Que relação há entre os Membros Fantasma e as experiências extracorporais? Nas experiências extracorporais, as pessoas dão consigo “fora” do seu corpo, implícita ou explicitamente dentro de uma espécie de corpo fantasma. Vejamos, a título de exemplo, o relato de um homem que assistiu à sua própria operação na sequência de um grave acidente. A anestesia tinha-o posto inconsciente. Mas a inconsciência total não durou muito tempo:
“Vi-me – ao meu ser físico – ali deitado. Tive uma visão de contornos muito nítidos da mesa de operações. Eu próprio, flutuando livremente no espaço e olhando cá para baixo, via o meu corpo físico deitado na mesa de operações. Via a incisão da operação do lado direito do meu corpo, via na mão do médico um instrumento que não consigo descrever em pormenor. Observei tudo com grande clareza. Era tudo tão real que eu tentava opor-me. Ainda estou a ouvir as palavras que lhes gritava constantemente: “Parem com isso! O que é que vocês estão a fazer?”
Algumas pessoas conseguem mesmo “sair” dos seus corpos físicos e passear à vontade. Acabada a experiência, “reentram” no corpo físico e o corpo fantasma funde-se com ele. Exemplo de experiente viajante extracorporal é Robert Munroe, que até dá cursos práticos sobre o tema no centro que criou na Virgínia, Estados Unidos, onde ensina as pessoas a viajarem para fora do corpo. Eis como ele descreve a experiência:
“Uma experiência extracorporal é uma situação em que a pessoa se encontra fora do seu corpo físico, plenamente consciente e capaz de perceber e agir como se estivesse a funcionar fisicamente, com algumas excepções. Pode deslocar-se no espaço (e no tempo?) lentamente ou aparentemente algures acima da velocidade da luz. Pode observar, participar em acontecimentos, tomar decisões intencionais com base naquilo que percebe e faz. Pode atravessar matéria física como paredes, chapas de aço, betão, terra, oceanos, ar ou mesmo radiações atómicas sem ter de se dar ao trabalho de abrir a porta. Pode visitar um amigo que está a cinco mil quilómetros de distância. Pode explorar a Lua, o sistema solar ou a galáxia, se nisso tiver interesse.”
As experiências extracorporais são frequentes em pessoas que estiveram às portas da morte, constituindo o ponto de partida para as chamadas experiências no limiar da morte. Eis o que sentiu um rapaz de dezassete anos que quase por pouco não se afogou quando nadava num lago com os amigos:
“Ia ao fundo e emergia, sem conseguir controlar os movimentos, até que, de repente, senti-me como se estivesse fora do corpo, longe de toda a gente, sozinho no espaço. Embora me mantivesse estável, sempre ao mesmo nível, via o meu corpo na água, um metro e tal abaixo de mim, balouçando ao sabor da ondulação. Via o meu corpo de costas e um pouco do lado direito. Continuava com a sensação de que tinha uma forma corporal completa, mesmo estando fora do meu corpo. Tinha uma sensação de leveza quase indescritível. Sentia-me como uma pluma.”
Experiências como esta são conhecidas na maioria, se não na totalidade, das culturas tradicionais. Mesmo nas modernas sociedades industriais, são tudo menos raras. Estudos realizados têm sistematicamente revelado que 10 a 20% da população recordam-se de ter tido pelo menos uma experiência extra-corporal.
Todos nós temos experiências parecidas em sonhos, quando parece que fazemos grandes viagens enquanto o nosso corpo dorme, deitado na cama. Em sonhos temos um segundo corpo, o corpo onírico. Podemos não ter permanente consciência disso, da mesma forma que podemos nem sempre ter consciência do nosso corpo físico, mas está implícito. Nos nossos sonhos temos uma localização, um ponto de vista, um centro; mexemo-nos, vemos, ouvimos, falamos. Há alturas em que tomamos particular consciência do corpo onírico, como acontece quando temos sonhos voadores ou eróticos.
Há pessoas que têm sonhos em que sabem que estão a sonhar. São os chamados “sonhos lúcidos”. Continuam a ter um corpo onírico, mas neste caso podem decidir para onde ir, e até certo ponto controlar a experiência. Este tipo de sonho assemelha-se muito às experiências extracorporais, sendo que a diferença é que naqueles se entra partindo do estado onírico e nestas partindo do estado vígil.
Na bibliografia esotérica, as viagens em sonhos lúcidos ou em experiências extracorporais são conhecidas por “viagens astrais”, e o corpo em que elas acontecem chama-se “corpo astral” ou “corpo subtil”. Para muita gente, trata-se de uma terminologia obscura e desconcertante, pelo que adiante me referirei apenas ao corpo “não-material”.
São flagrantes as semelhanças entre o corpo não-material e os Membros Fantasma. A primeira é que o Membro Fantasma parece subjectivamente real, o mesmo acontecendo com o corpo não-material, embora se saiba que está fora do corpo de carne e osso. A segunda é que o corpo não-material pode separar-se do corpo normal e voltar a entrar nele mais tarde, tal como nos paraplégicos e nos doentes com os nervos anestesiados o membro fantasma pode separar-se do membro normal e depois reentrar nele. A terceira é que há casos intermédios, principalmente logo a seguir à ocorrência de uma lesão na espinal medula. “Imediatamente após um acidente, o fantasma pode estar dissociado do corpo real. Por exemplo, uma pessoa pode ter a sensação de que tem as pernas levantadas por cima do peito ou da cabeça, mesmo que as veja estendidas na estrada”. O neurologista Ronald Melzack concluiu, ao fim de muitos anos de estudo dos fantasmas, que: “É evidente que a nossa experiência do corpo pode acontecer sem corpo nenhum. Não precisamos de um corpo para o sentir”. Trata-se de uma questão de experiência imediata para quem se vê fora do seu corpo.
Fonte: LIVRO: «7 Experiências que podem mudar o Mundo» de Rupert Sheldrake