Um Buraco da Memória (Memory Hole) é qualquer mecanismo usado para a alteração ou destruição deliberada de documentos, fotografias, gravações, textos ou outros documentos considerados “constrangedores” ou “inapropriados”, como os de um website ou outro arquivo, em particular para transmitir a impressão de que algo nunca aconteceu. [1]
O conceito foi popularizado pelo livro “1984” de George Orwell, publicado originalmente em 1948. Neste, o Ministério da Verdade do poderoso partido Ingsoc recria sistematicamente todos os documentos históricos comprometedores, reescrevendo efectivamente a história para que esta combine com a propaganda estatal vigente, que muda com frequência. Essas mudanças eram completas e indetectáveis. [2]
Este conceito torna-se crescentemente relevante à medida que cada vez mais documentos começam a ter uma existência somente digital, tornando-se assim mais fácil a sua obliteração / alteração.
Exemplos de Memory Hole:
1 – Alteração da definição de “Pandemia”

Desde 2003, o topo da página inicial da Pandemic Preparedness da Organização Mundial de Saúde (OMS) continha a seguinte declaração: “Uma pandemia de Influenza ocorre quando surge um novo vírus de Influenza contra o qual a população humana não tem imunidade, resultando em várias epidemias simultâneas em todo o mundo com um número enorme de mortes e doença.” [3] No entanto, em 4 de Maio de 2009, apenas um mês antes de ser declarada a pandemia de H1N1, a página da web foi alterada como reposta às dúvidas levantadas por um repórter da CNN. [4] Foi retirada a frase “um número enorme de mortes e doença” e a página revista diz simplesmente o seguinte: “Uma pandemia de Influenza pode ocorrer quando surge um novo vírus de Influenza contra o qual a população humana não tem imunidade.” Meses depois, o Conselho Europeu citaria essa alteração como evidência de que a OMS alterou a sua definição da pandemia de gripe para poder declarar uma pandemia sem ter de demonstrar a intensidade da doença causada pelo vírus H1N1. [5][10]
Sem a alteração da definição efectuada num “timing” tão conveniente, nunca poderia ter sido declarada uma pandemia mundial em 2009. Na altura, isso resultou em grande polémica, tendo a OMS sido acusada de jogar o jogo das grandes farmacêuticas e interesses instituídos.
2 – Alteração da definição de “Heard Immunity” (Imunidade de Rebanho)
A 9 de Junho de 2020, a definição de “Imunidade de Rebanho” fornecida pela OMS, dizia que se tratava da protecção em relação a uma doença infecciosa, através da vacinação ou da imunidade adquirida através de infecção prévia. [6]

No entanto, a 13 de Novembro (nas vésperas do lançamento da vacina), a OMS alterou a definição, retirando qualquer menção a “infecções prévias” e referindo que a “Imunidade de Rebanho” só se poderia obter através da vacinação, quando se ultrapassa um limite de pessoas vacinadas a partir do qual se pode considerar que a comunidade está imune. Ainda se adianta que a “Imunidade de Rebanho” não se obtém expondo a população a um vírus. [7]
Ora, isto vai contra os conhecimentos basilares da epidemiologia [8], porque a imunidade de rebanho pode obter-se através da exposição das pessoas aos patógenos, seja através da sua versão activa, ou através da sua versão inactiva (na vacinação).
A tecnologia da vacina para a COVID-19 dispensa a utilização de vírus, pelo que parece estar a dar-se um passo na direcção de apagar da memória colectiva o facto de que o nosso sistema imunitário sempre funcionou através da interacção com o meio ambiente.
Conclusão
Em 2014, o Tribunal de Justiça da União Europeia decretou que o Google teria de respeitar o “direito ao esquecimento“. Fê-lo, com a sua lógica, no sentido da privacidade. [9] No entanto, a decisão fez com que o Google apagasse milhares de links para reportagens da imprensa.

À medida que os documentos vão passando a ter vida somente digital e tendo em conta o clima de censura ditatorial de pensamento único que se vive actualmente, o revisionismo histórico de certos acontecimentos torna-se um cenário distópico bastante mais verossímel.
Afinal, os espanhóis têm uma visão diferente da História da Padeira de Aljubarrota, os alemães têm uma visão histórica diferente dos polacos acerca do Massacre de Katyn e os japoneses possuem uma versão da História da Segunda Guerra Mundial diferente dos chineses.
Felizmente, por enquanto ainda temos o Way Back Machine, que nos vais permitindo captar as manobras da OMS.
Como escreveu Orwell: “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.”
Fontes:
[1] «Memory Hole», Urban Dictionary
[2] Orwell, George (1949). Nineteen Eighty–Four. A novel. London: Secker & Warburg.
[3] Pandemic preparedness [Internet]. Geneva: World Health Organization; 2 de Fevereiro de 2003. Disponível em:
«Pandemic preparedness», World Health Organization
[4] Cohen E. When a pandemic isn’t a pandemic. Atlanta: CNN.com/health [Internet]. 4 de Maio de 2009. Disponível em:
«When a pandemic isn’t a pandemic», CNN Health
[5] The handling of the H1N1 pandemic: more transparency needed. Council of Europe; 7 de Junho de 2010. Disponível em:
[6] «Coronavirus disease (COVID-19): Serology», World Health Organization. 9 de Junho de 2020
[7] «Serology and Early Investigation protocols», World Health Organization
[8] «Herd Immunity: History, Theory, Practice», Oxford Academic. 1 de Julho de 1993