É oficial: chegaram os mínimos solares. As manchas solares quase desapareceram. As labaredas solares são inexistentes. O Sol está totalmente silencioso.
É a calma antes da tempestade.
Esta semana pesquisadores anunciaram que uma tempestade está a chegar – o máximo solar mais intenso dos últimos 50 anos. A previsão chega de uma equipa liderada por Mausumi Dikpati, do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica (NCAR). “O próximo ciclo de manchas solares será de 30% a 50% mais forte do que o anterior”, afirma Dikpati. Se estiver correcta, nos anos seguintes poderá produzir-se uma explosão de actividade solar que ficará aquém apenas do máximo solar histórico de 1958.
Tal foi um máximo solar. A Era Espacial foi apenas o começo: o Sputnik foi lançado em Outubto de 1957 e o Explorer 1 (o primeiro satélite dos EUA) em Janeiro de 1958. Em 1958, não se poderia afirmar que estaria em andamento uma tempestade solar apenas por olhar para as barras do telemóvel: os telemóveis ainda não existiam. Ainda assim, as pessoas sabiam que algo de grandes dimensões estava a acontecer quando foram vistas auroras boreais em três ocasiões no México. Um máximo solar semelhante seria actualmente notado pelo seu efeito sobre os telemóveis, GPS, satélites meteorológicos entre muitas outras tecnologias modernas.
A previsão de Dikpati é inédita. Em quase dois séculos desde que o ciclo solar de 11 anos foi descoberto que os cientistas têm tentado prever as dimensões da próxima máxima solar, mas em vão. A máxima solar pode ser intensa, tal como em 1958, ou quase indetectável, tal como em 1805, não obedecendo a nenhum padrão óbvio.
A chave do mistério, descobriu Dikpati há alguns anos, é uma corrente transmissora existente no Sol.
Temos algo similar aqui na Terra, uma grande corrente transmissora oceânica, popularizada no filme de ficção científica “O Dia Depois de Amanhã“. É uma rede de correntes que transportam água e calor de oceano para oceano – Ver a imagem abaixo. No filme, a corrente parou, atirando o clima mundial para o caos.
A corrente transmissora do Sol é uma corrente não de água, mas de gás condutor eléctrico. Ela flui num loop do equador do Sol para os pólos e vice-versa. Assim como a Grande Corrente Ocêanica controla o clima da Terra, esta corrente transmissora solar controla o clima no Sol. Controla, especificamente, o ciclo de manchas solares.
O físico solar David Hathaway da National Space Science & Technology Center (NSSTC) explica: “Primeiro, lembre-se que as manchas solares são – nós cegos do magnetismo gerado pelo dínamo interior do Sol. Uma mancha solar típica existe durante apenas algumas semanas. Depois decresce, deixando para trás um ‘cadáver’ de campos magnéticos fracos.”
Entrando na corrente transmissora
“A parte superior da corrente transmissora passa levemente sobre a superfície do Sol, varrendo os campos magnéticos do passado, as manchas solares mortas. Os ‘cadáveres’ são arrastados para os pólos a uma profundidade de 200.000 km onde o dínamo magnético do Sol pode amplifica-los. Uma vez que os cadáveres (nós magnéticos) são reencarnados (amplificados), tornam-se vivos, animados e flutuam de volta até à superfície.” Manchas solares recém-adaptadas.
Tudo isto acontece de forma incrivelmente lenta. “Demora cerca de 40 anos para que a corrente complete um ciclo”, diz Hathaway. A velocidade varia “algures entre um ritmo de 50 anos (lento) a um ritmo de 30 anos (rápido)”.
Quando a corrente está a transformar-se de forma rápida, isso significa que estão a ser varridos para cima muitos campos magnéticos e que o próximo ciclo de manchas solares vai ser intenso. Esta é a base para a previsão: “O cinto estava a transformar-se rapidamente entre 1986 e 1996“, afirma Hathaway. “Campos magnéticos antigos que foram varridos nessa altura deverão voltar a aparecer como grandes manchas solares em 2010–2011.”
Tal como a maioria dos especialistas na matéria, Hathaway confia no modelo da corrente transmissora e concorda com Dikpati que o próximo máximo solar deverá ser poderoso. Mas discorda num aspecto. A previsão de Dikpati coloca o máximo solar em 2012. Hathaway acredita que irá chegar mais cedo, em 2010 ou 2011.
“A História mostra-nos que os ciclos das grandes manchas solares transformam-se mais rápido do que os das pequenas,” afirma ele. “Espero ver as manchas solares antes do aparecimento do próximo ciclo, no final de 2006 ou 2007 e o máximo solar em curso até 2010 ou 2011.”
Quem estará certo? Só o tempo o dirá. De qualquer forma, uma tempestade solar está a caminho.
Dr. Tony Philips
10 de Março de 2006
Fonte: NASA Science News
Artigo Original: http://science.nasa.gov/science-news/science-at-nasa/2006/10mar_stormwarning/