O legado de ódio e violência do Ku Klux Klan tem a sua origem no ressentimento de muitos sulistas e confederados brancos, após a Guerra Civil. Depois de finalmente vencida a batalha pela liberdade da escravatura, os negros foram confrontados com as tácticas de terror do Klan que no seu apogeu tinha mais de três milhões de membros. Apesar da sua actividade ter altos e baixos, nunca desapareceu totalmente.
O espírito de fronteira de uma Era anterior premiava o individualismo grosseiro e a sobrevivência do mais forte. Com isto, surgiu a justiça fronteiriça e o vigilantismo. Antes da abolição da escravatura, era comum (e legal) grupos de homens patrulharem as suas plantações e áreas circundantes, para prevenir revoltas e chicotearem quem desrespeitasse o recolher obrigatório. Depois de uma série de revoltas sangrentas dos escravos, os sulistas brancos saíram derrotados da questão da escravatura. A memória destas noites criou as bases para as actividades do Klan que se seguiram.
O Klan foi fundado no Inverno de 1865 por seis jovens veteranos da Confederação, na pequena cidade de Pulaski, Tennessee.
No início, não era mais que um clube social. Assumiram nomes ridículos como o Grande Ciclope, o Grande Mago, o Grande Turco, e o Grande Escriba, e os seus membros seriam chamados de “fantasmas”. Escolheram ainda a palavra grega “kuklos” (“círculo”), que era suficientemente misteriosa, e através da aliteração e das rimas internas obtiveram o nome “Ku Klux Klan”. As iniciais KKK depressa adquiriram um significado sinistro nos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, era claro que as legislaturas dos estados sulistas não renunciariam ao poder facilmente. Passaram leis restritivas (que ficaram conhecidas como Black Codes) que não fizeram mais do que reverter a árdua liberdade conquistada pelos negros.
Entretanto, o Presidente Andrew Johnson fechou os olhos a estas medidas retrógradas, mas o Congresso mostrou o seu desagrado pelos Black Codes ao recusar assento aos senadores sulistas, em Dezembro de 1865. O Klan parecia estar preparado para se auto-promover às custas dos sulistas conservadores.
As suas primeiras cavalgadas nocturnas não passavam de partidas irresponsáveis e infantis. Disfarçavam-se com lençóis e causavam bastante agitação nas ruas de Pulaski. Usavam capuzes altos e pontiagudos, máscaras grotescas e adoptaram um ritual de iniciação semelhante às fraternidades universitárias, com ritos de humilhação e juramentos ridículos. Mas, à medida que os membros aumentavam, as coisas descontrolavam-se. As casas dos negros tornaram-se, rapidamente, os principais alvos dos grupos de Cavaleiros Brancos, ameaçando agredir os negros que não se “comportassem bem”. Das ameaças passaram aos actos — primeiro com chicoteamentos — e, rapidamente se espalhou, para além de Pulaski, que havia uma organização a lutar pela liberdade dos brancos.
Em dois anos a sociedade tinha-se espalhado para o Tennessee, Alabama, Geórgia e Mississippi e rondava os milhares. Era agora possível realizar demonstrações em massa e comunidades inteiras, negras e brancas, eram facilmente intimidadas. Nalguns condados o Klan já se tinha tornado o governo invisível, com espiões em todo o lado e, mais importante, com membros influentes — editores, ministros, ex-oficiais da Confederação e líderes políticos. A justiça dos vigilantes era agora aplicada a qualquer um que “saísse da linha” e ameaçasse a organização.
Na altura, o Klan era liderado pelo General Nathan Bedford Forrest, um oficial da cavalaria da Confederação e o primeiro Feiticeiro Imperial do Klan. Viajou pelo Sul, formando novas células e coordenando as actividades do Klan.
Durante o Verão de 1868, o Sul assistiu a uma série de mutilações, chicoteamentos, linchamentos e tiroteios que degeneraram numa anarquia, com alguns grupos do Klan a lutarem entre si. O Congresso estava no seu encalço, por isso Forrester saiu oficialmente do Klan, em Janeiro de 1869, para se absolver. No entanto, isto não travou a violência, apesar das legislaturas sulistas terem começado a impor leis restritivas contra os membros do Klan.
Em 1871 o Congresso baniu o Klan — cavalgar à noite e usar máscaras era ilegal — e o presidente podia impor a lei marcial nos estados do Sul. Muitos membros foram presos e alguns condenados.
Mas o dano já tinha sido feito — os Democratas sulistas ganharam mais eleições, já que os eleitores negros, amedrontados, não iam às urnas e introduziram um sistema de segregação — a Política “separados mas iguais” vigorou nos 80 anos seguintes.
Até ao seu renascimento no Século XX, o Klan permaneceu silencioso. Entretanto, o país assistiu a um influxo de 23 milhões de imigrantes europeus, as leis segregativas continuaram a ser aprovadas e durante os anos 90 do Século XIX assistiu-se a uma série de linchamentos de negros, por parte de máfias brancas. Mas só em 1915, quando o reverendo William J. Simmons queimou uma cruz à frente de outros 15 companheiros do Klan, nas Montanhas Rochosas, é que o Klan se tornou num movimento formal. O seu principal objectivo era fazer dinheiro e, apesar do negócio ter sido fraco por vários anos, assim que se associou aos publicitários Edward Young Clarke e Elizabeth Tyler em 1920, o medo da América ser invadida por imigrantes tornou-se uma autêntica mina de ouro, pois os seus novos associados relançaram a moda de ódio e paranóia anti-negros, anti-judeus, anti-Católicos e anti-imoralidade.
Descobriram a galinha dos ovos de ouro. Num ano tinham 100.000 membros e a jóia de inscrição de 10 dólares enriqueceu-os, enquanto membros de todo o país se dedicavam, entusiasticamente a novos espancamentos, castigos com alcatrão e penas, mutilações e linchamento de qualquer um que considerassem anti-americano, incluindo prostitutas e comunistas.
Com a fortuna vieram anos amargos de lutas internas entre os líderes do Klan, culminando com a sua denúncia no New York World, Isto resultou num inquérito do Congresso, em 1921, cujo único efeito parece ter sido publicidade gratuita para o Klan. Nos quatro anos seguintes o número de membros ascendeu aos três milhões.
Também conseguiram obter cargos políticos para membros do Klan — Earl Mayfield, membro do Texas, tornou-se senador em 1922 e a influência do Klan ajudou a nomear governadores na Geórgia, Alabama, Califórnia e Oregon.
Mas uma série de julgamentos públicos entre líderes do Klan acabou com a sua reputação moralista, e, em 1926, o seu destino voltou a mudar. O Klan continuou a diminuir durante a Grande Depressão dos anos 30, mas continuaram a existir células activas. Foram finalmente “tramados” em 1944, quando o Internal Revenue Service (Receita Federal Americana) os levou à falência ao cobrar 605.000 dólares em impostos atrasados.
Samuel Green, um médico de Atlanta, tentou ressuscitá-lo em 1949, e existe, actualmente, uma organização, fundada em Louisiana, em 1956, que se auto-intitula Os Cavaleiros do Ku Klux Klan, com o slogan “Direitos Iguais para Todos, Privilégios Especiais para Ninguém”, mas felizmente nada se compara ao reinado de terror do KKK, no início do Século XX.
Fonte: Livro: «O Manual das Sociedades Secretas» de Michael Bradley