famosa, com visitantes e investigadores ilustres a quererem conhecê-la, e reportagens e Documentários a contar a sua fantástica história para o mundo. O problema é que a tribo foi uma invenção do governo filipino, então sob a tirania de Ferdinand Marcos. Somente após a queda de Marcos, em 1986, foi possível descobrir que a tribo era uma farsa. Sem as restrições governamentais, os antropólogos puderam verificar que os pré-históricos Tasaday não moravam em cavernas e usavam jeans e camisetas enquanto não estavam a fingir serrem seres homens da Idade da Pedra.

Mulher que deu à luz 16 coelhos

Mary Toft

No Século 18, os médicos reais eram muito respeitados e considerados homens da Ciência. Por isso, quando um dos médicos do Rei George, da Inglaterra, narrou o caso da mulher que deu à luz 16 coelhinhos as pessoas não só acreditaram como ficaram estupefactas com o acontecimento. A mulher em questão era Mary Toft que ficou grávida em 1726 e logo sofreu um aborto. Só que Mary tinha fascinio por coelhos e alegou que tinha dado à luz 16 desses bichinhos. Vários cirurgiões foram chamados para analisar o caso, inclusive vários médicos da realeza britânica. À medida que cada um confirmava a história dela, o cepticismo do rei cedia e Mary acabou por ir para Londres para ter o seu caso mais profundamente analisado pelos cientistas. Mas a mãe coelha não resistiu muito tempo e logo confessou a farsa. Acabou presa por fraude e a comunidade médica britânica perdeu boa parte da sua credibilidade.

O Gigante de Cardiff

Gigante de Cardiff

É a típica fraude que logo é desmascarada pela Ciência mas que, mesmo assim, permanece como uma “verdade” para a boa parte da população. Em Outubro de 1869, um fazendeiro da região de Cardiff, no Estado de Nova York (EUA), alegou ter descoberto nas suas terras o “fóssil” de um homem gigante de cerca de três metros de altura petrificado. Muitos religiosos acreditavam ser esta a prova de que nos tempos pré-diluvianos esses gigantes existiram de facto, como na narrativa bíblica de Davi e Golias. Os cientistas logo constataram que tratava-se de uma peça esculpida em gesso e enterrada no local alguns anos antes. Mas isso não impediu que as pessoas de várias partes viajassem até Nova York e pagassem ingresso para ver o gigante de Cardiff, uma “prova verdadeira” dos relatos bíblicos.

O Elo Perdido Encontrado

Charles Dawnson

Este foi o maior e mais duradouro embuste da história da Ciência moderna. No começo do Século 20, o geólogo britânico Charles Dawnson teria encontrado o elo perdido, a prova definitiva da Teoria da Evolução, de Charles Darwin. Mas a paleontologia e a Antropologia são os campos científicos onde as fraudes mais prosperaram e este é o maior exemplo. Em 1912, Dawson apresentou à comunidade científica um crânio que ele teria encontrado numa mina de cascalho em Piltdown, em Inglaterra. O fóssil revelava uma espécie desconhecida na evolução humana e preenchia exactamente o elo evolutivo entre os macacos e o homem. Somente quatro décadas após a descoberta, a fraude foi revelada. O avanço tecnológico permitiu identificar que o fóssil do “homem de Piltdown” era o resultado da junção de um crânio humano com a mandíbula de um orangotango. Não se sabe se o crânio fraudulento foi preparado pelo próprio Dawson, que morreu em 1916, ou se ele apenas o encontrou e também foi enganado pela armação.

Fonte: Verdade Que Liberta

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