Morte de uma moeda à medida que se aproxima o "eurogedão"

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Funeral do Euro
Funeral do Euro

É hora de considerar possível o que os mercados até aqui consideraram como impensável: que o euro está realmente nos seus últimos dias.

O momento decisivo foi o fiasco no leilão de títulos de tesouro de Quarta-feira, reforçado pelo espectáculo da ascenção dos títulos de tesouro alemães a subirem acima dos do Reino Unido.

Se está a tentado a considerar que se trata de outro voto de confiança por parte dos investidores internacionais no Reino Unido, não o faça. Actualmente não tem praticamente nada a ver connosco. Nem, na verdade, tem muito a ver com a ideia de que a Alemanha acabará por ficar sobrecarregada com a responsabilidade pelas dívidas das nações periféricas, comprometendo assim a sua própria credibilidade.

Não, o que está a acontecer é que os mercados estão a começar a apostar no que antes era um ponto de vista minoritário – um colapso completo do euro. Até aos últimos dias, era apenas possível concordar com a ideia de que finalmente a Alemanha iria ceder à pressão e fazer o que poderá ser necessário para salvar a moeda única.

A visão predominante era a de que a chanceler alemã não queria afirmar o que estava a afirmar, ou que apenas o estava a fazer para apaziguar os eleitores alemães. Quando finalmente chegou a ponto no precipício, pensava-se que fosse recuar da sua posição rigída e comprometer-se. Apenas o auto-interesse forçaria a Alemanha a agir.

Mas chega a um ponto em cada crise, onde o consenso se quebra repentinamente. É precisamente o que acaba de ocorrer, e com razão. Nos últimos dias, tornou-se bastante claro que a senhora não irá inverter a sua posição.

Tal tem causado evaporação na restante confiança internacional no euro, e até mesmo os títulos alemães têm vindo a perder o seu estatuto de “livres de risco”. A crise não está mais confinada aos “pecadores” do Sul. Repentinamente, ninguém quer manter activos denominados em euros de qualquer tipo e isso inclui o que se pensava anteriormente ser a zona de “porto seguro” do euro: os títulos de tesouro alemães.

Os investidores entraram em greve. Os norte-americanos estão a recolher o seu dinheiro tão rápido quanto “decentemente” podem. Os bancos britânicos pararam de emprestar a todos, excepto aos seus homólogos mais seguros da zona euro e mesmo a esses tem sido negado o acesso a financiamento em dólares. O Reino Unido quase não tem nada de que se orgulhar; Possui a sua própria legião de problemas, muitos deles não tão diferentes assim dos da periferia da zona euro.

Mas quase todos acabarão por considerar o euro como uma moeda que em breve poderá ser designada como o latão de lixo da história. De repente, a libra tornou-se na moeda padrão europeia.

O que estamos a testemunhar é algo de impressionante – a agonia de uma moeda. E não apenas uma moeda antiga qualquer, mas uma que quando foi lançada, se confiava que pudesse garantir o seu lugar ao lado do dólar como uma das maiores moedas de reserva do mundo. Essa promessa hoje parece estar em ruínas.

Estão em curso planos de contingência em toda a Europa. Do Tesouro do Reino Unido em Whitehall para a monstruosidade arquitetónica do Bundesbank, em Frankfurt, todos estão desesperadamente a tentar descobrir exactamente o quão ruins podem vir a ser as consequências.

Aquilo para o qual eles se estão a preparar, é para o maior desfalque em massa da história. Não há nenhuma maneira ordenada de fazê-lo. As finanças e o comércio europeus estão muito integrados para permitir um fácil desenrolamento de contratos. Vai ser a anarquia.

Vale a pena enfatizar que, de momento, o plano de contingência está confinado à burocracia. Esta semana, por exemplo, tivemos a Autoridade dos Serviços Financeiros Andrew Bailey a admitir que pediu aos bancos do Reino Unido para planear uma ruptura desordenada do euro. Andrew estaria a falhar nas suas funções se não tomasse esta atitude. A Elite política da Europa, que deu sempre vários passos atrás em termos de realidade, ainda considera que a perspectiva como inimaginável.

Essa elite precisa de acordar rapidamente, porque a ruptura do euro está a acontecer diante dos seus olhos. Na sua forma actual, a moeda única pode ter estado condenada desde o início, mas tal inevitabilidade tem sido em muito ajudada, no seu caminho, por uma série extraordinariamente absurda de erros políticos.

Em primeiro lugar, houve a sugestão desastrosa de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy de que, se a Grécia não se vergasse poderia ser expulsa. Os mercados reagiram de forma lógica, que era vender os títulos de qualquer país que parecesse vulnerável e perseguir activos considerados seguros, tornando assim muito mais difícil a tarefa de alguns governos financiarem-se.

O erro foi agravado por tentativas de reforçar a confiança no sistema bancário, forçando os bancos a lançar a sua dívida soberana no mercado. Tal medida pode ter permitido o reconhecimento da realidade, mas também destruiu o conceito de “activo livre de risco”, forçando os bancos, pela primeira vez a aplicar o capital nas suas exposições de dívida soberana. Sem surpresa, foi travada a compra de títulos soberanos, mais uma vez tornando mais difícil o financiamento dos governos.

Mas talvez o maior pecado do lote foi efectivamente processar todos os creditos de troca padrão (uma forma de seguro contra a negligência) da dívida soberana essencialmente inútil, ou vazia, tornando a negligência grega “voluntária”.

Isso fez com que se tornasse impossível a protecção contra compras de dívida soberana da zona do euro e, assim, destruiu o mercado. Pior, fez com que investidores acreditassem que o euro não é confiável, e que vai repetidamente encontrar formas de falhar nos seus compromissos. Aí chegou ao ponto de não retorno. Já não se trata de uma moeda credível.

Fonte: The Telegraph

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