Durante o Século 20, muitos estadistas, como Woodrow Wilson e Winston Churchill, usaram o termo “Nova Ordem Mundial” para se referirem a um novo período da história, evidenciando uma mudança dramática no pensamento político mundial, e no equilíbrio do poder após a I e II Guerra Mundial. Todos viram nestes períodos, oportunidades para implementar propostas idealistas para a governação global no sentido de novos esforços colectivos resolverem os problemas mundiais, que vão além da capacidade de resolução de cada um dos Estados-nação, sempre respeitando o direito das nações à sua autodeterminação. Estas propostas levaram à criação de organizações internacionais, tais como as Nações Unidas, a NATO, e regimes internacionais, como o sistema de Bretton Woods e o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, que foram calculados tanto para manter um equilíbrio de poder em favor dos Estados Unidos, bem como para regularizar a cooperação entre as nações, a fim de alcançar uma fase pacífica do capitalismo. Estas criações em particular e o internacionalismo liberal no geral, seriam sempre criticados e contestados por americanos nacionalistas de negócios ultra-conservadores da década de 1930 pra cima.
No rescaldo das duas Guerras Mundiais, os progressistas acolheram estas novas organizações e regimes internacionais, mas argumentaram que sofriam de um défice democrático e, portanto, eram inadequadas, não só para impedir outra guerra mundial, mas também para promover a justiça global. A organização das Nações Unidas foi concebida em 1945 pelos banqueiros dos EUA e pelos planeadores do Departamento de Estado, e publicamente foi sempre a sua intenção, a de continuar a ser uma associação livre de Estados-nações soberanos, não uma transição para um governo mundial democrático. Assim, os activistas ao redor do globo formaram um movimento federalista mundial esperando em vão criar uma Nova Ordem Mundial “real”.
Na década de 1940, o escritor e futurista britânico H. G. Wells iria mais longe do que os progressistas, apropriando-se e redefinindo o termo “Nova Ordem Mundial” como um sinónimo para o estabelecimento de um Estado Mundial tecnocrático e de economia planificada. Apesar da popularidade de suas ideias em alguns círculos socialistas estatais, Wells não conseguiu exercer uma influência mais profunda e duradoura, porque era incapaz de concentrar as suas energias num apelo directo à intelligentsia que seriam, em última análise, os coordenadores de uma Nova Ordem Mundial “Wellsiana“.
Durante o Red Scare (Ameaça vermelha) de 1947–1957, agitadores de direita americana secular e cristã, influenciados pelo trabalho do teórico de conspirações canadiano William Guy Carr, começaram a adoptar e a espalhar cada vez mais temores (revelando-se estes, muitas das vezes infundados) acerca de Maçons, Illuminati e judeus, como sendo a força motriz por trás de uma “conspiração comunista internacional”. A ameaça do “comunismo ateu”, na forma de um Governo Mundial de Estado ateu e burocrático colectivista, demonizado como uma “ameaça vermelha”, que por isso se tornou no foco principal da teoria da conspiração milenar apocalíptica. O Alerta Vermelho iria moldar uma das ideias centrais do direito político nos Estados Unidos que é a que os liberais e progressistas, com as suas políticas de bem estar social e programas de cooperação internacionais, como a ajuda externa, supostamente contribuiriam para um processo gradual de colectivismo que conduziria inevitavelmente as nações a serem substituídas por um governo mundial comunista.
Na década de 1960, indivíduos populistas de direita e grupos com uma visão de mundo baseada no “Producerism” [1], tal como membros da John Birch Society, divulgaram uma grande quantidade de teorias da conspiração, alegando que os governos, tanto dos Estados Unidos como da União Soviética eram controlados por uma cabala de internacionalistas corporativos, banqueiros gananciosos e políticos corruptos, com a intenção de usar as Nações Unidas como o veículo para a criação de um “Governo Mundial“. Esta teoria da conspiração de extrema-direita anti-globalista iria alimentar a campanha Bircher para a retirada dos EUA da ONU. A escritora norte-americana Mary M. Davison, escreveu no seu livro de 1966 “A Revolução Profunda“, traçou o rasto da alegada conspiração da “Nova Ordem Mundial” até à criação do Sistema da Reserva Federal dos EUA em 1913 por banqueiros internacionais, alegando mais tarde terem formado o Conselho de Relações Externas (Council on Foreign Relations – CFR) em 1921, como uma sombra do governo. Na época em que o livro foi publicado, a expressão “banqueiros internacionais” foi interpretada por muitos leitores como uma referência ao postulado “conspiração internacional bancária judaica” arquitectada pelos Rothschilds.
Alegando que o termo “Nova Ordem Mundial” é usado por uma elite secreta dedicada à destruição de todas as soberanias nacionais, nos seus livros de 1971 “None Dare Call It Conspiracy” (Ninguém se atreve a chamar-lhe Conspiração), de 1974 “Rockefeller: Campanha para a Nova Ordem Mundial” e de 1987 “Diga “Não!” à Nova Ordem Mundial“, o escritor norte-americano Gary Allen, articulou o tema anti-globalista das grandes teorias da conspiração da direita populista actual dos EUA. Assim, após a queda do comunismo no início da década de 1990, o principal e demonizado bode expiatório da extrema-direita americana, passou dos cripto-comunistas que conspiraram em nome da “Ameaça Vermelha“, para globalistas que maquinam em nome da Nova Ordem Mundial. A natureza relativamente indolor da mudança, foi devido à crescente oposição da direita populista ao internacionalismo corporativo, mas também em parte ao paradigma apocalíptico milenar básico subjacente, que alimentou a Guerra Fria e a caça às bruxas no período de McCarthy.
No seu discurso de 11 de Setembro de 1990 “Rumo a uma Nova Ordem Mundial“, numa sessão conjunta com o Congresso dos EUA, o presidente George H.W. Bush, descreveu os seus objectivos para a governação global no pós-Guerra Fria em cooperação com os Estados pós-soviéticos:
«Até agora, o mundo que conhecemos tem sido um mundo dividido, um mundo de arame farpado e blocos de betão, conflito e guerra fria. Mas agora, podemos vislumbrar o nascimento de um novo mundo. Um mundo no qual há a perspectiva muito real de uma Nova Ordem Mundial. Nas palavras de Winston Churchill, uma “Ordem Mundial” na qual “os princípios de justiça e fair play … protegem os fracos em relação aos fortes …” Um mundo onde as Nações Unidas, libertam-se dos impasses da Guerra Fria, preparados para cumprir a visão histórica dos seus fundadores. Um mundo no qual a liberdade e o respeito pelos direitos humanos encontram uma casa em todas as nações.»
O The New York Times observou que os progressistas estavam a denunciar esta Nova Ordem Mundial como uma racionalização para as ambições imperiais americanas no Médio Oriente, enquanto os conservadores rejeitaram novas medidas de segurança e fulminaram completamente qualquer possibilidade de retomada na ONU. No entanto Chip Berlet, um repórter investigador americano especializado no estudo dos movimentos de extrema-direita nos EUA, escreveu:
«Quando o presidente Bush fez o anuncio de que a sua nova política externa seria ajudar a construir uma Nova Ordem Mundial, a sua declaração foi recebida pelos cristãos e seculares como um choque, uma vez que a frase tinha sido usada para representar o Governo Mundial, um colectivismo temido durante décadas. Alguns cristãos viram em Bush um sinal da traição de um líder mundial do Fim dos Tempos. Anti-comunistas seculares vislumbraram uma ousada tentativa de esmagar a soberania dos EUA e impor um sistema tirânico colectivista dirigido pela Organização das Nações Unidas.»
O evangelista de televisão americano Pat Robertson com o seu best-seller de 1991 “A Nova Ordem Mundial” tornou-se no divulgador cristão mais proeminente de teorias da conspiração, retratando a recente história americana como um teatro, no qual Wall Street, a Reserva Federal, o Council on Foreign Relations, o Clube Bilderberg, e a Comissão Trilateral controlam o fluxo de eventos por trás das cortinas, empurrando-nos constantemente e secretamente na direção de um Governo Mundial para o Anticristo.
Alguns observadores notaram que a galvanização à militância, dos teóricos da conspiração populistas de direita, tal como Linda Thompson, Koernke Mark e Robert K. Spear, levaram ao surgimento do movimento de milícia, que espalhou a sua ideologia anti-governo através de discursos em comícios, reuniões, livros e fitas de vídeo vendidas em feiras de armas, através de ondas curtas e ondas de rádio por satélite, e através de redes de fax e notificações no computador. No entanto, programas de rádio nocturnos em AM e propagandas virais na Internet foram o que mais contribuiu efectivamente para as suas ideias de política extremista sobre a Nova Ordem Mundial, descobrindo o seu caminho para a literatura anteriormente apolítica de muitos “assassinologistas” dos Kennedys, ovnilogistas, teóricos de terras perdidas, e, mais recentemente, os ocultistas. O apelo mundial destas subculturas, transmitiu assim as teorias da conspiração da Nova Ordem Mundial, como um “vírus da mente” para um novo e grande público de investigadores de conhecimentos estigmatizados em meados dos anos 1990. Shows de conspirações, thrillers de televisão e filmes de Hollywood também desempenharam o seu papel na introdução de uma vasta audiência popular de teorias marginais em vários aspectos relacionadas com a teoria da conspiração da Nova Ordem Mundial (helicóptero negro, “campos de concentração” da FEMA, etc), que anteriormente estiveram confinadas a subculturas radicais de direita durante décadas. A série de televisão de 1993–2002 “X-Files” (Ficheiros Secretos), o filme de 1997 “Teoria da Conspiração” e o filme de 1998 “The X-Files: Fight the Future” são frequentemente citados como exemplos notáveis.
Após a viragem do Século 20 para o Século 21, especialmente durante a crise financeira do final da década de 2000, muitos políticos e especialistas, tal como Gordon Brown e Henry Kissinger, usaram o termo “Nova Ordem Mundial“, em defesa de uma reforma abrangente do sistema financeiro global e para as suas exigências em relação a uma nova “Bretton Woods“, que levaria em conta os mercados emergentes, tal como a China e a Índia. Estas declarações tiveram a consequência não intencional de fornecer novos suplementos para a teoria da conspiração da Nova Ordem Mundial, e culminaram com o talk show de Sean Hannity a declarar no seu programa Hannity Fox News Channel que os “teóricos da conspiração estavam certos”. A Fox News, no geral, e o show de opinião de Glenn Beck em particular, têm sido repetidamente criticados por grupos de “vigilância” progressivos da imprensa, não só pela integração de teorias da conspiração da Nova Ordem Mundial da direita radicalista, mas também por eventualmente estarem assim a agitar os seus “lobos solitários” a partirem para a acção.
Em 2009, os realizadores americanos de cinema Lucas Meyer e Andrew Neel lançaram o “Nova Ordem Mundial“, um documentário aclamado pela crítica exploradora do mundo dos teóricos da conspiração – tal como o locutor de rádio americano Alex Jones –, que se comprometeram a expor e opor-se vigorosamente ao que entendem ser uma emergente Nova Ordem Mundial. A crescente disseminação e popularidade das teorias da conspiração criou uma aliança entre agitadores populistas de extrema-direita, como Alex Jones, e rappers de música hip-hop de esquerda populista, como KRS-One, o professor Griff dos Public Enemy e o Immortal Technique, o que ilustra bem como as teorias da conspiração anti-elitistas criam aliados políticos improváveis nos seus esforços para se oporem ao sistema político.
NOTA:
[1] Producerism, às vezes referido como “radicalismo produtor” é uma ideologia populista de direita que defende que os membros produtivos da Sociedade estarão a ser explorados por elementos parasitas tanto do topo, como do fundo da estrutura social e económica.
Índice da Nova Ordem Mundial: https://paradigmas.online/?p=2842