«O grande pássaro fará o seu primeiro voo, no dorso do seu grande cisne, presenteando o universo com maravilhas; presenteando todos os relatos com a sua reputação e trazendo glória eterna para a sua terra natal.»
– Anotação retirada dos diários de Leonardo, aparentemente prevendo a criação do voo artificial.
Nascido em 1452, na cidade italiana de Vinci, que lhe daria o nome, Leonardo passou a ser considerado o modelo do homem renascentista. Venerado hoje em dia como o pintor responsável pela Mona Lisa e outras obras-primas, foi, acima de tudo, um homem de insaciável curiosidade intelectual, movida por um desejo compulsivo de compreender o funcionamento da Natureza (e maquinaria). Entre os temas aos quais se dedicou no decorrer da sua espantosa carreira de cinquenta anos, figuram não só a arte e a estética, mas ainda a matemática, Astronomia, botânica, anatomia animal e humana, sobre a qual realizou importantes estudos pioneiros.
À primeira vista, a vocação prática do génio de Leonardo parece estar no ponto oposto do espectro de potencial humano do espírito profético. No entanto, o âmbito da sua curiosidade era suficientemente abrangente para o transportar para lá dos limites normais da invenção, para um território por norma mais associado a visionários e videntes do que a cientistas ou engenheiros. O seu dom profético manifestou-se no que ele apelidou de «pré-imaginação», a visualização de como as coisas poderiam ser a dada altura no futuro. A precisão surpreendente de algumas das suas previsões pode, de facto, remontar ao domínio óbvio de princípios científicos básicos e ao talento intuitivo para os aplicar de tal forma, que o resto do mundo não os alcançaria durante séculos e séculos.
As previsões de Leonardo são comprovadas nos seus diários, dos quais sobreviveram cinco mil páginas. Numa amálgama confusa de palavras e desenhos, projetou invenção após invenção: uma escavadora mecânica; uma máquina de polir espelhos; um laminador; um instrumento para medir a velocidade do vento. Estava tudo anotado para o seu próprio esclarecimento numa estranha escrita especular de trás para a frente com a mão esquerda.
Prever o voo humano
Um dos interesses mais arrebatadores de Leonardo dizia respeito aos princípios do voo. No seu diário, não só copiou meticulosamente a estrutura das asas de pássaros e morcegos, como também providenciou instruções detalhadas para a construção de modelos artificiais utilizando madeira, tafetá e fustão. Ao acaso, desenhou, no canto de uma página, um protótipo de paraquedas e escreveu ao lado: «Se um homem tiver uma tenda de linho cujas aberturas tenham sido todas fechadas… será capaz de se atirar de uma qualquer altura considerável sem sofrer dano.» Tal previsão realizar-se-ia mais de quinhentos anos depois, quando um paraquedista inglês finalmente provou que o paraquedas que Leonardo desenhara poderia, de facto, funcionar.
Leonardo desenhou, ainda, máquinas de voar e mecanismos semelhantes parecidos com helicópteros, fruto da sua imaginação. Existem, ainda, indícios de que o seu interesse por este tema foi além da simples curiosidade intelectual; a dada altura, parece ter alimentado uma verdadeira ambição de dominar o poder de voar. Mais uma vez, as pistas estão nos diários, em mensagens secretas: «O grande pássaro fará o seu primeiro voo, no dorso do seu grande cisne, presenteando o universo com maravilhas; presenteando todos os relatos com a sua reputação e trazendo glória eterna para a sua terra natal»; ou, ainda, «Da montanha, com o nome do grande pássaro, o famoso pássaro voará e encherá o mundo com o seu grande prestígio.» Ambas as afirmações fazem mais sentido se se tiver conhecimento de que uma colina alta perto de Florença era conhecida na altura como Monte Ceceri, ou Monte Cisne. No entanto, se Leonardo estava, de facto, a profetizar que seria o primeiro homem a voar, tal não se cumpriu. O génio incansável depressa deixou de lado os estudos aeronáuticos e passou para novos campos da descoberta.
Previsões apocalípticas
Frustrado por não ter conseguido tudo o que se achava capaz de fazer e cada vez mais desiludido com a natureza destrutiva da Humanidade, Leonardo da Vinci revelou, nos seus últimos anos, um lado profético mais tradicional. Qual profeta do Antigo Testamento, passou a imaginar desastres apocalípticos que poderiam, um dia, destruir toda e qualquer criação. Nos seus diários, pintou a cena em forma de um dilúvio cataclísmico reminiscente da inundação bíblica. 0 grandioso artista revelou um olhar meticuloso para o pormenor nas minúcias do cataclismo, descrevendo o desabamento de encostas que provocariam um aumento ainda maior do nível das águas e os destroços de «mesas, camas, barcos e outros objetos improvisados», sobre os quais flutuavam pessoas e animais apavorados por campos submersos. A visão de Leonardo do Apocalipse partilhava a combinação única de qualidades que lhe caracteriza toda a obra: precisão em todas as suas partes, não descurando uma grandiosidade épica no seu âmbito e escala.
Fonte: Livro «As Profecias que Abalaram o Mundo» de Tony Allan