O site The Economist, apresenta-nos um artigo abrangente, sobre o Excesso de Mortalidade em 2020. De acordo com o periódico, terá havido Excesso de Mortalidade associada à COVID-19. [2]
Mas terá sido assim?
Para se poder responder a esta questão, é preciso perceber o que se entende por “Excesso de Mortalidade“.
Apesar de diferentes modelos estatísticos utilizados, o Excesso de Mortalidade, normalmente, calcula-se comparando a média dos últimos 5 anos, com o ano actual.
Ora, isso faria sentido, se a tendência de mortalidade fosse estável. Mas não é isso que se verifica. A mortalidade está a subir há muitos anos e essa é a tendência futura ainda durante muitas décadas. Tudo devido ao envelhecimento da população.
Portanto, porque a tendência é a de subida, desde há alguns anos que há quase sempre Excesso de Mortalidade.
O site Index Mundi apresenta vários dados estatísticos, entre eles, a evolução da Taxa de Mortalidade ao longo dos anos. Como se pode analisar, em praticamente todos os países do chamado “Mundo Ocidental“, há uma tendência de aumento gradual, sobretudo desde 2007. [1]
Segundo os dados do Eurostat, podemos perceber uma tendência crescente da mortalidade na Europa. [3]
Assim, como a tendência é crescente, a média dos últimos 5 anos, irá criar uma discrepância maior, relativamente ao ano actual, do que haveria se se verificasse a diferença somente para o ano anterior.
Por exemplo, Portugal, em 2020, houve 123.667 óbitos (a acreditar nas contas feitas pelo Jornal de Notícias). [4] Em 2019, houve 111.793, e em 2018, 113.051. [5] Isso dá uma diferença de 11.867 para 2019 e de 10.609 em relação a 2018. Diferente dos 13.540 apontados pelo artigo do The Economist. [2]
Como se pode constatar, o número de óbitos tem vindo paulatinamente a aumentar. [5]
Para se perceber se a mortalidade apresentada é ou não “anormal”, precisa fazer-se o ajuste à idade. Abaixo vou apresentamos alguns exemplos.
Alemanha
Para a Alemanha, segundo o The Economist, o “Excesso de Mortalidade” é de 38.400.
Se formos verificar os dados, a mortalidade em 2018 foi de 954.874 e em 2019 foi de 939.520. [6] Em 2020, foi 972,155. [7] Ou seja, há uma diferença de 32,635 para 2019 e de 17.281 para 2018, mais uma vez, diferente do apresentado pelo The Economist.
Os números são diferentes, pela forma que o The Economist utiliza para calcular o “Excesso de Mortalidade“.
Pelo que se percebe, o The Economist vai ainda mais longe e utiliza a média dos últimos 10 anos (e não 5) o que, como tal, acentua mais a discrepância. Muitos modelos comparam com o “upper bound“, mas não parece ser esse o caso.
Na imagem abaixo, apresentamos um gráfico que faz o ajuste à idade. Como se pode verificar, dentro da linha dos últimos anos.
De 2014 para 2015, houve um aumento de quase 60 mil mortos, mais do dobro de 2019 para 2020. [6]
Algo que é visível em muitos países, é que 2019 foi um ano de baixa mortalidade, o que poderá ter produzido um efeito cumulativo que em 2020 / 2021 permitiu alavancar a mortalidade. No entanto, apesar da flutuação, a tendência é de uma subida acentuada.
Suécia
Segundo os dados oficiais, registou-se 97.941 óbitos em 2020, mais 9.175 óbitos que 2019 e mais 5.746 que 2018. O The Economist aponta para 9.780. [8]
Ajustando à evolução da população, como se deu uma variação negativa de -4,6% em 2019, criou-se o tal efeito cumulativo, pelo que a variação de 4,8% para 2020 está perfeitamente dentro da norma.
Além disso, falta ajustar à idade.
Para um país que praticamente não teve medidas, é esclarecedor.
Brasil
O próximo exemplo é o do tão badalado Brasil.
O Brasil tem apresentado uma mortalidade com um crescimento acentuado nos últimos anos. A imagem abaixo apresenta a evolução da mortalidade ajustada à evolução demográfica. Como se pode ver, está a seguir a tendência.
Como a tendência é de um grande aumento, se se utilizar a média dos últimos 5 anos, o número será demasiado discrepante e não se fica com uma ideia clara do contexto de subida.
Espanha
A Espanha constitui um caso curioso: entre a semana 1 e 39 – aproximadamente os primeiros 9 meses do ano de 2020, comunicou ao Eurostat (o Instituto Nacional de Estatística da União Europeia) um total de 368 mil óbitos. [12]
Se consultarmos a página do Ministério da Saúde de Espanha, [13] podemos obter o “Índice Nacional de Defunciones”. [14] Neste documento constam apenas 305.802 óbitos entre 1 de Janeiro e 30 de Setembro de 2020: 18% inferior!
Não há dados oficiais disponíveis em relação a Espanha. Os únicos a apresentar números são os meios de comunicação. No entanto, podemos fazer algumas projecções.
Como podemos observar no Gráfico 3 abaixo, os últimos 4 meses do ano representam aproximadamente 25% do total de óbitos em Espanha.
Desta forma, em 2020, a mortalidade global em Espanha situar-se-á em torno a 406 mil óbitos, um valor menor que o dos anos anteriores e bastante abaixo da tendência crescente dos últimos anos.
Mas haverá alguma motivação para mentir em relação à mortalidade?
A Comissão Europeia criou o programa SURE (Support to mitigate Unemployment Risks in an Emergency), que servirá de ajuda aos estados mais afectados pela crise COVID-19.
Presentemente, prevê-se uma emissão total de 87,9 mil milhões de Euros, que poderá subir a 100 mil milhões de Euros.
Está prevista a seguinte distribuição por país, tal como ilustrado na Figura 2.
A Itália e a Espanha irão receber a fatia de Leão.
Poderá a obtenção de subsídios chorudos justificar a apresentação de piores índices de mortalidade?
Mortalidade no Mundo
Apresentamos agora as projecções de mortalidade para todo o mundo em 2020: 60,2 milhões (os números podem ser revistos pelo site). [9]
Segundo o site WorldOMeter, faleceram 58,972. Ou seja, abaixo do projectado. [10]
Conclusão
Como se pode constatar, a tendência é não só de um grande aumento da mortalidade ao longo dos próximos anos, como também de aceleração.
Portanto, nos próximos nos, haverá muito mais mortalidade do que a actual (com anos mais moderados e outros onde a mortalidade “dispara”, porque não é linear). Independentemente de qualquer pandemia.
Apesar do exposto neste artigo, é natural que, em alguns países, haja realmente mortalidade que vá além do ajuste ao contexto demográfico. Até porque, as medidas matam. [11]
Fontes:
[1] Index Mundi
[2] Tracking covid-19 excess deaths across countries. The Economist.
[3] Number of deaths, EU-27, 1962-2018 (million). Eurostat.
[4] «Há cem anos que não morria tanta gente em Portugal.» Jornal de Notícias. 2 de Janeiro de 2021.
[5] Óbitos de residentes em Portugal: total e por mês de morte. PORDATA.
[6] Geburten und Sterbefälle (Insgesamt) – Anzahl. Deutschland in Zahlen.
[7] Mortality figures in Week 52 of 2020: 31% above the average of previous years. De Statis.
[8] Number of deaths in Sweden from 2011 to 2021. Statista.
[9] Number of deaths per year, World. Our World in Data.
[10] WorldOMeter
[12] Weekly death statistics. Eurostat.
[13] Índice Nacional de Defunciones. Ministerio de Sanidad, Consumo y Bienestar Social
[14] Número de defunciones incorporadas al Indice Nacional de Defunciones. 23 de Octubre de 2020.